INTRODUÇÃO
Os pacientes com Doença Renal Crônica (DRC), submetidos à hemodiálise, correspondem a um grupo de indivíduos que apresentam uma série de complicações vinculadas à própria doença, bem como a terapêutica realizada. Dentre essas, destaca-se a presença marcante do diagnóstico de enfermagem Risco de infecção, o qual é frequentemente identificado nesses indivíduospelos estudos realizados sobre o assunto.1,2,3
Como fatores predisponentes à infecção nos pacientes submetidos à hemodiálise são citadosa água do dialisado, a qual, muitas vezes não é avaliada sua qualidade microbiológica, a presença de fístulas arteriovenosas, a própria realização da hemodiálise e do transplante renal, internações hospitalares, as infecções adquiridas na comunidade, uso prévio de antibiótico, utilização de cateter venoso central (tipo e duração) e uso do cateter de diálise peritoneal.4,5,6
Os pacientes submetidos à hemodiálise apresentam naturalmente uma imunidade deprimida em virtude da DRC, desnutrição, integridade da pele prejudicada, sobrecarga de ferro, idade avançada, anemia, as doenças crônicas como diabetes e hipertensão, alémda constante exposição desses pacientes ao tratamento hemodialítico e às intervenções médicas, fatores que elevam as chances para a ocorrência da infecção. Desse modo, verifica-se que embora a DRC seja uma doença que favoreça a imunossupressão crônica, a infecção é fruto de uma série de fatores predisponentes também relacionadas ao ambiente. Assim, percebe-se como papel fundamental da enfermagem nefrológica possuir conhecimento amplo acerca dos princípios do controle de infecção.2,6
No entanto, estudo revela que a equipe de enfermagem apresenta-se pouco aderente as medidas de prevenção e controle de infecção, problema que dificulta a execução dos protocolos operacionais preconizados pelas instituições, sendo relevante a educação permanente por meio de uma pedagogia crítica e reflexiva.7
Destarte, diante da problemática exposta, ressalta-se como relevante levantar os principais cuidados de enfermagem preconizados na prevenção da infecção em pacientes submetidos à hemodiálise, sendo imperante o conhecimento acerca desses cuidados, com vistas a propiciar um melhor atendimento da equipe de saúde, principalmente da enfermagem, a esses pacientes. Para tanto, traçou-se como objetivo identificar os cuidados de enfermagem direcionados à prevenção de infecção em pacientes submetidos à hemodiálise.
MÉTODOS
Trata-se de um estudo de revisão integrativa, operacionalizado em cinco etapas, a saber: identificação da questão de pesquisa, busca na literatura, avaliação dos dados, análise e síntese dos resultados.8
O estudo foi norteado pelo questionamento: quais são os cuidados de enfermagem destinadosà prevenção de infecção em pacientes em hemodiálise? Para a realização da busca dos artigos foram selecionadas as bases de dados SCOPUS, Web of Science, Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), National Library of Medicine andNattionalInstitutesof Health (PUBMED), COCHRANE e Cinhal, as quais foram acessadas com o servidor proxi privativo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Foram empregados os descritores indexados no MeSH, com um único cruzamento e o uso do operador booleano “AND”: Infection, Renal Dialysis e Nursing Care. Exceto na base de dados LILACS, na qual se utilizou os descritores indexados conforme o DeCS: Infecção, Diálise Renal e Cuidados de enfermagem.
O período de busca ocorreu no mês de junho de 2015. Ressalta-se que a busca em cada base foi esgotada em um único dia, sendo acessada simultaneamente por dois pesquisadores, a fim de garantir a seleção fidedigna do maior número de estudos pertinentes.
Como critérios deelegibilidade foram determinados os critérios de inclusão: artigos disponíveis na íntegra; artigos nos idioma português, inglês e espanhol; e que apontassem os cuidados de enfermagem direcionados para a prevenção de infecção em pacientes submetidos à hemodiálise. Como critérios de exclusão: cartas ao editor; editoriais; resumos; teses; e dissertações.
