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Revista Cubana de Enfermería

versión On-line ISSN 1561-2961

Rev Cubana Enfermer vol.30 no.3 Ciudad de la Habana jul.-set. 2014

 

ARTÍCULO ORIGINAL

 

Características ambientais e ocupacionais do trabalho docente da rede estadual de um município brasileiro

 

Características ambientales y ocupacionales de la enseñanza de trabajo de la red estadual de un municipio de Brasil

 

Environmental and occupational characteristics of the teaching practice of the state net of a brazilian municipality

 

 

Lélia Renata Carneiro Vasconcelos, Saulo Vasconcelos Rocha, Jefferson Paixão Cardoso, Sonia Martins Teodoro

Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Brasil.

 

 


RESUMO

Introdução: estudos realizados nas últimas décadas apontam uma grave situação no que diz respeito ao ambiente de trabalho docente.
Objetivo: descrever as características ambientais e ocupacionais do trabalho docente da rede estadual do município de Jequié – BA.
Métodos: estudo seccional com amostra de 300 professores da rede estadual de ensino. Para coleta de dados utilizou-se questionário padronizado, com informações sobre características sociodemográficas e referentes ao ambiente de trabalho físico e organizacional. Os dados foram analisados utilizando procedimentos da estatística descritiva como média, desvio padrão e frequência simples e relativa.
Resultados: a média de idade dos entrevistados foi de 39 (DP=10,18) anos, sendo a maioria do sexo feminino.Com relação às características ambientais as queixas predominantes foram nos aspectos referentes à luminosidade inadequada (84,8 %), seguida pela temperatura (77,4 %), mobiliário (68,3 %) e acústica (61,7 %). O desgaste na relação professor-aluno foi o aspecto mais referido dentro das questões organizacionais do trabalho (55,7 %). A insatisfação com a profissão chega a atingir 40 % dos entrevistados.
Conclusões:
o ambiente laboral insalubre pode comprometer a qualidade do trabalho prestado e desencadear patologias temporárias ou definitivas. Os dados mostram necessidade de maior atenção por parte dos gestores públicos para adequação do ambiente de trabalho dos professores às necessidades aqui apontadas a fim de oferecer segurança e bem-estar no trabalho, além prevenir complicações de saúde e absenteísmo.

Palavras clave: Docentes; ciências do ambiente; exposição ocupacional; saúde ambiental.


RESUMEN

Introducción: estudios realizados en las últimas décadas apuntan a una grave situación de irrespeto en el ambiente del trabajo docente.
Objetivo: describir las características ambientales y ocupacionales del trabajo docente el la red estadual del município de Jequié – BA.
Métodos: estudio seccional con una muestra de 300 profesores de la red estadual. Para la colecta de datos se utilizó un cuestionario estandarizado con informaciones sobre características sociodemográficas y referentes al ambiente de trabajo físico y organizacional. Los datos fueron analizados utilizando procedimentos de estatística descriptiva como media, desviación estándar y frecuencias simple y relativa.
Resultados: la media de edad de los entrevistados fue de 39 (DP=10,18) años, siendo la mayoría del sexo femenino. Con relación a las características ambientales, las quejas predominantes fueron en los aspectos referentes a la iluminación inadequada (84,8 %), seguida por la temperatura (77,4 %), mobiliario (68,3 %) y acústica (61,7 %). El deterioro en la relación profesor-alumno fue el aspecto más referido dentro de las cuestiones organizacionales del trabajo (55,7 %). La insatisfacción con la profesión llegó a alcanzar 40 % de los entrevistados.
Conclusiones: el ambiente laboral insalubre puede comprometer la calidad del trabajo que se proporciona y desencadenar patologías temporales o definitivas. Los datos muestran la necesidad de una mayor atención por parte de los gestores públicos para la adecuación del ambiente de trabajo de los profesores con las necesidades aquí apuntadas, a fin de ofrecer seguridad y bienestar en el trabajo y prevenir complicaciones de salud y ausentismo.

Palabras clave: docentes; ciencias del ambiente; exposición ocupacional; salud ambiental.


ABSTRACT

Objective: To describe the environmental and occupational characteristics of the teaching practice of the state net from Jequié - BA.
Methods: Sectional study with sample of 300 teachers of the teaching state net. To data collection used a standardized questionnaire, questions about sociodemographic characteristics and regarding environment of physical and organizational work. The data were analyzed using descriptive statistics procedures as mean, standard deviation and simple and relative frequency.
Results: The average age of respondents was 39 (DP = 10.8) years With relation to environmental characteristics the predominant complaints were in the aspects regarding to inadequate luminosity (84.8 %), followed by temperature (77.4 %), furniture (68.3 %) and acoustics (61.7 %). Other aspects drawbacks to physical environmental of teaching practice were reported in smallest proportion. The wear on the teacher-student relationship was the most referred aspects within the organizational questions of the work (55.7 %). The dissatisfaction with the occupation arrives to reaches 40 % of respondents. Conclusions: The unhealthy labor environment can compromise the quality of the provided work and initiate temporary or definitive pathology. The data show necessity of greater attention by part of public managers to suitability the workplace of teachers to needs pointed here in order to offer security and well-being at work, beyond prevent health complications and absenteeism.

