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Revista Cubana de Enfermería

versión On-line ISSN 1561-2961

Rev Cubana Enfermer vol.33 no.4 Ciudad de la Habana oct.-dic. 2017  Epub 01-Dic-2017

 

Artículo de revisión

Produção científica sobre as contribuições fenomenológicas para o estudo da Tanatologia na enfermagem

Producción científica sobre las contribuciones fenomenológicas de enfermería para el estudio de la Tanatología

Fabiana Lopes Joaquim1  *  , Rose Mary Costa Rosa Andrade Silva1  , Alessandra Conceição Leite Funchal Camacho1  , Sérgio Henrique Silva Melo1  , Eliane Ramos Pereira1 

1Universidade Federal Fluminense/UFF. Niterói (RJ), Brasil.

RESUMO

Introdução:

a intervenção do cuidado passa diretamente pela compreensão, reflexão, analise de como o profissional da enfermagem percebe o fenômeno do processo de morte/morrer.

Objetivo:

analisar as produções científicas desenvolvidas pela enfermagem que abordam a temática tanatologia.

Métodos:

estudo de revisão integrativa, de característica crítica e retrospectiva. Estratégia de busca: utilização da palavra-chave “fenomenologia” e descritores “enfermagem”, “cuidados paliativos” e “tanatologia”. A busca ocorreu nas bases: MEDLINE; LILACS; BDENF e SCOPUS. Critérios de inclusão: artigos disponibilizados na íntegra nos portais de dados selecionados que apresentavam aderência à temática em Português, Inglês e Espanhol, publicados entre os anos de 2011 a 2015 e que apresentassem na metodologia o referencial filosófico adotado. Critérios de exclusão: pesquisas que se encontravam repetidas nas bases de dados.

Conclusões:

abordam o processo morte/morrer por acadêmicos ingressantes no curso de enfermagem; a vivencia da terminalidade por intermédio da arte; o cuidado paliativo na terminalidade e a doação de órgãos após a finitude da vida. A preocupação pela temática permeia o cenário acadêmico e hospitalar, mas em ambos a preocupação mais latente está ligada a humanização assistencial. As produções científicas desenvolvidas pela enfermagem que abordam a temática tanatologia presam pelo cuidado não apenas durante o processo morte/morrer, mas estende-se ao pós-morte por meio da doação de órgãos, o que demonstra um olhar holístico ao exercer o cuidar, tornando este efetivo e com repercussões positivas sobre a memória dos que recebem os cuidados.

Palavras-Chave: fenomenologia; enfermagem; cuidados paliativos; tanatologia

RESUMEN

Introducción:

la intervención de cuidado pasa directamente por la comprensión, la reflexión, el análisis de la forma en que el profesional de enfermería percibe el fenómeno del proceso de la muerte / morir.

Objetivo:

analizar las publicaciones científicas que abordan el tema de la Tanatología desarrolladas por la enfermería.

Métodos:

estudio de revisión integradora de la función crítica y retrospectiva, con fuentes de datos primarios. Estrategia de búsqueda: el uso de palabras clave "fenomenología" y descriptores "enfermería" y "cuidados paliativos". La búsqueda se produjo en: MEDLINE; LILACS; BDENF y SCOPUS. Criterios de inclusión: los artículos disponibles en su totalidad en los portales de datos seleccionados que presentan la adherencia al tema en portugués, inglés y español, publicados entre los años 2011 la 2015 y para proporcionar el marco filosófico metodología adoptada. Criterios de exclusión: investigaciones que se repitieron en las bases de datos.

Conclusiones:

se acercan a la muerte / proceso de morir por los estudiantes de primer año en el programa de enfermería; las experiencias de enfermedad terminal a través del arte; cuidados paliativos de la enfermedad terminal y la donación de órganos después de la finitud de la vida. La preocupación por el tema impregna el entorno académico y el hospital, pero en tanto la preocupación más latente está vinculada a la humanización del cuidado. Producciones científicas desarrolladas por la enfermería abordan la cuestión de la Tanatología fundamentalmente la atención no solo durante el proceso de la muerte, sino que se extiende a la otra vida con el tema de la donación de órganos, lo que demuestra una mirada integral al cuidado de ejercicio haciendo este eficaz y positivo en la memoria de los que reciben atención.