Desse modo, para a seleção, os artigos identificados nas bases tiveram seus títulos e resumos lidos inicialmente. Quando ambos não eram elucidativos, realizava-se a leitura flutuante do artigo completo, com vistas a identificá-lo como amostra para a análise. Essa seleção foi realizada por dois pesquisadores, os quais avaliaram por consenso o aceite de cada artigo para compor a amostra. Destarte, ao final, foram selecionados seis artigos, conforme apresenta fluxograma a seguir (Fig.).
Após a seleção dos estudos, cada um foi lido criteriosamente, com vistas à extração dos dados pertinentes. Para tanto, utilizou-se um instrumento construído pelas autoras, contendo os itens: ano de publicação, assunto do artigo, periódico, tipo de estudo, bem como o item referente aoscuidados de enfermagem no que concerne a prevenção de infecção em pacientes submetidos à hemodiálise, o qual foi sintetizado em um quadro sinóptico.
Para a análise dos resultados principais referente ao objetivo da revisão, construíram-se três categorias distintas, conforme as similaridades dos cuidados de enfermagem abordados pelos artigos, a saber: Cuidados de enfermagem direcionados ao acesso vascular para a prevenção de infecção em pacientes em hemodiálise, Cuidados gerais na prevenção de infecção em pacientes em hemodiálise e Políticas de vigilância na prevenção de infecção em pacientes em hemodiálise. Essas categorias foram discutidas de acordo comliteratura pertinente ao tema.
DESENVOLVIMENTO
Em relação ao ano de publicação, metade dos artigos apresentou-se atualizada, publicados nos últimos cinco anos.9,10,11 No que tange aos periódicos responsáveis pela publicação dos manuscritos, esses não continham revistas essencialmente de enfermagem, mas abrangiam a área da saúde de uma forma geral.9,10,11,12,13 Em relação ao tipo de estudo, três eram descritivos,9,12,13 um ensaio clínico randomizado,11) uma revisão sistemática10) e uma revisão da literatura.6
Referente aos cuidados de enfermagem na prevenção de infecção dos pacientes submetidos à hemodiálise identificados na literatura segue o quadro um abaixo (Quadro).
Legendas: *Cuidados gerais de enfermagem na prevenção de infecção na hemodiálise; **Cuidados de enfermagem ao acesso vascular para a prevenção de infecção na hemodiálise; ***Cuidados de enfermagem voltados às políticas de vigilância para a prevenção de infecção na hemodiálise.
Conforme o quadro acima expostopercebe-se que os artigos A, B, C, E trouxeram cuidados de enfermagem voltados para a prevenção de infecção do acesso vascular, principalmente o cateter venoso central. Nos artigos B, D, E, F identificou-se cuidados gerais na prevenção de infecção em pacientes em hemodiálise. Por fim, nos artigos B e D visualizaram-se cuidados direcionados às políticas de vigilância na prevenção de infecção em pacientes em hemodiálise.
Assim, diante das três categorias identificadas sobre a temática, a saber, cuidados gerais, cuidados direcionados ao acesso vascular e cuidados voltados às políticas de vigilância na prevenção da infecção na clientela pesquisada, os cuidados identificados serão discutidos conforme sua inserção em cada categoria.