Key words: Teachers, environmental science, occupational exposure, environmental health.


 

 

INTRODUÇÃO

Estudos realizados nas últimas décadas apontam uma grave situação no que diz respeito ao ambiente de trabalho docente, tanto com relação a infra-estrutura das escolas, escassez de equipamentos e manutenção dos mesmos, quanto questões psicoemocionais e organizacionais como recursos humanos insuficientes, indisciplina dos alunos, falta de compromisso dos pais no acompanhamento pedagógico, aumento das demandas de trabalho, refletindo em pressões de tempo, alto volume de atribuições burocráticas, número elevado de alunos por turma, baixos salários, desvalorização profissional. Soma-se a isso as exigências constantes de qualificação profissional que muitas vezes não suprem as necessidades dos docentes perante o novo cenário de ensino.1-4

No Brasil, poucas são as referencias sobre as condições do ambiente de trabalho escolar. Torna-se necessário desenvolvimento de estudos que caracterizem o ambiente de trabalho docente, considerando as questões ergonômicas (sejam de ordem física, organizacionais ou cognitivas), a fim de empregar ações sustentáveis no ambiente trabalho escolar e favorecer o processo de ensino.

Este estudo propõe-se a investigar as características ambientais e ocupacionais do trabalho docentes da rede estadual de ensino.

 

MÉTODOS

Trata-se de um estudo epidemiológico seccional, realizado na cidade de Jequié-BA. A amostra do estudo foi composta por 303 participantes que representam 42,32 % do total de professores, selecionados de forma aleatória em todas as escolas da rede estadual de ensino no município.

Como instrumento de coleta foi utilizado questionário auto aplicável com perguntas retiradas de instrumentos já validados e utilizados em outros estudos contendo quatro blocos de questões sobre: a) Características sociodemográficas (sexo, idade, peso, altura, cor da pele, situação conjugal, escolaridade); b) Característica do trabalho (tempo de trabalho na profissão, carga horária de trabalho semanal, número de turmas e de alunos); c) Características do ambiente de trabalho (estrutura física do ambiente de trabalho e as condições climáticas); d) Características organizacionais do trabalho (questões referentes à convivência no ambiente e relações interpessoais).

Para análise dos dados foram utilizados procedimentos da estatística descritiva (média, desvio padrão, frequência simples e relativa). O presente projeto foi submetido à apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - CEP/UESB (protocolo nº 209/2009), com solicitação de assinatura do Termo de Livre Consentimento Esclarecido aos participantes.

 

RESULTADOS

Dos professores entrevistados, 72,7 % da população era do sexo feminino. A média de idade dos docentes foi de 39,11 anos (DP=10,18), variando entre 19 a 69 anos. A maioria relatou viver com companheiro (62,2 %), e referiram ter cursado o ensino superior (85,5 %). A renda média mensal, durante o ano de 2011, foi de R$ 2001,74 reais (DP=1072), variando entre 460,00 e 5.600,00.

O tempo médio de trabalho na docência foi de 14,07 anos (DP=9,69) variando entre menos de um e 40 anos. Ainda com relação às características ocupacionais, prevaleceram os indivíduos com carga horária acima de 20 horas/semanais, com vínculo de trabalho efetivo e que trabalhavam exclusivamente em escolas da rede estadual (Tabela 1). O desgaste na relação professor/aluno foi o aspecto mais referido dentre as características organizacionais (55,7 %), seguida pelo número elevado de alunos (Tabela 1).

 

A tabela 2 mostra os apontamentos dos professores com relação às características físicas do ambiente de trabalho. Os condicionantes mais referidos foram luminosidade, principal queixa nesta investigação (84,8 %), e desconforto térmico devido excesso de calor (77,4 %).

DISCUSSÃO

Com relação às características organizacionais do trabalho, as mais relatadas foram desgaste da relação professor-aluno seguida pelo numero elevado de alunos e pressão da direção da escola referida em menor número. Tais características favorecem o desenvolvimento de estresse ocupacional e contribui para percepção negativa de sua saúde física e mental.5,6 A indisciplina, a falta de respeito à autoridade do professor e descaso dos pais que ocorre com frequência, são outras variáveis citadas, o que reforça a discussão com relação à situação da profissão.7 Neste contexto, um percentual considerável dos docentes (40,3 %) relata insatisfação com o desempenho de suas atividades, podendo supor que todos os aspectos aqui discutidos contribuem para este quadro, favorecendo o desgaste da profissão, e o estresse profissional. Contudo, a satisfação na profissão ainda é experimentada pela maior parcela dos professores e remete ao lado positivo e prazeroso de ensinar. A satisfação na vida profissional está relacionada ao menor índice de adoecimento e afastamento,8 o que denota a importância do bem-estar no trabalho.