Palabras-clave: fenomenologia; enfermeira; cuidados paliativos; tanatología

ABSTRACT

Introduction:

care intervention passes directly by the understanding, reflection, analysis of how the nursing professional perceives the phenomenon of the process of death / die.

Objective:

analyze the scientific publications that address the issue of thanatology developed by nursing.

Methods:

study of integrative review of critical feature and retrospective, with primary data sources. Search strategy: keyword use "phenomenology" and descriptors "nursing" and "palliative care". The search occurred in: MEDLINE; LILACS; BDENF and SCOPUS. Inclusion criteria: articles available in full on the selected data portals presenting adherence to the theme in Portuguese, English and Spanish, published between the years 2011-2015 and to provide the methodology philosophical framework adopted. Exclusion criteria: researches which were repeated in the databases.

Conclusion:

approach the process death / die for entering students in the nursing program; the experiences of terminality through art; palliative care in terminality and organ donation after the finiteness of life. Concern for the thematic permeates the academic and hospital setting, but in both the most latent concern is linked to care humanization. Scientific productions developed by nursing addressing the issue of Thanatology presam the care not only during the process death / die, but extend to the afterlife with the issue of organ donation, which demonstrates a holistic look at exercise care making this effective and positive effect on the memory of those who receive care.

Key words: phenomenology; nursing; palliative care; thanatology

INTRODUÇÃO

A intervenção do cuidado passa diretamente pela compreensão, reflexão e analise de como o profissional da enfermagem percebe o fenômeno do processo de morte/morrer. Pois o ser cuidador deve perceber o ser a ser cuidado.1 Contudo, o mundo ocidental, científico, racional, compreende a morte como um tabu, algo que não deve ser mencionado, refletido, e debatido sendo vislumbrado na prática como algo anormal e não humano, sendo a vinculação do tema associado ao sobrenatural, o terror, o castigo, a dor, entre outros significados considerados negativos pelas nações ocidentais, além de remeter aos sentimentos de medo, à angústia ou à rejeição.2

O profissional de enfermagem em todas as suas dimensões, a saber, cognitiva, emocional, psicológica e espiritual, vivencia a perspectiva da morte de seus pacientes; tendo como consequência possível uma sobrecarga física e emocional3, levando-o a comportar-se de maneira fria diante do fenômeno da morte e por esse motivo, esta temática deve ser mais debatida, mencionada e profundamente vivenciada para que as limitações anteriormente relatadas sejam superadas. Neste interim, a elaboração do cuidar deve ser constante, e nesse aspecto superando o medo, a incerteza e o mistério diante do fenômeno da morte.3

Outro aspecto relacionado à tanatologia vivenciado pelos profissionais de enfermagem perante o paciente e seus familiares é o luto antecipado. Esta passagem vivencial é em muitos momentos emocionalmente bastante cansativa, pois é desvelada de forma inquestionável que passamos, cuidador e ser cuidado, pelo processo da finitude.4 Mesmo que a contemporaneidade busque excluir a naturalidade da morte, o fato fenomenológico destrói essa ilusão e trás á tona um dos fatos mais marcantes da vivencia humana.

Frente o exposto, a discussão sobre a finitude e o processo de morte e morrer torna-se fundamental, sendo necessário seu aprofundamento, visto que neste contexto o cuidado não deve ser interrompido, ou mal realizado. Logo, enquanto houver vida, e com respeito profundo, caso o ser morra, o cuidado permanece. Pois, o reconhecimento dessa trajetória exemplifica que enquanto há vida, existe a necessidade do cuidado,5 demonstrando que a morte é parte constituinte da vida.

Deste modo, a reflexão fenomenológica é fundamental nesse processo tanatológico, pois permite ao individuo narrar o vivido de sua experiência, indo além da tecnicidade e oferecendo um suporte, uma orientação para esse momento de luto.1 Logo, o estudo da tanatologia pautado no método fenomenológico permite ao pesquisador mostrar, descrever e compreender os motivos vigentes nos fenômenos vividos, permitindo-se a compreensão “do” fenômeno estudado e não “sobre” este.6

O estudo pautou-se na seguinte questão: “O que a enfermagem vem produzindo sobre tanatologia pautada nos referenciais fenomenológicos?”.