Cuidados gerais de enfermagem na prevenção da infecção em pacientes em hemodiálise
Nessa categoria identificaram-se quatro artigos apontando dez cuidados gerais na prevenção de infecção em pacientes submetidos à hemodiálise.6,9,12,13Dentre esses, a higiene das mãos foi revelada como importante ação, entretanto, o tempo mínimo de lavagem não foi atribuída com tanta precisão pelos enfermeiros pesquisados. Assim, 29 % apontou que o tempo mínimo correspondia aos 15 segundos, 15 % afirmou que esse tempo deveria ser menor que 15 segundos e 56 % estipulou que o tempo mínimo deveria ser superior a 15 segundos.12
Diretriz aponta que a higiene simples das mãos deverá perdurar de 40 a 60 segundos.14) A contaminação das mãos é importante meio de transmissão de microrganismos, sendo a lavagem das mãos uma medida simples e de baixo custo para a redução de infecção relacionada às práticas assistenciais, no entanto, ainda possui pouca aderência pelos profissionais.15
Em relação ao cuidado uso de protetores de rosto, a utilização de máscaras foi relatada por 45 % dos enfermeiros, que a utilizavam antes e durante a punção da fístula arteriovenosa, 14 % a usavam durante os cuidados com o cateter venoso central e 9 % relatou que os pacientes usavam protetores faciais.12) A partir do exposto evidencia-se a aderência parcial desse dispositivo pelos enfermeiros nas unidades de hemodiálise.
O uso da máscara pelos profissionais, no cuidado em saúde, confere proteção aos pacientes em relação às gotículas liberadas pelos profissionais, as quais podem conter microrganismos, como também protege os próprios profissionais de eventuais exposições. Assim, compreende-se que existem ações que, em conjunto, constituem medidas de prevenção e controle de infecção intitulada de precauções padrão, as quais conferem uma maior segurança no cuidado ao paciente e são aplicadas a qualquer paciente. Dessa maneira, cita-se como componentes a higienização das mãos, a utilização correta de equipamento de proteção individual, como luvas, máscara, óculos e bata, manuseio correto de equipamentos contaminados, prática de trabalho segura, como o descarte adequado de materiais perfurocortantes, higiene respiratória e práticas seguras na administração de injeções.15
Outro cuidado apontado foi a realização do rastreamento de pacientes com Staphylococcus Meticilina resistente.9) Em estudo sobre práticas e rotinas em unidades de hemodiálise irlandesas, 90 % dos locais pesquisados realizava o rastreamento de pacientes com Staphylococcus Meticilina resistente, sendo considerado um aspecto importante na prevenção e controle de infecção em pacientes em diálise.9) A constante identificação de microrganismos resistentes tornou-se um problema de saúde pública, haja vista o aumento dos custos que essa problemática tem gerado e o risco de morbimortalidade.15
Dentre as medidas a serem adotadas, cita-se a análise da causa raiz para cada episódio de infecção, a partir da obtenção da coleta do agente infeccioso causador, com dois conjuntos de hemocultura em caso de suspeita de infecção antes da administração de antibióticos, controle do foco e início rápido do agente antimicrobiano.9,15) A não identificação das causas de infecção pode dificultar as medidas preventivas.9 10
Estudo aponta 12 passos para a prevenção da resistência aos antimicrobianos, a saber: vacinar os indivíduos e retirar os dispositivos invasivos quando não forem mais necessários; tornar os agentes patogênicos o alvo e contatar peritos quando preciso; utilizar criteriosamente os antimicrobianos; analisar dados do hospital sobre a resistência pregressa; tratar infecções e não colonizações; evitar a vancomicina; não utilizar antimicrobianos quando não for mais necessário; e por fim, para a prevenção da transmissão, identificar o patógeno e quebrar a cadeia de transmissão.15
