INTRODUÇÃO
As doenças cardiovasculares constituem a principal causa de morte mundial, sendo consideradas um grave problema de saúde pública.1 A interceptação a longo prazo dessas doenças requer a prevenção e o controle dos fatores de risco cardiovascular (FRCV) em todas as fases do ciclo de desenvolvimento humano e em diferentes grupos sociais.2)
Sabe-se que fatores de risco adquiridos na infância e na juventude podem perdurar até a fase adulta,(³) e no início dessa fase, em particular com o ingresso na universidade, os estudantes passam por mudanças que podem condicionar a exposição a um ou vários FRCV.2,4
Essas mudanças, evidenciadas durante o período de formação, estão associadas à extensa carga horária em sala de aula, no campo de estágio,5 nas atividades extracurriculares, de pesquisa e de extensão6 e podem influenciar a adoção de comportamentos de risco à saúde.7,8,9,10,11,12
A entrada no ensino superior caracteriza-se, muitas vezes, pela saída do estudante do âmbito familiar, tornando-o responsável pela sua moradia, alimentação e gestão das finanças.13 Assim, manter um estilo de vida saudável pode tornar-se um desafio frente às novas responsabilidades inerentes às demandas acadêmicas e ao novo contexto socioambiental em que estão inseridos.13,14
A escolha por refeições pré-preparadas, produtos industrializados, fast-food, lanches à base de doces, chocolates e biscoitos é justificada pelo tempo limitado e falta de dinheiro,14 e até mesmo pelas preferências dos estudantes.13 Ademais, nem sempre existe fácil acesso a alimentos saudáveis e a custos favoráveis no ambiente universitário.
Os elevados índices de inatividade física entre os universitários têm sido demonstrados em pesquisas nacionais e internacionais.3,5,11 Há evidências de que a extensa carga horária dos universitários, relacionada com as atividades curriculares e extraclasses, interferem no tempo e na disposição dos estudantes para à prática da atividade física13) e na adoção de outros hábitos de vida saudáveis.5
Nesse sentido, já está estabelecido que a associação entre o aumento da ingesta calórica e a inatividade física pode predispor a manifestação de alterações no perfil lipídico e da obesidade, resultado esse já constatado em estudo com universitários.15
Portanto, apesar de existir muitos estudos que investigaram os hábitos de vida dos estudantes universitários,5,15,16 ainda são poucos os que exploraram esses hábitos em recém-ingressantes na universidade.3,5,12,17 Além disso, a identificação de comportamentos de risco, logo no início da vida acadêmica, poderá subsidiar o planejamento e implementação de intervenções no decorrer do curso3,11,14) as quais poderão refletir na adoção efetiva de comportamentos saudáveis.
Diante da importância da promoção da saúde, prevenção, tratamento e controle precoce dos FRCV e das repercussões destes para a saúde pública e qualidade de vida dos universitários, delimitou-se como objetivo deste estudo descrever o perfil alimentar, clínico e o padrão de atividade física em ingressantes universitários de enfermagem.
MÉTODOS
Estudo de natureza quantitativa, transversal, descritivo, realizado com ingressantes de um curso de graduação em enfermagem de uma universidade pública, localizada no município de Salvador, Bahia, Brasil.
A população do estudo foi constituída pelos 206 ingressantes nos semestres letivos de 2013.1 a 2014-2, conforme demonstrado do figura. Foi estabelecida uma amostragem não probabilística por conveniência, sendo a amostra formada por 119 universitários que aceitaram participar do estudo e atenderam aos critérios de inclusão: estar matriculado e cursando até o segundo mês do primeiro semestre letivo do curso, idade mínima de 18 anos e ambos os sexos. Excluiu-se os que concluíram ou frequentaram outro curso universitário na área da saúde, desesmestralizados no curso e impossibitados de realizar medidas antropométricas.
Os estudantes foram abordados pela pesquisadora até o segundo mês de ingresso no curso, em sala de aula. Nesse momento, foram esclarecidos sobre os objetivos e a importância da pesquisa, procedimentos a serem realizados, benefícios e riscos da participação no estudo. Posteriormente, foi solicitada a sua participação e dadas orientações sobre o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Foram utilizados os seguintes instrumentos para a coleta de dados:
1. Caracterização sociodemográfica: constituído por perguntas fechadas e abertas sobre sexo, idade, raça/cor autodeclarada, renda familiar mensal e estado civil.