A justificativa para a realização deste estudo está em aprimorar a assistência prestada pelos profissionais de enfermagem às pessoas que estão vivenciando o processo de terminalidade da vida e seus familiares, e encontra-se pautada no papel do enfermeiro em realizar a comunicação com o paciente/ familiar, proporcionar o manejo da dor do paciente, além de compreender/ refletir sobre a terminalidade humana e a morte.7 A relevância está em vislumbrar as contribuições da enfermagem em fenomenologia para o campo de conhecimento da tanatologia.

Com base nessas considerações, este trabalho objetivou analisar as produções científicas desenvolvidas pela enfermagem que abordam a temática tanatologia.

MÉTODOS

Trata-se de um estudo de revisão integrativa, de característica crítica e retrospectiva. Este tipo de estudo permite a síntese de conhecimento e a incorporação da aplicabilidade de resultados de estudos significativos na prática.8

A pesquisa foi elaborada seguindo as seguintes etapas: seleção da questão temática, estabelecimento dos critérios para seleção dos estudos, definição das informações a serem extraídas dos estudos selecionados por meio de categorização, análise dos dados, interpretação dos resultados e apresentação da revisão.9

A estratégia de busca adotada foi a utilização de palavra-chave e descritores, conectados por intermédio do operador booleano “AND”.

A palavra-chave adotada foi “fenomenologia” e os descritores pertinentes ao tema foram “enfermagem” e “cuidados paliativos”, sendo estes identificados através do DECs e do MeSH. Desta forma, foram utilizados para a busca dos artigos referidos descritores nos idiomas português, inglês e espanhol.

A busca foi realizada nos portais Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e BVS - Bireme (Biblioteca Virtual em Saúde - Biblioteca Regional de Medicina) que fornecem acesso as bases de dados: MEDLINE (Medical Literature Analysis and Retrieval System Online); LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde); BDENF (Banco de Dados da Enfermagem); SCOPUS (Base de dados de referências e citações); durante o mês de fevereiro de 2016.

Os critérios de inclusão para a seleção dos artigos foram: artigos disponibilizados na íntegra nos portais de dados selecionados que apresentavam aderência à temática em Português, Inglês e Espanhol, publicados entre os anos de 2011 a 2015 e que apresentassem de maneira clara na metodologia o referencial filosófico adotado. Os critérios de exclusão foram pesquisas que se encontravam repetidas nas bases de dados. Após a identificação dos estudos pré-selecionados realizou-se a leitura dos títulos das publicações, resumo e descritores, por dois revisores, verificando a pertinência para serem ou não contabilizada no estudo, devendo estar aderidos à temática abordada.

Para descrever o caminhar metodológico para os resultados, apresenta-se o fluxograma, vide figura 1.

Fig. 1 Fluxograma descrevendo o caminhar metodológico para os resultados. 

DESARROLLO

A organização dos resultados obtidos a partir da análise dos artigos que abordaram a temática tanatologia desenvolvidos pela enfermagem, publicados entre os anos de 2011 a 2015, vislumbrou a elaboração de um quadro que visou caracterizar os artigos encontrados pelo título, revista, ano de publicação, base de dados onde se deu a indexação, idioma da publicação, qualis capes da revista e nível de evidência da publicação.