Destaca-se ainda, como cuidado na prevenção de infecção, o aumento na proporção de enfermeiros por paciente, aumentando a quantidade de horas cedidas por dia no cuidado. Nessa pesquisa visualizou-se que apesar dos enfermeiros pesquisados terem seguido as recomendações de precauções universais preconizadas no cuidado do paciente em hemodiálise, com o uso de máscara, luvas, óculos de proteção, alteração de luvas após manipulação do paciente, lavagem de mãos antes do cuidado de cada paciente, limpeza e desinfecção das superfícies ambientais em cada estação de diálise e descarte de resíduos gerados em incinerador, houve uma maior prevalência de hepatite C e soroconversão nos indivíduos do grupo III, os quais apresentaram uma maior proporção de pacientes por enfermeiro, sendo fornecido menos horas de enfermagem por paciente ao dia (23,56 horas), enquanto que os grupos I e II apresentaram respectivamente 48 e 24 horas.13
Além disso, a partir da análise multivariada, identificou-se que as chances do grupo III sofrer soroconversão aumentaram em 9,8 vezes quando comparados ao grupo I (uma vez) e o grupo II (5,9 vezes). Esses dados apontam para a necessidade de uma melhor implementação de medidas para o controle de infecção aliado a um aumento na quantidade de enfermeiro por paciente, com vistas a fornecer melhor cuidado nessas unidades.13
O design de ambientes de cuidado renal também foi apontado como cuidado na prevenção de infecção.6 A Resolução nº 11 aponta que essas unidades deverão conter áreas necessárias para o desenvolvimento adequado de cada função requerida pela hemodiálise, como por exemplo: posto de enfermagem, sala de atendimento de emergência, local para armazenar os objetos dos pacientes e funcionários, banheiro para pacientes e funcionários, local para macas e cadeiras de rodas, local na sala para a lavagem das fístulas, sala para pacientes com hepatite B, sala para processamento dos dialisadores, local para armazenar os recipientes que acondicionam os dialisadores.16
Dessa maneira, observa-se nas normas preconizadas para o design de ambientes, que os locais estipulados visam à prevenção da infecção nesses pacientes, principalmente quando assinala locais para a lavagem de fístulas, já apontado como um dos cuidados na prevenção de infecção e a separação dos pacientes com hepatite B.
Outro cuidado consistiu na vacinação de profissionais da saúde e pacientes.6 Os pacientes submetidos à hemodiálise quando infectados pelo vírus da hepatite B são considerados reservatórios desse vírus, sendo veemente indicada à vacinação ao se iniciar a hemodiálise. Entretanto, pesquisa assevera que dos 102 pacientes submetidos à hemodiálise investigados, apenas 40 apresentavam registro de vacinação em prontuário, dos quais 36 possuíam esquema vacinal completo e quatro apresentavam esquema incompleto.17
Em relação à vacinação dos profissionais que atendem essa clientela e, portanto, possuem risco de contaminação por microrganismos nocivos, 91,6 % dos profissionais avaliados, dentre médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem, apresentaram o esquema de hepatite B completo. Todavia, relativo ao quesito conhecimento sobre o assunto, identificou-se pouca informação, com destaque para o tópico formas de transmissão, em que apenas 51,8 % consideraram os acidentes ocupacionais como uma forma potencial de transmissão.18) Essa realidade poderá influenciar na transmissão cruzada entre pacientes, bem como entre pacientes e profissionais, sendo relevante educação permanente acerca da temática nessas unidades.
Por fim, cita-se o gerenciamento de dispositivos médicos,6 os quais podem ser capazes de armazenas infinitos tipos de microrganismos distintos. Destaca-se a formação de biofilmes nesses artefatos, sendo bastante comum sua formação em cateteres, sendo primordial o cuidado durante a inserção, fixação, troca e antissepsia.19
Cuidados de enfermagem direcionados ao acesso vascular para a prevenção de infecção em pacientes em hemodiálise
Nessa categoria, identificaram-se quatro artigos,9,10,11,12) apontando 11 cuidados de enfermagem na prevenção de infecção ao paciente em uso de acesso vascular para a realização de hemodiálise.