2. Avaliação dos hábitos alimentares: baseado no proposto pelo Programa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (VIGITEL),18 o qual incluiu questões fechadas referentes ao consumo de legumes, vegetais, frutas, carnes, massas, doces, sal e refrigerantes, assim como sobre a forma de preparo dos alimentos.
3. Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ), versão longa, com perguntas relacionadas à frequência, duração e intensidade das atividades físicas desenvolvidas no trabalho, no deslocamento, nas atividades domésticas e no tempo livre, além do tempo gasto sentado. O IPAQ permite classificar o nível de atividade física em muito ativo, ativo, insuficientemente ativo e sedentário, de acordo com o escore obtido.19,20
4. Perfil clínico: constituído de itens para registro dos valores da pressão arterial, glicemia de jejum, perfil lipídico e das medidas antropométricas (peso, altura, índice de massa corpórea (IMC), circunferência da cintura (CC), do quadril (CQ) e a razão cintura/quadril (RCQ).
A coleta de dados aconteceu em dois encontros agendados conforme a disponibilidade dos estudantes. No primeiro momento, aplicou-se o questionário referente a caracterização de dados sociodemográficos e hábitos alimentares. No segundo, foi realizada a aferição da pressão arterial, a avaliação antropométrica seguida da aplicação do IPAQ, mediante entrevista, visando minimizar vieses reportados na autoaplicação. Para obtenção das variáveis lipídicas e da glicemia de jejum utilizou-se os resultados dos exames laboratoriais solicitados pelo serviço médico da instituição, no ato da matrícula do ingressante na universidade.
Os dados foram coletados individualmente, em sala específica na universidade para garantir a privacidade do estudante. Participaram da coleta de dados quatro enfermeiras, as quais foram treinadas para assegurar a padronização dos procedimentos.
Na determinação das medidas antropométricas os estudantes usaram roupas leves e retiraram acessórios e sapatos. O peso corporal foi medido em quilograma, por meio de uma balança digital scale, model TEC 30 da marca Techline ® , aferida pelo Instituto de Metrologia (InMetro), com variação de 0,1 kg. A altura foi medida em metros, com a utilização de estadiômetro portátil da marca Alturexata ® , acoplado a uma base, graduada a cada 0,5 cm.21
A CC foi medida na posição ortostática utilizando-se uma fita flexível não elástica com precisão de 0,1 cm. A fita foi aplicada horizontalmente no ponto médio entre o rebordo costal e a crista ilíaca ântero-superior.22 Para a medida da CQ a fita métrica circundou a protusão máxima do quadril. A RCQ foi determinada pela divisão da CC pela CQ, ambas em centímetros.23 Para classificação da RCQ utilizou-se os parâmetros de Heyward e Stolarczyk24,25 segundo idade e sexo.
Antes da medição da pressão arterial, os estudantes ficaram 10 minutos em repouso e esvaziaram a bexiga, quando necessário. Realizou-se a medida do braço em comprimento e circunferência, para seleção do tamanho de manguito. A pressão foi medida três vezes, na posição sentada, com um intervalo de 2 minutos entre as medidas, utilizando-se o medidor automático OMRON 705 CP ® . Calculou-se a média das três medidas.24
Os dados foram analisados por meio do software SPSS, versão 20.0, utilizando-se frequências absolutas e relativas, médias e desvio-padrão.
A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Enfermagem da Universidade Federal da Bahia, sob protocolo n.º nº 353.038, e está vinculada ao Projeto Matriz “Fatores de risco cardiovascular em graduanda(os) de enfermagem: implicações para o cuidado em saúde”.
RESULTADOS
A idade média dos 119 estudantes foi de 20,7 anos (dp= 4,2; min.= 18 e max.=48). Predominaram sexo feminino (88,23 %), solteiros (94,95 %), autodeclarados negros (85,71 %) e renda familiar mensal de 3 a 5 salários mínimos (46,21 %) seguida de até dois salários mínimos (28,57 %).
Referente aos hábitos alimentares, a maioria consumia feijão/leguminosas e verdura/legume menos que três dias/semana, sendo o consumo de saladas prevalente no almoço. O consumo de frutas/suco foi maior em 3 dias/semana, predominando o de uma a três frutas/suco por dia. Foi mais frequente o consumo de carne vermelha, frango e peixe em menos que cinco dias/semana e ovos de uma a três vezes/semana, bem como realizava mais de três refeições/dia. Maior proporção de universitários consumia refrigerante em até três vezes na semana, em quantidade inferior a três copos/dia, comia pizzas/massas e bolos/doces em até dois dias na semana, menos que três fatias/dia e não adicionava sal ao alimento preparado e não utilizava produtos para substituí-lo (Tabela 1).
