INTRODUÇÃO
A intervenção do cuidado passa diretamente pela compreensão, reflexão e analise de como o profissional da enfermagem percebe o fenômeno do processo de morte/morrer. Pois o ser cuidador deve perceber o ser a ser cuidado.1 Contudo, o mundo ocidental, científico, racional, compreende a morte como um tabu, algo que não deve ser mencionado, refletido, e debatido sendo vislumbrado na prática como algo anormal e não humano, sendo a vinculação do tema associado ao sobrenatural, o terror, o castigo, a dor, entre outros significados considerados negativos pelas nações ocidentais, além de remeter aos sentimentos de medo, à angústia ou à rejeição.2
O profissional de enfermagem em todas as suas dimensões, a saber, cognitiva, emocional, psicológica e espiritual, vivencia a perspectiva da morte de seus pacientes; tendo como consequência possível uma sobrecarga física e emocional3, levando-o a comportar-se de maneira fria diante do fenômeno da morte e por esse motivo, esta temática deve ser mais debatida, mencionada e profundamente vivenciada para que as limitações anteriormente relatadas sejam superadas. Neste interim, a elaboração do cuidar deve ser constante, e nesse aspecto superando o medo, a incerteza e o mistério diante do fenômeno da morte.3
Outro aspecto relacionado à tanatologia vivenciado pelos profissionais de enfermagem perante o paciente e seus familiares é o luto antecipado. Esta passagem vivencial é em muitos momentos emocionalmente bastante cansativa, pois é desvelada de forma inquestionável que passamos, cuidador e ser cuidado, pelo processo da finitude.4 Mesmo que a contemporaneidade busque excluir a naturalidade da morte, o fato fenomenológico destrói essa ilusão e trás á tona um dos fatos mais marcantes da vivencia humana.
Frente o exposto, a discussão sobre a finitude e o processo de morte e morrer torna-se fundamental, sendo necessário seu aprofundamento, visto que neste contexto o cuidado não deve ser interrompido, ou mal realizado. Logo, enquanto houver vida, e com respeito profundo, caso o ser morra, o cuidado permanece. Pois, o reconhecimento dessa trajetória exemplifica que enquanto há vida, existe a necessidade do cuidado,5 demonstrando que a morte é parte constituinte da vida.
Deste modo, a reflexão fenomenológica é fundamental nesse processo tanatológico, pois permite ao individuo narrar o vivido de sua experiência, indo além da tecnicidade e oferecendo um suporte, uma orientação para esse momento de luto.1 Logo, o estudo da tanatologia pautado no método fenomenológico permite ao pesquisador mostrar, descrever e compreender os motivos vigentes nos fenômenos vividos, permitindo-se a compreensão “do” fenômeno estudado e não “sobre” este.6
O estudo pautou-se na seguinte questão: “O que a enfermagem vem produzindo sobre tanatologia pautada nos referenciais fenomenológicos?”.
A justificativa para a realização deste estudo está em aprimorar a assistência prestada pelos profissionais de enfermagem às pessoas que estão vivenciando o processo de terminalidade da vida e seus familiares, e encontra-se pautada no papel do enfermeiro em realizar a comunicação com o paciente/ familiar, proporcionar o manejo da dor do paciente, além de compreender/ refletir sobre a terminalidade humana e a morte.7 A relevância está em vislumbrar as contribuições da enfermagem em fenomenologia para o campo de conhecimento da tanatologia.
Com base nessas considerações, este trabalho objetivou analisar as produções científicas desenvolvidas pela enfermagem que abordam a temática tanatologia.
MÉTODOS
Trata-se de um estudo de revisão integrativa, de característica crítica e retrospectiva. Este tipo de estudo permite a síntese de conhecimento e a incorporação da aplicabilidade de resultados de estudos significativos na prática.8
A pesquisa foi elaborada seguindo as seguintes etapas: seleção da questão temática, estabelecimento dos critérios para seleção dos estudos, definição das informações a serem extraídas dos estudos selecionados por meio de categorização, análise dos dados, interpretação dos resultados e apresentação da revisão.9
A estratégia de busca adotada foi a utilização de palavra-chave e descritores, conectados por intermédio do operador booleano “AND”.
A palavra-chave adotada foi “fenomenologia” e os descritores pertinentes ao tema foram “enfermagem” e “cuidados paliativos”, sendo estes identificados através do DECs e do MeSH. Desta forma, foram utilizados para a busca dos artigos referidos descritores nos idiomas português, inglês e espanhol.
A busca foi realizada nos portais Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e BVS - Bireme (Biblioteca Virtual em Saúde - Biblioteca Regional de Medicina) que fornecem acesso as bases de dados: MEDLINE (Medical Literature Analysis and Retrieval System Online); LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde); BDENF (Banco de Dados da Enfermagem); SCOPUS (Base de dados de referências e citações); durante o mês de fevereiro de 2016.