Para que essa terapêutica se efetue, faz-se necessária a instalação de um acesso vascular, com o intuito de manter o paciente conectado à máquina de hemodiálise. Dessa maneira, como características desse acesso aponta-se o fluxo apropriado, um acesso durável, sem complicações e de fácil instalação no paciente. Para tanto, destacam-se as fístulas arteriovenosas (FAV) como exemplo de acesso com essas particularidades.20
Para a confecção da FAV, sua implantação deve ocorrer anteriormente à obrigatoriedade do tratamento hemodialítico, pois para seu funcionamento pleno, o período de maturação deverá perdurar por no mínimo 30 dias, de forma a atingir diâmetro e fluxo condizentes para o tratamento, evitando-se a necessidade de cateteres. O uso de cateteres anteriormente à instalação da fístula aumenta a probabilidade de falência desse tipo de acesso vascular, além disso, o uso desse artefato pode danificar o sistema venoso desses pacientes, impossibilitando a confecção da fístula.20
Nesse âmbito, estudo aponta que, apesar da fístula diminuir os riscos para a infecção, 50 % dos pacientes ainda utiliza o cateter venoso central para a realização de hemodiálise.9
Ademais, os estudos sobre a prevenção de infecção em pacientes submetidos à hemodiálise apontam que a maioria dos cuidados estão voltados para a clientela em uso de cateter venoso central.9,10,11,12) Essa realidade pode estar relacionada ao uso mais frequente desse dispositivo por esses pacientes, como também devido ao maior índice de infecção associada ao cateter. Em conformidade com esse pensamento, estudo assevera que taxas de bacteremia são regularmente identificadas em pacientes com acesso venoso, sendo ressaltados os cateteres em detrimento das fístulas.9
Pacientes em uso de cateter venoso central possuem 11,2 vezes maior chance de desenvolver infecção quando comparados aos indivíduos que utilizam fístulas arteriovenosas. A infecção decorrente do uso de cateter para a hemodiálise está principalmente atrelada à formação do biofilme proveniente da pele do paciente; como também à infusão de solução contaminada e até de mãos contaminadas dos profissionais que manuseiam esse cateter.4,5
Assim, são assinalados como cuidados de enfermagem voltados para cateteres venosos centrais à higiene do local de inserção do acesso vascular com iodopovidona ou clorexidina.12) Contudo, embora a limpeza dos locais de saída do cateter e seus tubos com solução antisséptica seja recomendada, ainda imperam incertezas nos tipos de produtos a serem utilizados.9 Diretrizes apontam que o local de inserção do cateter deverá ser limpo com clorexidina alcoólica 0,5 % a 2 %.21
Para a limpeza da ponta do cateter e tubos, estudo assinala o uso de clorexidina 2 % em álcool isopropílico 70 % como solução antisséptica.9) Diretrizes recomendam que a higienização prévia das mãos com água e sabão para a manipulação do cateter e a desinfecção das conexões deverá ocorrer por meio de soluções com álcool, o qual deverá ser friccionado por no mínimo três movimentos.21
A utilização de políticas, protocolos e diretrizes para os cuidados e a manutenção do cateter venoso central, como a higiene das mãos, inspeção do local de inserção, antissepsia da pele e uso de clorexidina na descontaminação do cateter deverá ser destacada. O emprego de pacotes de cuidado tem sido defendido na Irlanda desde 2009, entretanto, até atualmente algumas unidades ainda não o utilizam nas práticas do cuidado.9
Em relação ao cuidado de enfermagem relacionado ao uso de bloqueio de etanol, uma vez por semana, em cateter tunelizado de hemodiálise, estudo verificou que o uso dessa substância é considerado uma intervenção eficaz e potencialmente segura, conferindo uma redução nos índices de infecção e aumento da permanência do cateter quando comparado ao uso de heparina. Embora os dados não tenham apresentado estatísticas significativas, o estudo concluiu que o etanol é barato, não tóxico e possui ação bactericida, com potencial para diminuir a infecção associada ao uso de cateteres.11