VARIÁVEIS | n | % |
---|---|---|
Feijão/ leguminosas | ||
< 5 dias/semana | 62 | 52,10 |
≥ 5 dias/semana | 57 | 47,89 |
Verdura/legume | ||
< 5 dias/semana | 81 | 68,07 |
≥ 5 dias/semana | 38 | 31,93 |
Consumo de salada | ||
No almoço | 108 | 90,75 |
No jantar | 1 | 0,84 |
No almoço e jantar | 8 | 6,72 |
Não consome | 2 | 1,68 |
Frutas/suco | ||
< 3 dias/semana | 37 | 30,25 |
≥ 3 dias/semana | 82 | 68,90 |
Nunca | 1 | 0,84 |
Quantidade de frutas/ suco | ||
1 a 3/dia | 78 | 65,54 |
≥ 3/dia | 37 | 31,09 |
Nunca | 4 | 3,36 |
Carne vermelha | ||
≥ 5 dias/semana | 21 | 17,64 |
< 5 dias/semana | 93 | 78,15 |
Não consume | 5 | 3,86 |
Frango | ||
≥ 5 dias/semana | 37 | 31,09 |
< 5 dias/semana | 80 | 67,22 |
Não consome | 2 | 1,68 |
Peixe | ||
≥ 5 dias/semana | 1 | 0,84 |
< 5 dias/semana | 93 | 78,15 |
Não consome | 25 | 21,00 |
Quantidade de refeições/dia | ||
≤ 3 refeições | 49 | 41,17 |
> 3 refeições | 70 | 58,83 |
Refrigerante | ||
< 3 dias/semana | 45 | 37,81 |
≥ 3 dias/semana | 28 | 23,53 |
Nunca | 46 | 38,66 |
Copos de refrigerante/dia | ||
< 3 copos | 56 | 47,06 |
≥ 3 copos | 19 | 15,97 |
Nunca | 44 | 36,97 |
Ovos | ||
1 a 3 dias/semana | 96 | 80,67 |
Não consome | 23 | 19,33 |
Bolos/doces | ||
1 a 2 dias/semana | 83 | 69,75 |
≥ 3 dias/semana | 30 | 25,21 |
Não consome | 6 | 5,04 |
Fatias de bolo e doces/dia | ||
< 3 fatias/dia | 84 | 70,59 |
≥ 3 fatias/dia | 19 | 15,97 |
Não consome | 16 | 13,44 |
Pizzas/massas | ||
1 a 2 dias/semana | 92 | 77,31 |
≥ 3 dias/semana | 19 | 16,97 |
Não consome | 8 | 6,72 |
Fatias de pizza e massas/dia | ||
< 3 fatias/dia | 92 | 77,31 |
≥ 3 fatias/dia | 19 | 16,97 |
Não consome | 8 | 6,72 |
Quantidade de sal adicional na comida/dia | ||
≤ 1 colher de café | 13 | 10,92 |
> 1 colher de café | 21 | 17,65 |
Não adiciona | 85 | 71,43 |
Utiliza produto para substituir o sal | ||
Sim | 34 | 28,57 |
Não | 85 | 71,43 |
N=119
Predominou o consumo de frango na forma assada, cozida ou grelhada, no entanto, o peixe e a carne vermelha eram mais frequentemente preparados de todas as formas. Maior proporção de universitários retirava o excesso de gordura/pele das carnes (Tabela 2).
Quanto ao perfil lipídico e glicêmico predominou colesterol total alto, LDL-c elevado, HDL-c baixo e glicemia de jejum normal. Não houve estudantes com elevação dos triglicerídeos (Tabela 3).
A maioria dos estudantes era insuficientemente ativo e sedentário em todas as seções do IPAQ e apresentaram comportamento sedentário evidenciado pelo tempo gasto sentado, conforme ilustra a tabela 4.
Notou-se a predominância de estudantes com CC recomendada, IMC normal, risco moderado/muito alto para RCQ e níveis de pressão arterial nos limites da normalidade (Tabela 5).