Os critérios de inclusão para a seleção dos artigos foram: artigos disponibilizados na íntegra nos portais de dados selecionados que apresentavam aderência à temática em Português, Inglês e Espanhol, publicados entre os anos de 2011 a 2015 e que apresentassem de maneira clara na metodologia o referencial filosófico adotado. Os critérios de exclusão foram pesquisas que se encontravam repetidas nas bases de dados. Após a identificação dos estudos pré-selecionados realizou-se a leitura dos títulos das publicações, resumo e descritores, por dois revisores, verificando a pertinência para serem ou não contabilizada no estudo, devendo estar aderidos à temática abordada.
Para descrever o caminhar metodológico para os resultados, apresenta-se o fluxograma, vide figura 1.
DESARROLLO
A organização dos resultados obtidos a partir da análise dos artigos que abordaram a temática tanatologia desenvolvidos pela enfermagem, publicados entre os anos de 2011 a 2015, vislumbrou a elaboração de um quadro que visou caracterizar os artigos encontrados pelo título, revista, ano de publicação, base de dados onde se deu a indexação, idioma da publicação, qualis capes da revista e nível de evidência da publicação.
Autores | Título | Revista | Ano | Objetivos | Método |
---|---|---|---|---|---|
Moraes EL, Santos MJ, Merighi AB, Massarollo MC. | Experience of nurses in the process of donation of organs and tissues for transplant. | Revista Latino-Americana de Enfermagem | 2014 | Conhecer o significado da ação de enfermeiros no processo de doação para viabilizar órgãos e tecidos para transplante. | Estudo de abordagem qualitativa, com o referencial da Fenomenologia Social, de Alfred Schutz. |
Silva WCBP, Silva RMCRA, Pereira ER, Silva MA, Marins AMF, Sauthier M. | Percepção da equipe de enfermagem frente aos cuidados paliativos. | Online Brazilian Journal of Nursing | 2014 | Compreender a percepção da equipe de enfermagem frente ao cuidado paliativo em oncologia a partir do referencial fenomenológico em Merleau-Ponty; indicar as implicações desta percepção na práxis da enfermagem. | Estudo descritivo, de abordagem qualitativa tendo como base a perspectiva teórico-metodológica da Fenomenologia de Merleau-Ponty. |
Benedetti GMS, Oliveira K, Oliveira WT, Sales CA, Ferreira PC. | Significado do processo morte/morrer para os acadêmicos ingressantes no curso de enfermagem. | Revista Gaúcha de Enfermagem | 2013 | Desvelar o significado do processo morte/morrer para os acadêmicos ingressantes no curso de enfermagem. | Estudo de caráter qualitativo tendo como alicerce filosófico a fenomenologia existencial heideggeriana. |
Monteiro ACM, Rodrigues BMRD, Pacheco STA. | O enfermeiro e o cuidar da criança com câncer sem possibilidade de cura atual. | Escola Anna Nery Revista de Enfermagem | 2012 | Analisar compreensivamente o cuidado do enfermeiro à criança hospitalizada portadora de doença oncológica fora de possibilidade de cura atual. | Estudo de abordagem qualitativa fundamentada na fenomenologia sociológica de Alfred Schutz. |
Nunes MGS, Rodrigues BMRD. | Tratamento paliativo: perspectiva da família. | Revista enfermagem UERJ | 2012 | Compreender a perspectiva do familiar de paciente em tratamento paliativo em oncologia. | Estudo de abordagem qualitativa fundamentada na fenomenologia sociológica de Alfred Schütz. |
Sales CA, Silva VA, Pilger C, Marcon SS. | A música na terminalidade humana: concepções dos familiares. | Revista da Escola de Enfermagem da USP | 2011 | Compreender como os familiares percebem a influência das vivências musicais na saúde física e mental de um familiar que experiência a terminalidade da vida. | Pesquisa qualitativa fundamentada na fenomenologia existencial heideggeriana utilizou como estratégia metodológica o estudo de múltiplos casos. |
Sales CA, D’ Artibale EF. | O cuidar na terminalidade da vida: escutando os familiares. | Ciência, cuidado e saúde | 2011 | Compreender os familiares em seu existir-no-mundo cuidando na terminalidade da vida. | Pesquisa qualitativa que utilizou a estratégia metodológica do estudo de múltiplos casos, fundamentada na fenomenologia existencial heideggeriana. |
Os dados disponibilizados no quadro evidenciam homogeneidade na distribuição das publicações nas revistas científicas, estando 14,3 % (n=1) disponível na Revista Latino-Americana de Enfermagem; 14,3 % (n=1) na Online Brazilian Journal of Nursing; 14,3 % (n=1) na Revista Gaúcha de Enfermagem; 14,3 % (n=1) na Escola Anna Nery Revista de Enfermagem; 14,3 % (n=1) na Revista Enfermagem UERJ; 14,3 % (n=1) na Revista da Escola de Enfermagem da USP; 14,2 % (n=1) na Ciência, Cuidado e Saúde.
Frente o exposto evidencia-se que 71,4 % (n=5) dos artigos são publicados em revistas da região sudeste, sendo 57,1 % (n=4) no Rio, 14,3 % (n=1) em São Paulo, enquanto que 28,6 % (n=2) concentram-se na região Sul.
