Introdução
No início dos anos 1970, a Síndrome de Burnout (SB) surgiu nos Estados Unidos da América, também descrita como um distúrbio social da era moderna, que envolve a relação que as pessoas têm com seu trabalho e as dificuldades que podem surgir quando esse relacionamento não é bom, geralmente ocorre entre pessoas com empregos no campo humano. É uma síndrome psicológica em resposta a estressores interpessoais crônicos no local de trabalho. Pode ser expressa como a incapacidade de lidar com o estresse emocional no trabalho ou como o uso excessivo de energia e recursos que leva a sentimentos de fracasso e exaustão.1
A importância de detectar essa síndrome está em algumas das repercussões profissionais significativas, na diminuição da satisfação do paciente, no aumento de erros médicos, nas consequências pessoais do abuso de substâncias e na depressão.1
O SB tem sido positivamente relacionado a várias manifestações psicofisiológicas que afetam negativamente a saúde física e mental do trabalhador. Nesse sentido, desde os anos noventa, os fatores organizacionais se tornaram mais relevantes para explicar o SB, como sobrecarga de trabalho, vida noturna, ambiguidade de papéis, estrutura organizacional, coesão do grupo com os trabalhadores, etc.2
Clinicamente, o burnout é o estado atingido pelo trabalhador em resposta aos estressores crônicos do trabalho. Na perspectiva psicossocial, é uma consequência da interação dinâmica entre o indivíduo e seu ambiente de trabalho; o burnout tem sua origem no trabalho e não no trabalhador. Esse aspecto é importante para focar sua prevenção e tratamento, identificando as fontes de estresse e atuando sobre elas e não direcionando a atenção apenas para o indivíduo.3
Nas últimas décadas, o mundo do trabalho passou por uma importante transformação nos diferentes contextos trabalhistas, o que significou a abordagem de políticas que incluem novas formas de organização do trabalho e divisão de tarefas que priorizam a maximização da produtividade de uma maneira geral. Novo mundo globalizado. As condições atuais de trabalho, como resultado desse contexto, representaram para a maioria dos trabalhadores diferentes desafios, condições precárias de trabalho e baixo orçamento para enfrentá-los, o que impactou a saúde física, mental e emocional dos trabalhadores, em particular através do sofrimento como estresse no trabalho negativo.4
A síndrome de Burnout pode se manifestar na falta de motivação, interesse e responsabilidade das pessoas em relação ao desempenho de seu trabalho; também podem desencadear repercussões físicas, como doenças crônico-degenerativas em trabalhadores que sofrem com isso, incluindo hipertensão, diabetes e distúrbios psicológicos, além de ataques cardíacos.4
O presente estudo foi realizado com o objetivo de identificar a presença da Síndrome de Burnout em estomatologistas da Clínica Universitária de Especialidades Estomatológicas “Manuel Cedeño”.
Métodos
Um estudo transversal, descritivo, observacional foi realizado em estomatologistas da Clínica Universitária de Especialidades Estomatológicas “Manuel Cedeño”, em Bayamo, Granma, entre setembro e outubro de 2019, com autorização prévia da gerência do centro (Anexo 1). A população do estudo foi de 73 estomatologistas selecionados pelo método aleatório simples.
Incluídos na investigação: estomatologistas com consentimento informado (Anexo 2) e que foram encontrados na instituição no período avaliado. Foram excluídos os estomatologistas que estavam fora do centro para obter atestados médicos, licenças, férias ou missão; estomatologistas que não aceitaram o questionário de avaliação serão aplicados.
Para o estudo das variáveis, foi utilizado o Questionário: Escala de Maslach para Síndrome de Burnout (Anexo 3).5 O questionário foi aplicado pela manhã em um ambiente silencioso e com ar condicionado, todos os entrevistados sentados sem proximidade um do outro e com um planejamento ordenado sem aglomeração de profissionais. A duração foi de 10 a 15 minutos e três subescalas foram medidas: fadiga emocional, despersonalização e realização pessoal.
1. Fadiga emocional: consiste em nove perguntas (1, 2, 3, 6, 8, 13, 14, 16, 20); valorizam a experiência de estar emocionalmente esgotado pelas exigências do trabalho. Baixo: 0-18 pontos. Médio: 19-26 pontos. Alta: 27-54 pontos. É positivo quando a avaliação é superior a 26. Pontuação máxima: 54.
2. Despersonalização: consiste em cinco itens (5, 10, 11, 15, 22). Avalie o grau em que cada um reconhece atitudes de frieza e distanciamento. Baixo: 0-5 pontos. Médio: 6-9 pontos. Alto: 10-30 pontos. É positivo quando a avaliação é superior a 9. Escore máximo: 30.