DISCUSSÃO
Os universitários eram predominantemente mulheres, solteiros e adultos jovens, perfil prevalente nos cursos das universidades federais brasileiras, sobretudo em curso de Enfermagem.5 A maioria autodeclarou-se negro, fato associado à realização do estudo em Salvador-BA, cidade com a maior população de descendentes africanos, e pertencia a famílias cuja renda mensal era de baixa a média.
Evidenciou-se baixo consumo de feijão e verduras/legumes. Ademais, os universitários que consumiam salada o faziam apenas em uma refeição no dia. Embora a frequência de consumo de frutas/sucos tenha sido adequada para mais de dois terços, a quantidade consumida por dia foi baixa. Assim, os estudantes não estão se beneficiando da redução do risco para doenças cardiovasculares advindo do consumo de três porções diárias desses alimentos.15,16
A praticidade correlacionada à falta de tempo influencia na escolha de alimentos não saudáveis pelos universitários.15 Consumo insuficiente de feijão, verduras/legumes e frutas pode ter relação com a substituição deles por alimentos industrializados e de rápido preparo.8
Quanto ao consumo de carnes, observou-se maior proporção para frango, seguida de carne vermelha e peixe. Resultados semelhantes foram encontrados em estudo com universitários de enfermagem, cujo consumo de carne e frango foi três vezes maior que de peixe.26 As carnes magras e brancas devem ser consumidas pelo menos duas vezes por semana, pois tem em sua composição pequenas quantidades de gordura saturada.
A forma de preparo dos alimentos é um marcador de alimentação saudável, já que aqueles com alto teor de gordura e fritos favorecem o excesso de peso e a aterosclerose.1,15 Entretanto, proporção relevante de estudantes optou por todas as formas de preparo, apesar de retirarem o excesso de gordura das carnes.
Os ingressantes realizavam mais de três refeições/dia. As principais refeições café da manhã, almoço e jantar devem ser intercaladas por lanhes saudáveis, pois as dietas variadas e fracionadas oferecem aporte adequado de macro e micronutrientes26 e reduzem o risco de câncer e doenças cardiovasculares.1 Comportamento semelhante foi identificado com outros universitários.17
Mais da metade dos universitários consumia pizzas/massas, bolos/doces em frequência e quantidade aceitáveis. A maioria consumia refrigerante, até três vezes na semana e em quantidade menor que três copos/dia. Ainda que o consumo desses alimentos possa ser considerado aceitável, devem ser evitados e estimulado o consumo de frutas/sucos, pois doces e refrigerantes possuem alto teor de açúcar favorecendo o surgimento de cáries e excesso de peso.8,26
Muitos estudantes adicionavam sal à comida preparada e utilizavam produtos para substituí-lo. O combate ao uso excessivo de sal deve ser enfatizado, pois está associado à elevação da pressão arterial e indivíduos normotensos com alta sensibilidade ao sal tem maior chance de desenvolver hipertensão arterial. A retirada do saleiro da mesa, a substituição de molhos prontos industrializadas por temperos naturais e a redução da quantidade de sal no preparo de alimentos devem ser recomendadas. Deve-se enfatizar que o consumo é de até 5g de sal ou 2g de sódio por dia, o que equivale a menos de uma colher de chá rasa de sal.27
Quanto aos lípides, o HDL-c é uma lipoproteína antiaterogênica que em níveis recomendados promove a proteção endotelial com a inibição da formação das placas ateroscleróticas.1 Todavia, níveis baixos foram constatados para 33,7 % dos estudantes. Em menor proporção foi identificado nível alto de colesterol total (4,2 %) e LDL-c alto ou limítrofe (16,9 %). A prevalência desses achados foi maior em estudos nacionais e internacionais com universitários.28,29
Os resultados do IPAQ revelaram maior proporção de universitários com comportamento insuficientemente ativo/sedentário em todos os domínios. Outros autores também identificaram a prevalência desse comportamento em universitários de diferentes semestres e cursos.9,10,13
O baixo nível de atividade física ao ingressar na universidade causa preocupação considerando que aumenta com o avançar da idade26 e em veteranos comparados a calouros.3,9,10
Ter baixo nível de atividade física contribui para elevar as taxas de mortalidade associada à ocorrência de doenças crônicas, como diabetes mellitus, osteoporose, câncer e, sobretudo, as doenças cardiovasculares.1 Estudos já comprovaram os inúmeros benefícios da atividade física regular,1,27 incluindo redução dos níveis da pressão arterial e do peso corporal, aumento da força muscular, melhora do condicionamento cardiorrespiratório, controle da glicemia, redução do LDL-c e do colesterol total.27