Quadro. Caracterização os artigos encontrados 

Autores Título Revista Ano Objetivos Método
Moraes EL, Santos MJ, Merighi AB, Massarollo MC. Experience of nurses in the process of donation of organs and tissues for transplant. Revista Latino-Americana de Enfermagem 2014 Conhecer o significado da ação de enfermeiros no processo de doação para viabilizar órgãos e tecidos para transplante. Estudo de abordagem qualitativa, com o referencial da Fenomenologia Social, de Alfred Schutz.
Silva WCBP, Silva RMCRA, Pereira ER, Silva MA, Marins AMF, Sauthier M. Percepção da equipe de enfermagem frente aos cuidados paliativos. Online Brazilian Journal of Nursing 2014 Compreender a percepção da equipe de enfermagem frente ao cuidado paliativo em oncologia a partir do referencial fenomenológico em Merleau-Ponty; indicar as implicações desta percepção na práxis da enfermagem. Estudo descritivo, de abordagem qualitativa tendo como base a perspectiva teórico-metodológica da Fenomenologia de Merleau-Ponty.
Benedetti GMS, Oliveira K, Oliveira WT, Sales CA, Ferreira PC. Significado do processo morte/morrer para os acadêmicos ingressantes no curso de enfermagem. Revista Gaúcha de Enfermagem 2013 Desvelar o significado do processo morte/morrer para os acadêmicos ingressantes no curso de enfermagem. Estudo de caráter qualitativo tendo como alicerce filosófico a fenomenologia existencial heideggeriana.
Monteiro ACM, Rodrigues BMRD, Pacheco STA. O enfermeiro e o cuidar da criança com câncer sem possibilidade de cura atual. Escola Anna Nery Revista de Enfermagem 2012 Analisar compreensivamente o cuidado do enfermeiro à criança hospitalizada portadora de doença oncológica fora de possibilidade de cura atual. Estudo de abordagem qualitativa fundamentada na fenomenologia sociológica de Alfred Schutz.
Nunes MGS, Rodrigues BMRD. Tratamento paliativo: perspectiva da família. Revista enfermagem UERJ 2012 Compreender a perspectiva do familiar de paciente em tratamento paliativo em oncologia. Estudo de abordagem qualitativa fundamentada na fenomenologia sociológica de Alfred Schütz.
Sales CA, Silva VA, Pilger C, Marcon SS. A música na terminalidade humana: concepções dos familiares. Revista da Escola de Enfermagem da USP 2011 Compreender como os familiares percebem a influência das vivências musicais na saúde física e mental de um familiar que experiência a terminalidade da vida. Pesquisa qualitativa fundamentada na fenomenologia existencial heideggeriana utilizou como estratégia metodológica o estudo de múltiplos casos.
Sales CA, D’ Artibale EF. O cuidar na terminalidade da vida: escutando os familiares. Ciência, cuidado e saúde 2011 Compreender os familiares em seu existir-no-mundo cuidando na terminalidade da vida. Pesquisa qualitativa que utilizou a estratégia metodológica do estudo de múltiplos casos, fundamentada na fenomenologia existencial heideggeriana.

Os dados disponibilizados no quadro evidenciam homogeneidade na distribuição das publicações nas revistas científicas, estando 14,3 % (n=1) disponível na Revista Latino-Americana de Enfermagem; 14,3 % (n=1) na Online Brazilian Journal of Nursing; 14,3 % (n=1) na Revista Gaúcha de Enfermagem; 14,3 % (n=1) na Escola Anna Nery Revista de Enfermagem; 14,3 % (n=1) na Revista Enfermagem UERJ; 14,3 % (n=1) na Revista da Escola de Enfermagem da USP; 14,2 % (n=1) na Ciência, Cuidado e Saúde.

Frente o exposto evidencia-se que 71,4 % (n=5) dos artigos são publicados em revistas da região sudeste, sendo 57,1 % (n=4) no Rio, 14,3 % (n=1) em São Paulo, enquanto que 28,6 % (n=2) concentram-se na região Sul.

Quanto ao ano de publicação, 28,6 % (n=2) artigos foram publicados sobre a referida temática no ano de 2014, 14,2 % (n=1) no ano de 2013, 28,6 % (n=2) em 2012, 28,6 % (n=2) em 2011.

No que diz respeito às bases de dados, há um predomínio de artigos da enfermagem que discutem a tanatologia utilizando-se da abordagem fenomenológica indexados na LILACS 43 % (n=3) e na BDENF 43 % (n=3), seguidos de 14 % (n=1) na SCOPUS.

Quanto ao idioma em que os artigos estavam publicados, evidencia-se o predomínio de publicações em português, 86 % (n=6), seguido do idioma inglês14 % (n=1).