3. Realização pessoal: consiste em 8 perguntas (4, 7, 9, 12, 17, 18, 19, 21). Avalie sentimentos de auto-eficácia e realização pessoal no trabalho. Baixo: 0-33 pontos. Médio: 34-39 pontos. Alta: 40-56 pontos. É positivo quando a avaliação é inferior a 34.
A integridade dos dados obtidos no estudo foi realizada de acordo com os princípios éticos para a pesquisa médica em seres humanos estabelecidos na Declaração de Helsinque, alterada pela 52ª Assembléia Geral em Edimburgo, Escócia, em outubro de 2000. O estudo foi aprovado pelo Conselho Científico da Clínica Universitária de Especialidades Estomatológicas "Manuel Cedeño". Os valores éticos levados em consideração correspondem aos princípios básicos mais importantes na ética da pesquisa com seres humanos, listados a seguir: respeito à pessoa, beneficência, justiça e não maleficência.
Para o processamento das informações, foi elaborado um banco de dados no Microsoft Excel 2007. Foram utilizadas medidas estatísticas descritivas para o resumo das informações, em número e porcentagem.
Resultados
A tabela 1 mostra a fadiga emocional como uma subescala, que foi baixa em 57,53 % dos estomatologistas avaliados, seguida por 26,02 %.
A tabela 2 indica que os estomatologistas pesquisados apresentaram despersonalização baixa e média com 49,31 % e 39,72 %, respectivamente.
A tabela 3 reflete que 84,93 % dos entrevistados apresentaram alta realização pessoal, seguidos pelo nível médio (12,32 %) e baixo (2,73 %).
Discussão
O termo Burnout refere-se a um tipo de estresse no trabalho gerado especificamente nas profissões que envolvem um intenso relacionamento interpessoal com os beneficiários de seu próprio trabalho. A abordagem psicossocial pressupõe que Burnout é uma síndrome de exaustão emocional, despersonalização e baixa realização ou realização pessoal no trabalho. Destes três fatores, destacou-se que a despersonalização é o elemento-chave do fenômeno, uma vez que se considera que tanto a diminuição da conquista pessoal quanto a fadiga emocional podem ser encontradas em outras síndromes depressivas, mas, no entanto, seria a despersonalização que manifestação específica de estresse nas profissões assistenciais.6
Ao avaliar a subescala de fadiga emocional, obteve-se que a maioria dos estomatologistas apresentou um nível baixo, seguido pelo nível alto, resultados que foram tomados como ponto de partida para a análise psicológica da presença ou não da síndrome em estudo e estratégias de ação oportuna dos quadros da instituição.
Esses resultados coincidem com os de Arias-Gallegos e colaboradores,7 que relatam que a população estudada apresentou leve cansaço ou fadiga emocional em 17,1 % dos sujeitos. Não coincide com Vidotti e colaboradores8 porque a fadiga emocional foi alta em sua população; e sobre a Síndrome de Burnout, afirmam que é uma doença caracterizada por um conjunto de sintomas que denotam a exaustão do trabalhador, manifestada por falta de energia física e mental (exaustão emocional), perda de interesse no trabalho (despersonalização) e sentimentos de auto-desvalorização (desempenho profissional reduzido). As consequências da síndrome são terríveis para o indivíduo e para a organização, pois, devido à diminuição da saúde biopsicossocial, ocorrem absentismo, presentismo, insatisfação no trabalho e aposentadoria precoce, além de colocar em risco a segurança dos pacientes.
Os autores referem que a fadiga emocional é a representação psicológica de uma exaustão que leva o trabalhador a passar por um estágio de desapontamento profissional, uma vez que, em geral, os profissionais de saúde convivem com um desgaste “constante” e demandas trabalhistas, porém no estudo realizado, os estomatologistas apresentaram baixo nível de fadiga emocional, atribuível à organização do trabalho da instituição onde o plano de trabalho individual é discutido com os líderes e equilibra as tarefas fundamentais como atendimento, ensino e aperfeiçoamento, este último com prioridade constante na unidade.
Mesmo quando os resultados dessa subescala foram favoráveis, não revela que há uma parte dos profissionais que apresenta fadiga emocional alta, para a qual devem ser tomadas ações administrativas que permitam a esses trabalhadores identificados um melhor status de trabalho do que facilite a obtenção de um estado emocional sem fadiga.
A despersonalização na população estudada se comportou com baixos níveis, resultados que não coincidem com os de Sarmiento Valverde,9 uma vez que refere que a dimensão despersonalização foi encontrada em alto nível em 33,6 % dos entrevistados, porém coincide com os de Wilson Donet,10) pois essa subescala foi baixa em 77,77 %.
os autores deste estudo referem que a despersonalização é uma alteração da percepção ou expressão de uma pessoa, de tal maneira que a pessoa se sente separada dos processos mentais e pode se tornar um distúrbio dissociativo (como o transtorno mental) na pessoa. Os indivíduos que experimentam despersonalização sentem-se separados do mundo, da identidade e da existência física. Os resultados obtidos incentivam os autores sobre o estado dos estomatologistas, porém há um número de profissionais em risco por se qualificarem com um nível médio com o qual precisam trabalhar do trabalho ao mental.