Diversos são fatores associados à inatividade física, como nível socioeconômico, gênero e contextos socioambientais. O uso excessivo de tecnologias, como computadores, jogos de vídeo, internet, celular e televisão também contribuem para que os estudantes se dediquem menos à atividade física no seu tempo livre.13,26
No meio acadêmico, o tempo dedicado às aulas na universidade é um fator que influencia no prolongado tempo gasto sentado,3,5,13 o qual foi um indicador de comportamento sedentário para quase a totalidade dos estudantes, corroborando com outros estudos.6,13
Além disso, as barreiras sociais como a falta de dinheiro, a necessidade de trabalhar durante a graduação6 e o alto índice de violência urbana e a falta de locais públicos disponíveis para essa prática favorece o sedentarismo entre os jovens.9
Neste estudo, o excesso de peso foi identificado em quase um terço dos estudantes, sendo esses achados superiores aos encontrados em estudantes de Enfermagem de uma Universidade em João Pessoa, PB, no qual 17,9 % apresentaram sobrepeso e 10,7 % Obesidade.5 A proporção de estudantes com CC e RCQ elevada foi também superior ao identificado em calouros da área da saúde.14 Assim, em diferentes cursos de graduação em saúde a exposição ao excesso de peso acarreta maior predisposição às doenças crônicas não transmissíveis.30
Evidenciou-se em 5,8 % dos universitários valores limítrofe e alto de pressão arterial. Níveis elevados de pressão arterial estão relacionados à maior incidência de morbidades, como doenças cardiovasculares, doença renal e periférica.27 Esses resultados evidenciaram a necessidade de monitoramento da medida da pressão arterial, tanto para a prevenção quanto para o controle dos níveis pressóricos, considerando a multicausualidade de fatores e curso assintomático da doença.27
Constatou-se nos resultados que grande proporção de estudantes ingressou na universidade com hábitos alimentares inadequados, comportamento sedentário e excesso de peso. Nesse sentido, a promoção da saúde, a prevenção e controle de agravos crônicos devem ser enfatizados em todos os níveis da formação escolar e continuada durante a formação acadêmica, fase em que comportamentos não saudáveis podem ser potencializados. O enfermeiro pode contribuir sobremaneira para assegurar o conhecimento adequado sobre as medidas de prevenção e controle dos FRCV e para a valorização de novos modos de vida, por meio de ações de educação em saúde pautadas na integralidade do cuidar.
Em conclusão, proporção expressiva de universitários tinham comportamento alimentar pouco satisfatório, com baixo consumo semanal de feijão, frutas/sucos, verduras/legumes e carnes brancas, sobretudo peixe. Em frequência semanal superior ao recomendado, identificou-se para mais de um quarto da amostra consumo de refrigerantes e doces. Proporção relevante de estudantes utilizava todas as formas de preparo dos alimentos e acrescentava sal à comida preparada.
Pequena proporção de universitários apresentou níveis limítrofes e altos para pressão arterial e elevados para glicemia capilar. A prevalência de obesidade visceral, excesso de peso e de comportamento sedentário foi elevada.
O estudo subsidia a implementação de políticas e ações públicas voltadas aos universitários visando a prevenção e o controle dos FRCV durante a formação acadêmica. Estratégias devem ser adotadas na Universidade para estimular a prática de atividade física e da alimentação saudável.
Nesse sentido, deve ser assegurado pela Universidade espaços que ofereçam alimentação saudável e favoreçam a prática de atividade física. Ademais, docentes do curso de graduação podem propor ações de educação em saúde junto aos universitários objetivando a valorização de comportamentos saudáveis, empregando atividades lúdicas, artísticas e fórum de debates, entre outros.
As ações voltadas para a prevenção e controle dos FRCV devem ser instituídas de forma coletiva e individual, destacando-se o papel do enfermeiro como mediadora do processo de conscientização e valorização das mudanças nos modos de viver dos diferentes grupos populacionais.
Recomenda-se que a investigação seja ampliada para os demais semestres do curso de enfermagem e de outras áreas de formação acadêmica. Estudos de intervenção junto aos estudantes poderão permitir avaliar a mudança de comportamentos de risco a saúde.
O estudo apresenta limitações, a amostragem de conveniência e o estudo transversal, que não permite inferir causalidade dos resultados.