Outro cuidado de enfermagem apontado nos estudos refere-se à avaliação regular das taxas de bacteremia quando o paciente está em uso do acesso venoso central.9) Sabe-se que a infecção da corrente sanguínea é uma das principais infecções atreladas à assistência prestada pelos profissionais, sendo que 60 % das bacteremias estão associadas a algum artefato intravascular, principalmente os cateteres venosos centrais. Além disso, possui grande relação com o aumento do índice de mortalidade, maior tempo na internação e gera maiores custos hospitalares.21
Corroborando ao estipulado acima, estudo destaca incidência de 61 % para a infecção da corrente sanguínea em pacientes em uso de cateter venoso central para a hemodiálise, sendo os fatores de risco atrelados à implantação do cateter na veia jugular, tempo de permanência do cateter e de internação, com taxa de mortalidade de 29 %.22
O uso de pomada tópica antimicrobiana no local de saída do cateter venoso central, principalmente as substâncias mupirocin, polysporin e iodopovidona foram indicadas como cuidados de enfermagem.10) Diretriz recomenda a utilização dessas substâncias para os cateteres de hemodiálise especificamente. Todavia aponta a mupirocina como uma pomada com maior risco para o desenvolvimento de resistência bacteriana, além de ser incompatível com os cateteres de poliuretano.21) Nesse aspecto, reconhecer os materiais incompatíveis com o acesso central para evitar sua degeneração é apontado como outro cuidado de enfermagem a ser realizado.12
Revisão sistemática revela que as pomadas antimicrobianas, utilizadas como agentes profiláticos contra a infecção do cateter venoso central, como as citadas acima, são responsáveis por reduzir o risco de infecção associado ao cateter. O uso da mupirocina reduz significativamente o risco de bacteremia, além de reduzir o risco de infecção pelos Estafilococos Aureus no sítio de saída do cateter, bem como sua retirada precoce e episódios de hospitalização. A polysporin reduz a bacteremia relacionada ao cateter, o risco de remoção, episódios de hospitalização e possui efeito significativo em todas as causas de mortalidade. A iodopovidona diminui o risco de infecção no sítio de saída do cateter e a bacteremia associada.10
Aponta-se como cuidado de enfermagem a utilização de curativo transparente semipermeável de poliuretano para cobrir a saída de cateter venoso central. Embora seja indicado o uso desse tipo de cobertura para cateteres, estudo revelaque essa cobertura quando comparada à gaze seca não existe diferença na reduçãodo risco de infecção em sítio de saída dos cateteres venosos centrais ou bacteremia.9) Diretriz recomenda e destaca o uso de ambas as coberturas na inserção do cateter.21
Cita-se, ainda, o uso de luvas estéreis no cuidado dos cateteres.12) Estudo assevera que a prática de utilização de barreira de proteção, como o uso de luvas estéreis, capote e máscaras confere prevenção de infecção ao paciente e ao profissional.23
Referente aos cuidados à fístula arteriovenosa, estudo relata que antes da punção venosa, a antissepsia deverá ser realizada com álcool a 70 % por no mínimo 60 segundos.12) Corroborando com o supracitado, pesquisa sobre o processo antisséptico realizada com doadores de sangue revela que a antissepsia em sítio de punção venosa com a substância supracitada é considerada eficaz quando há fricção correta do algodão na pele, associada ao tempo de ação e volatilização do álcool, sendo um mínimo de 40 fricções e um tempo de 30 segundos para a secagem do álcool.24
Em estudo sobre o assunto, 65 % dos enfermeiros utilizavam para a antissepsia de pele, antes da punção da fístula arteriovenosa, álcool a 70 %, 24 % dos entrevistados utilizavam iodopovidona a 10 % e 9 % citou uma variedade de outras soluções.12) Assim, percebe-se que a maioria adere ao recomendado pelas diretrizes, no entanto, ainda verifica-se parte desses profissionais utilizando outros tipos de soluções.