Ao avaliarmos o webqualis capes das publicações observamos que há um predomínio de publicações com estrato B1 (57,1 %; n=4), seguido de 14,3 % (n=1) de publicações com estrato A1, A2 (14,3 %; n=1) e B2(14,3 %; n=1).

Quanto ao nível de evidência.10 100 % (n=7) das publicações pertencem ao nível VI que diz respeito a estudos do tipo qualitativo, característica da abordagem fenomenológica.

Sobre as abordagens filosóficas e referenciais adotados na construção dos estudos Observa-se o predomínio da Fenomenologia Social de Alfred Schütz 43 % (n=3) e da Fenomenologia Existencial de Martin Heidegger 43 % (n=3), seguida da Fenomenologia da Percepção de Maurice Merleau-Ponty (14 % ; n=1).

Quanto aos verbos mais adotados na descrição dos objetivos observou-se a predominância do verbo compreender 44 % (n=3), seguido dos verbos conhecer (14 %; n=1); desvelar (14 %; n=1); analisar (14 %; n=1) e apreender (14 %; n=1), estando estes de acordo com os estudos fenomenológicos.

Concernente às temáticas mais estudadas e que contribuem para a discussão da tanatologia pela enfermagem, observamos que 57,1 % (n=4) dos artigos abordavam cuidados paliativos; 14,3 % (n=1) transplantes; 14,3 % (n=1) ensino; 14,3 % (n=1) musicoterapia.

A análise do artigo que aborda a temática do ensino evidencia que o processo morte/morrer apresenta três vertentes para os acadêmicos ingressantes no curso de enfermagem, sendo estas: entendendo a morte como um processo difícil de ser compreendido; compreendendo a morte como um processo natural e vislumbrando a morte como uma passagem para outra vida, demonstrando associação da temática com a religiosidade.11

A vertente que compreende a morte como um processo difícil de ser compreendido e aceito pelos estudantes evidencia que ao ser lançado ao mundo e vivenciando situações não planejadas, mas concretas, o ser-aí passa a se abrir ao mundo e a existência humana pode então ser questionada quando este passa a vivenciar alguma facticidade em seu cotidiano que ele não consegue enfrentar de imediato, ocasionando um fechamento em si mesmo e fazendo com que o ser não entenda sua própria condição existencial de ser um ser finito.11

A vertente que compreende a morte como um processo natural aponta que esta é compreendida como algo concreto frente ao envelhecimento, doença e possíveis acidentes presentes no cotidiano da vida do homem. Embora este pensamento possa estar relacionado ao fato de que a morte e os sentimentos suscitados por ela sejam algo tão distante da realidade vivenciada pelos acadêmicos que estão ingressando na academia que eles são levados a encará-la de maneira objetiva.11 O autor refere ainda que esta maneira de compreender a morte pode auxiliar os acadêmicos a enfrentarem a finitude da vida presente em diversas situações inerentes a atividade profissional.

A vertente que vislumbra a morte como uma passagem para outra vida, encontra-se associada a crenças religiosas e tende a promover influencias sobre como o indivíduo aceita a morte.

Frente ao exposto evidencia-se a necessidade de se abordar a temática no início da graduação, visto que os estudantes irão vivenciar o processo morte/morrer ao longo do processo assistencial, bem como compreendem por intermédio do referido estudo que o saber e a morte encontram-se envolvidos na temporalidade e historicidade individual do ser, sendo essencial sua compreensão nas vertentes científica, filosófica e ética do fenômeno morte/morrer, possibilitando ao acadêmico se preparar para prestar o cuidado humanizado ao doente e sua família.11

A análise da produção que aborda musicoterapia permitiu evidenciarmos que a utilização da música no cuidado cotidiano pode proporcionar bem-estar aos pacientes e trazer conforto aos cuidadores no processo de terminalidade, logo a participação dos sujeitos na escolha do repertório gera entusiasmo por permitir a apreciação musical de cada indivíduo possibilitando que por algum tempo a angústia relacionada à evolução da doença e à terminalidade iminente ao ser-aí deem espaço a momentos de alegria e emoção; outro ponto destacado pelos autores é a mundaneidade de mundo desses sujeitos, em que o isolamento social permeia a existencialidade, logo, neste cenário, a música se constitui em um recurso de comunicação, podendo promover relação interpessoal e abertura do ser-aí para o discurso, viabilizando o atendimento de suas necessidades emergentes.12