A luminosidade, a acústica, sensação de calor e o mobiliário foram apontadas como inadequadas pela maioria dos professores. A acústica ruim promove desgaste excessivo e desnecessário para o trabalhador e compromete a capacidade de concentração e raciocínio. O professor utiliza a voz de forma prolongada e excessiva, que concomitante à exposição acústica desfavorável culmina em efeitos deletérios ao aparelho vocal. Além disso, a maioria dos professores utiliza a voz de forma incorreta e extrapola seus limites na tentativa de compensar fatores dispersantes na sala de aula como presença de ruído de fundo, o que traz risco de disfonia.9 Elevado número de relatos de desconforto de garganta foram registrados entre professores de educação física.10 Problemas de saúde decorrentes do ruído estão sendo objetos de interesse crescente no âmbito da saúde pública.11

A luminância foi a principal queixa entre as características ambientais demonstrando a necessidade urgente de adequação deste fator na maioria das escolas estaduais.12 A iluminação adequada nos ambientes de trabalho é fundamental no sentido de exercer efeito positivo no rendimento, na segurança e na saúde do trabalhador.13

Além da iluminação, a sensação térmica é um fator importante para manutenção da concentração e atenção nas atividades de ensino, como mostrou um trabalho realizado com estudantes em Santa Catarina.14

Nota-se a complexidade da abordagem ergonômica do ambiente de trabalho e a necessidade do empenho multidisciplinar suplementando conhecimentos na tentativa de obter a situação mais favorável ao bem estar do trabalhador. O ambiente escolar precisa estar condizente as necessidades dos trabalhadores e dos estudantes, considerando acessibilidade, segurança, entre outros fatores que exigem diferentes olhares para alcançar ambiente saudável e confortável.

Este estudo possui limitações peculiares a abordagem transversal de estudo, e refere-se à características de escolas de um município do estado da Bahia, o que limita a extrapolação dos dados para outras populações.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Gama ACC. Sintomas relacionados à voz e sua produção e autopercepção vocal após alta do tratamento fonoaudiológico: estudo prospectivo. Distúrbios da Comunicação 2010;22(3):201-11.

2. Gonçalves ASR. Prazer e sofrimento no trabalho de docentes da saúde em Universidade Pública da Região Amazônica. Programa de Pós-Graduação. Brasil: Universidade Federal de Santa Catarina–Florianópolis; 2010.

3. Instituto Brasileiro de Pesquisas Espaciais (INPE). [Acesso em Mar 28 2015]. Disponível em http://tempo.cptec.inpe.br/

4. Reis EJFB, Araújo TM, Carvalho FM, Barbalho L, Silva MO. Docência e exaustão emocional. Educ Sociedade. 2004;27(94):229-53.

5. Rocha KB, Sarriera JC. Saúde percebida em professores universitários: gênero, religião e condições de trabalho. Rev. Sem. Associação Bras. Psicologia Escolar e Educacional (ABRAPEE). 2006;10(2):187-96.

6. Pereira EF, Teixeira CS, Andrade RD, Silva-Lopes A. O trabalho docente e a qualidade de vida dos professores na educação básica. Revista de Salud Pública. 2014;16(2):221-31.

7. Karmann DF; Lancman S. Professor - intensificação do trabalho e o uso da voz. Audiol. Commun. Res., São Paulo. 2013;18(3):1-7.

8. Felden Pereira E; Teixeira C.S; Andrade RD. Silva-Lopes, A. Elementary school teachers and their quality of life. Revista de Salud Pública 2014; 16(2):212-22.

9. Gama ACC. Adesão a orientações fonoaudiológicas após a alta do tratamento vocal em docentes: estudo prospectivo. Revista CEFAC, São Paulo. 2012;14(4):714-20.

10. Palma A, Mattos UAO, Almeida MN, Oliveira GEMC. Nível de ruído no ambiente de trabalho do professor de educação física em aulas de ciclismo indoor. Rev. Saúde Pública. 2009;34(2):345-51.

11. Azevedo AP; Marata TC, Okamato VA, Santos UP. Ruído – um problema de saúde pública (outros agentes físicos). In: BUSCHINELLI JTP, ROCHA LE, RIGOTTO RM, organizadores. Isto é trabalho de gente? Vida, doença e trabalho no Brasil. Petrópolis: Vozes; 1994. p.403-35.

12. Rio RP, Pires L. Ergonomia: fundamentos da prática ergonômica 3 edição. Belo Horizonte: Healt;2001.

13. Kilesse R, Fernandes HC, Souza AP, Minette LJ, Teixeira MM. Avaliação de fatores ergonômicos em postos de trabalho de motoristas de caminhões utilizados no meio agrícola. Engenharia na Agricultura. Viçosa, MG. 2006;14(3):202-11.

14. Bassi I. Características clínicas, sociodemográficas e ocupacionais de professoras com disfonia. Distúrbios da Comunicação, São Paulo. 2011;23(2):173-180.

 

 

Recibido:24 de diciembre de 2013.
Aprobado: 14 de enero de 2014.

 

 

Lélia Renata Carneiro Vasconcelos. Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Departamento de Saúde, Núcleo de Estudos em Saúde da População- Avenida José Moreira Sobrinho, SN, Jequiezinho- Jequié/BA – Brasil. CEP 84520000. Fone: (073) 30460142
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