Outro cuidado relacionado à fístula esteve relacionado ao aconselhamento dos pacientes sobre lavar suas fístulas antes da sessão de hemodiálise.12) Nesse aspecto, em estudo sobre o autocuidado dos pacientes em hemodiálise acerca dos cuidados com a fístula arteriovenosa foi identificado que 73,3 %relataram como medida importante a higiene do membro antes da hemodiálise, entretanto, observou-se que nem todos realizavam esse cuidado.25
Assim, percebe-se a importância das práticas de educação em saúde realizadas pelos enfermeiros nessas unidades. Porém, observa-se que geralmente essa prática é aplicada aleatoriamente e de modo fragmentado, prejudicando o ensino sobre as melhores medidas de cuidado.25) Destarte, compreende-se a importância da implementação de programas educacionais nos centros de cuidado, com vistas a instituir capacitações aos profissionais e garantir a adesão aos cuidados necessários na inserção e manejo dos cateteres. Trata-se, portanto, de um desafio tendo-se em vista a necessidade de mudanças no comportamento dos profissionais e do número de profissionais atuantes.21,22)
Políticas de vigilância na prevenção de infecção em pacientes em hemodiálise
Como cuidados de enfermagem nessa categoria identificaram-se dois: implementar um programa de vigilância de infecção e vigilância e auditoria de práticas e procedimentos.6,9) Estudo aponta que 72 % dos enfermeiros de uma unidade de hemodiálise haviam recebido educação em controle de infecção e 92 % afirmaram que em sua unidade havia uma política de controle de infecção.12
Entretanto, estudo evidenciou que, atualmente, há uma falta de consenso e inconsistências em relação às diretrizes do controle de infecção. Sabe-se que a normatização das orientações é de suma importância, pois impede a confusão e incoerências dos enfermeiros sobre o assunto.12) Outra pesquisa revelou que 63 % das instituições implementam um programa de vigilância de infecção, e a ausência de programas como esse dificultam a prevenção de infecção, podendo estar relacionados à falta de recursos materiais e humanos.9
Garantir ao enfermeiro conhecimento sobre microbiologia e o uso de diretrizes recomendadas para o controle de infecção é essencial para a segurança do paciente, com vistas a minimizar o risco de infecção em unidades de hemodiálise. Desse modo, adotar uma política nessas unidades sobre o controle de infecção permite uma abordagem consistente e auxilia na redução de dualidades no que tange as orientações relacionadas a esse propósito.12
Destarte, revisões e atualizações das políticas nas unidades de hemodiálise devem ser constantemente realizadas, sendo crucial que os profissionais de enfermagem recebam treinamento de modo que seja assegurado o conhecimento das políticas da instituição sobre o controle de infecção. Assim, faz-se necessário que os profissionais sejam informados e envolvidos no processo de utilização da política, sendo fundamentais revisões frequentes dessas, com o intuito de garantir a atualização conforme as melhores práticas.12
Dessa forma, as práticas realizadas no que tange a hemodiálise concernente à prevenção e o controle de infecção são baseados em evidências, no entanto, existem recomendações expostas pelas diretrizes que merecem serem revistas e aplicadas nesse cuidado.9
CONCLUSÕES
Os principais cuidados de enfermagem direcionados à prevenção de infecção nos pacientes submetidos à hemodiálise estão relacionados ao acesso vascular, especialmente, o cateter venoso central. Encontraram-se também cuidados mais gerais que influenciam na ocorrência de infecção e cuidados voltados às diretrizes e políticas na prevenção de infecção.
Como contribuições deste estudo ressalta-se a verificação de práticas de cuidado que podem ser facilmente realizadas pelo enfermeiro e sua equipe, favorecendo a assistência isenta de erros e propiciando um cuidado mais seguro ao paciente submetido à hemodiálise. Dessa forma, os resultados encontrados nesta revisão podem ser extrapolados a todos os pacientes submetidos à hemodiálise.
Como limitação deste estudo identificou-se um quantitativo diminuto de estudos com alto nível de evidência. Dessa forma, é imperativa a realização de pesquisas com foco em intervenções com melhores níveis de evidência, com vistas a possibilitar um cuidado direcionado ao paciente em hemodiálise em risco para infecção.