Os artigos que abordam o cuidado paliativo na terminalidade demonstram que

o cuidado paliativo é vivenciando no mundo-da-vida profissional como ações de conforto ao paciente terminal e como um encontro de intersubjetividades, ou seja, acredita-se que a excelência assistencial a este publico seja o conforto e um cuidado humanizado pautado na qualidade de vida do paciente, no respeito, dignidade, humanização e escuta qualificada, apesar de existirem programas e protocolos que direcionam a assistência.13

Deste modo, evidencia-se que as necessidades de assistência devem ser centradas nas experiências vivenciadas pelo ser assistido no contexto da hospitalização. Logo, quando o enfermeiro prestar uma assistência ao ser que se encontra fora da possibilidade de cura, ele presta um cuidado pautado no conforto, tendo assim a assistência seu desenvolver pautado no cuidado prescritivo, pautado no alívio dos sintomas.14

O atendimento prestado por enfermeiros a crianças com câncer que se encontram frente à finitude da vida tão precocemente faz com que estes profissionais passem por momentos dolorosos e de difícil compreensão consequência do paradoxo, da interrupção da linha natural da vida.14

Quando esta finitude é vislumbrada por familiares, que são importantes atores sociais no cuidado,15 gera se sentimentos de angústias, medos e ansiedades, levando estes a serem afetados em seus aspectos biopsicossociais. Deste modo, ao ser informado da condição terminal o familiar é levado a experienciar a dor e sofrimento, compartilhando com o ente doente experiências e dividindo confidências e emoções, levando-o a apreensões, cansaço e sobrecarga.16

Frente ao exposto, os autores do estudo16 relatam ser necessário prestar a assistência de modo humanizado e de acordo com o que é vivenciado pelo familiar, seguindo os preceitos relativos aos cuidados paliativos. Os autores apontam ainda que a compreensão do significado da morte a partir das concepções dos familiares possibilita a oferta de outros modos de assisti-los e ajudá-los a vivenciar este processo.16 Deste modo, o cuidado assistencial deve ser prestado aos familiares e pacientes sob cuidados paliativos por intermédio de apoio ao cuidador, apoio emocional, espiritual, esclarecimento de valores relacionados à finitude, qualificação específica nos serviços para promoverem a redução da ansiedade e proteção dos direitos dos pacientes.13

O artigo que aborda a temática dos transplantes aponta que a vivência dos enfermeiros no processo de doação de órgãos e tecidos para transplante é cercada por obstáculos vivenciados no processo de doação relacionada à escassez de recursos humanos e materiais; desconhecimento do processo pelos profissionais o que interferem desde a identificação do possível doador até a liberação do corpo do doador para sepultamento.17

Os autores do artigo apontam a educação como um ponto chave para que o enfermeiro supere os obstáculos vivenciados e mude paradigmas relacionados à doação de órgãos e tecidos, humanizando o processo, oferecendo assistência digna aos familiares do potencial doador e consequentemente aumentando as doações.17

Com base nos materiais analisados, foi possível tecer considerações importantes a serem relatadas com relação aos estudos desenvolvidos pela enfermagem, sobre a temática tanatologia. Deste modo, a discussão será apresentada através de 03 (três) categorias, sendo estas: “vivenciando o processo morte/morrer por acadêmicos de enfermagem e enfermeiros”, “o cuidado paliativo na terminalidade” e “a doação de órgãos após a finitude da vida”.