A subescala de conquista pessoal mostrou um alto nível na grande maioria dos entrevistados, resultados que não coincidem com os de Ugalde-Vicuña e colaboradores,5 porque apontam que a conquista pessoal foi de 77,3 % com baixa valorização, o que significa que eles são vulneráveis ao SB. Sim, eles coincidem com Rogério Silva e colaboradores (11) e Carlotto.12
Os autores deste estudo acreditam que, embora existam poucos estudos sobre o SB em estomatologistas, o estudo permitiu uma avaliação mental dos trabalhadores a partir de sua posição profissional. Os resultados sobre a realização pessoal são atribuídos ao fato de que na instituição os estomatologistas têm apoio incondicional na melhoria por parte dos gestores da clínica e da universidade, uma vez que, desde os cursos de pós-graduação, os cursos de diploma são realizados constantemente e existe um planejamento coordenado. A universidade para que os estomatologistas continuem a melhoria, o que permitiu que, em um curto período de tempo, dezoito estomatologistas dos avaliados obtivessem a categoria de especialistas de segundo grau, onze de mestrado, superando na categoria de ensino no trânsito de instrutor para assistente e trabalho com jovens estomatologistas na formação pré-doutoral.
Os autores deste estudo referem que a Síndrome de Burnout é uma resposta prolongada do organismo a fatores estressantes, emocionais e interpessoais, que ocorrem no trabalho e incluem fadiga crônica, ineficiência e negação do que aconteceu.
O estudo revelou que a maioria dos estomatologistas não apresentou o SB, embora devamos trabalhar com quem o apresenta, esses resultados não coincidem com os de Carlotto e colaboradores,13 pois relatam que os estressores que previram a síndrome de Burnout em sua população foram: conteúdo e organização do trabalho, tipo de serviço público, ambiente social, condições físicas das dependências e horário de funcionamento, trabalho, carga horária, relacionamento com superiores e relacionamento com colegas, para que a população estudada o apresentasse.
Os autores apontam que precisamente, dentre os múltiplos fatores envolvidos na incidência de SB, os fatores de risco psicossociais são os mais relevantes, uma vez que condições de trabalho extenuantes geram estresse no trabalho que, ao se tornar crônico, desencadeia a sintomatologia.
Os resultados desta pesquisa coincidiram com os de Arias,14 porque a síndrome de Burnout foi apenas a 5,2 % dos entrevistados. Também coincidem com Claro González e colaboradores (15 e Flumignan-Zétola e colaboradores (16.
A sintomatologia da exaustão que surge é extraordinariamente diversa: a exaustão pode ser descrita como uma condição baseada no esgotamento prolongado das energias de um indivíduo, caracterizada por exaustão emocional, realizações pessoais reduzidas e sentimentos de inadequação e despersonalização.17
Situações estressantes de trabalho estimulam a resposta Hipotálamo Hipófise Adrenal, levam à resistência à insulina e consequentemente ocorre produção excessiva de cortisol. O aumento nos níveis de cortisol liberado, por sua vez, relaciona a estimulação do hormônio adrenocorticotrófico liberado pela glândula pituitária, o que leva a um aumento quantitativo de energia disponível para situações estressantes ao redor do SB.18
Embora os estomatologistas não apresentassem a síndrome em sua maioria, uma parte considerada importante para os autores a apresentou, para a qual, como parte das estratégias, foi coordenada a assistência dos diagnosticados ao Serviço de Psicologia do Hospital General Universidade “Carlos Manuel de Céspedes y del Castillo”, a favor de um ambiente psicológico que garanta que os profissionais não sofram de doenças mentais ou físicas, dizem os autores, que as estratégias envolvem o desenvolvimento de uma melhor saúde física e mental, onde o autocuidado Isso é fundamental. Para evitar o Burnout, é necessário realizar atitudes positivas e a satisfação no trabalho é uma delas.
Os autores desta pesquisa afirmam que a maneira mais apropriada de alcançar o bem-estar mental é o desenvolvimento de uma vida saudável, estabelecida por realizações claras e concretas, como dormir o suficiente, atividade física regular, estabelecer hobbies, relacionamentos interpessoais significativos e o uso de técnicas de relaxamento, como respiração diafragmática, meditação e imaginação guiada. Alcançar essas realizações favorecerá a auto-observação, o que, por sua vez, permitiria ao trabalhador estar ciente e detectar os comportamentos que influenciam a aparência do SB.
Conclui-se que os estomatologistas da Clínica Universitária de Especialidades Estomatológicas “Manuel Cedeño” apresentam baixo nível de fadiga emocional e despersonalização, uma alta realização pessoal que permitiu à maioria não apresentar a Síndrome de Burnout.