Vivenciando o processo morte/morrer por acadêmicos de enfermagem e enfermeiros

Ao vivenciar a terminalidade e a morte, os acadêmicos de enfermagem manifestam as seguintes questões: despreparo, enfrentamento ineficaz, medos, crenças e valores.18 Estes sentimentos são suscitados no decorrer da graduação, como possíveis, contribuintes para o despreparo em vivenciar o processo morte-morrer dos futuros clientes,19 sendo estes corroborados por desamparo, temor, insegurança20 despreparo, medo, estranhamento e sofrimento dos docentes, bem como pelos demais profissionais de saúde em lidar com o fenômeno morte/morrer.21

Ao cuidar da pessoa que vivencia a terminalidade da vida, os acadêmicos preocupam-se com a terapêutica e a atitude obstinada dos enfermeiros em salvar o paciente terminal, o que demonstra elevada obstinação da enfermagem.18

Neste sentido, evidencia-se elevado envolvimento emocional do enfermeiro que vivencia o morrer/morte, o que caracteriza interesse e preocupação pela excelência do exercer profissional nesta etapa da vida. Frente ao exposto, os autores apontam ser fundamental a adoção de estratégias que auxiliem a redução da ansiedade e do medo inerente aos cuidados paliativos, visto que estas questões podem afetar a qualidade dos cuidados prestados aos doentes terminais.18

Os cursos de graduação atribuem pouca ou nenhuma importância à temática da terminalidade da vida, o que promove preocupação visto que na rotina de serviço o encontro do profissional com a morte é inevitável.21 Deste modo, os cursos complementares são estratégias a serem utilizadas no enfrentamento dos sentimentos inerentes aos acadêmicos/ enfermeiros que enfrentarem a finitude da vida de seus pacientes.22

A utilização de cursos on-line que enfoquem a temática da morte, perda e luto são estratégias positivas a serem adotadas com alunos, mas o suporte online deve estar sempre disponível e devem apresentar como princípios incentivo de comunicação entre alunos e professores com atenção pessoal aos alunos, colaboração entre os alunos, aprendizagem ativa, respeito pelos diversos talentos e formas de aprendizagem, comunicação de grandes expectativas, feedback imediato e tempo na tarefa.22

A realização de pesquisas destinadas a compreender a representação social dos docentes e profissionais facilitadores da educação, a cerca do fenômeno morrer/morte, também é vislumbrada como uma estratégia inicial no processo de transformação do ensino-aprendizagem sobre esta temática, pois a compreensão permite a desconstrução, construção e reconstrução dos pilares formativos na academia, refletidos na vida pessoal e profissional dos atores envolvidos na assistência,21 deste modo, as pesquisas fundamentadas na metodologia fenomenológica auxiliam os pesquisadores a vislumbrar seu objeto de estudo.

O cuidado paliativo na terminalidade

O cuidado paliativo na terminalidade perpassa por preocupações éticas no que tange ao fenômeno morte, estando esta atenção relacionada à informação ao cliente, ao acompanhamento em fim de vida e à responsabilidade profissional em intervenções interdependentes.23 Logo, para que haja sucesso na gestão das condutas éticas, a equipe de saúde deve apresentar suporte de liderança, diálogo entre os diferentes profissionais na equipe, adequação física e técnica dos locais de prestação de cuidados, conhecimento do histórico da pessoa assistida, a autoconfiança e a autoestima profissionais.23

Ao prestar o atendimento, o enfermeiro deve atentar-se para as questões éticas, sendo estas: consentimento e recusa da proposta terapêutica, dilemas na informação, atuação diante dos processos de morrer e decisão de não reanimação e respeito pelos direitos humanos em contextos desfavoráveis.23

O cuidado paliativo deve promover conforto o qual pode ser resultante de práticas de cuidar em saúde e em enfermagem, conciliando racionalidade, sensibilidade, dignidade do paciente e sua família.24 Deste modo, a prestação de cuidados não deve ser focada apenas a pessoa que vivência a terminalidade da vida, mas deve ser também focada na família.25

A investigação das relações familiares pode favorecer a compreensão e a ajuda aos pacientes quando o cuidado paliativo é prestado em domicílio25 e a identificação do momento ideal para encaminhar o paciente para receber os cuidados paliativos em domicílio é associado pela família como qualidade de morte e morrer.26

Os profissionais de enfermagem que atuam junto a pacientes que vivenciam a morte sofrem exaustão emocional e o sentimento de sofrimento passa por exarcebação. Desta forma, torna-se relevante o suporte emocional para estes profissionais, auxiliando-os no reparo emocional e capacitando-os para a execução do cuidado paliativo.27

A doação de órgãos após a finitude da vida

A doação de órgãos após a finitude da vida ainda é escassa e este fato se deve a ausência de conhecimento, consciência e atitude frente à tomada de decisão de doar. Logo, para que ocorram mudanças referentes a esta escassez, se faz necessária à compreensão da doação de órgãos e seus conceitos por enfermeiros, médicos, legisladores, religiosos e meios de comunicação, visto que estes atores são fundamentais para que ocorra a mudanças relacionadas a comportamentos e crenças sociais que limitam a doação e transplantes.28

Deste modo, os programas educativos direcionados à população são estratégias fundamentais para reduzir a recusa dos familiares em doar os órgãos viáveis do ente que foi a óbito,29 mas a estratégia educacional deve também ser adotada também junto aos profissionais de saúde, principalmente os enfermeiros que apresentam falta de conhecimento teórico e prático sobre a temática. Frente o exposto, medidas como formação continuada e cursos de reciclagem para os enfermeiros, e campanhas educativas em saúde para a população são atitudes que promovem o conhecimento, sensibilizam e enfatizam a importância da doação.30

CONCLUSÕES

Os resultados advindos do estado da arte permitiram vislumbrar a preocupação acerca do fenômeno morte/ morrer pela enfermagem e demonstraram que por intermédio dos referenciais fenomenológicos os pesquisadores buscam a compreensão “do” fenômeno estudado, pautando suas discussões na fenomenologia social de Alfred Schütz, na existencial de Martin Heidegger e da percepção de Maurice Merleau-Ponty.

O levantamento das publicações demonstrou que as temáticas mais estudadas e que contribuem para a discussão da tanatologia pela enfermagem, abordavam cuidados paliativos, transplantes, ensino e musicoterapia; e que a abordagem fenomenológica buscou a compreensão do sujeito permeado por suas vivências, experiências e significados.

Evidenciamos que a preocupação por esta temática permeia o cenário acadêmico e hospitalar, mas em ambos a preocupação mais latente está ligada a humanização assistencial.

A questão da humanização deve ser trabalhada e instaurada nos acadêmicos que ingressam no curso de enfermagem para que estes possam desenvolver suas habilidades e carrear o que for apreendido por toda a trajetória profissional.

O estudo evidenciou que as produções científicas desenvolvidas pela enfermagem que abordam a temática da tanatologia presam pelo cuidado não apenas durante o processo morte/morrer, mas estende-se ao pós-morte com a temática da doação de órgãos. Foi notório também que os profissionais preocupam-se não apenas com a pessoa que vivencia o fenômeno, mas também com a família envolvida com o cuidado. Esta preocupação demonstra um olhar holístico ao exercer o cuidar, tornando este efetivo e com repercussões positivas sobre a memória dos que recebem os cuidados.

A principal contribuição que este estudo trouxe foi vislumbrar a importância da enfermagem no planejamento, construção e implementação do cuidado paliativo pautado em seu sentido fenomenológico, ou seja, o cuidado é consolidado no modo de ser, atuante no comportamento humano, permitindo que o profissional preste a assistência à pessoa que vivência a morte/morrer sem perder a alteridade.

O estudo apresentou como limitação a ausência de publicações em revistas internacionais, bem como o número reduzido de publicações mesmo que no idioma dos autores indexados em bases internacionais que contribuíssem com a temática e discussão do objetivo.

Deste modo, sugerimos o desenvolvimento de mais estudos de abordagem fenomenológica voltados a questão da tanatologia. Recomendamos que estes estejam relacionados à percepção dos acadêmicos nos últimos períodos de estudo para poder realizar a correlação dos que ingressam no ensino superior e os que estão por ingressar na vida profissional, e estudos voltados a compreender, apreender e desvelar os significados do morte/morrer para os profissionais de enfermagem que prestam o cuidado paliativo nas redes hospitalares/domiciliares.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

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Recebido: 12 de Março de 2016; Aceito: 05 de Junho de 2016

Autor para la correspondência: fabykim_enf@yahoo.com.br

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