Quanto ao ano de publicação, 28,6 % (n=2) artigos foram publicados sobre a referida temática no ano de 2014, 14,2 % (n=1) no ano de 2013, 28,6 % (n=2) em 2012, 28,6 % (n=2) em 2011.
No que diz respeito às bases de dados, há um predomínio de artigos da enfermagem que discutem a tanatologia utilizando-se da abordagem fenomenológica indexados na LILACS 43 % (n=3) e na BDENF 43 % (n=3), seguidos de 14 % (n=1) na SCOPUS.
Quanto ao idioma em que os artigos estavam publicados, evidencia-se o predomínio de publicações em português, 86 % (n=6), seguido do idioma inglês14 % (n=1).
Ao avaliarmos o webqualis capes das publicações observamos que há um predomínio de publicações com estrato B1 (57,1 %; n=4), seguido de 14,3 % (n=1) de publicações com estrato A1, A2 (14,3 %; n=1) e B2(14,3 %; n=1).
Quanto ao nível de evidência.10 100 % (n=7) das publicações pertencem ao nível VI que diz respeito a estudos do tipo qualitativo, característica da abordagem fenomenológica.
Sobre as abordagens filosóficas e referenciais adotados na construção dos estudos Observa-se o predomínio da Fenomenologia Social de Alfred Schütz 43 % (n=3) e da Fenomenologia Existencial de Martin Heidegger 43 % (n=3), seguida da Fenomenologia da Percepção de Maurice Merleau-Ponty (14 % ; n=1).
Quanto aos verbos mais adotados na descrição dos objetivos observou-se a predominância do verbo compreender 44 % (n=3), seguido dos verbos conhecer (14 %; n=1); desvelar (14 %; n=1); analisar (14 %; n=1) e apreender (14 %; n=1), estando estes de acordo com os estudos fenomenológicos.
Concernente às temáticas mais estudadas e que contribuem para a discussão da tanatologia pela enfermagem, observamos que 57,1 % (n=4) dos artigos abordavam cuidados paliativos; 14,3 % (n=1) transplantes; 14,3 % (n=1) ensino; 14,3 % (n=1) musicoterapia.
A análise do artigo que aborda a temática do ensino evidencia que o processo morte/morrer apresenta três vertentes para os acadêmicos ingressantes no curso de enfermagem, sendo estas: entendendo a morte como um processo difícil de ser compreendido; compreendendo a morte como um processo natural e vislumbrando a morte como uma passagem para outra vida, demonstrando associação da temática com a religiosidade.11
A vertente que compreende a morte como um processo difícil de ser compreendido e aceito pelos estudantes evidencia que ao ser lançado ao mundo e vivenciando situações não planejadas, mas concretas, o ser-aí passa a se abrir ao mundo e a existência humana pode então ser questionada quando este passa a vivenciar alguma facticidade em seu cotidiano que ele não consegue enfrentar de imediato, ocasionando um fechamento em si mesmo e fazendo com que o ser não entenda sua própria condição existencial de ser um ser finito.11
A vertente que compreende a morte como um processo natural aponta que esta é compreendida como algo concreto frente ao envelhecimento, doença e possíveis acidentes presentes no cotidiano da vida do homem. Embora este pensamento possa estar relacionado ao fato de que a morte e os sentimentos suscitados por ela sejam algo tão distante da realidade vivenciada pelos acadêmicos que estão ingressando na academia que eles são levados a encará-la de maneira objetiva.11 O autor refere ainda que esta maneira de compreender a morte pode auxiliar os acadêmicos a enfrentarem a finitude da vida presente em diversas situações inerentes a atividade profissional.
A vertente que vislumbra a morte como uma passagem para outra vida, encontra-se associada a crenças religiosas e tende a promover influencias sobre como o indivíduo aceita a morte.
Frente ao exposto evidencia-se a necessidade de se abordar a temática no início da graduação, visto que os estudantes irão vivenciar o processo morte/morrer ao longo do processo assistencial, bem como compreendem por intermédio do referido estudo que o saber e a morte encontram-se envolvidos na temporalidade e historicidade individual do ser, sendo essencial sua compreensão nas vertentes científica, filosófica e ética do fenômeno morte/morrer, possibilitando ao acadêmico se preparar para prestar o cuidado humanizado ao doente e sua família.11
A análise da produção que aborda musicoterapia permitiu evidenciarmos que a utilização da música no cuidado cotidiano pode proporcionar bem-estar aos pacientes e trazer conforto aos cuidadores no processo de terminalidade, logo a participação dos sujeitos na escolha do repertório gera entusiasmo por permitir a apreciação musical de cada indivíduo possibilitando que por algum tempo a angústia relacionada à evolução da doença e à terminalidade iminente ao ser-aí deem espaço a momentos de alegria e emoção; outro ponto destacado pelos autores é a mundaneidade de mundo desses sujeitos, em que o isolamento social permeia a existencialidade, logo, neste cenário, a música se constitui em um recurso de comunicação, podendo promover relação interpessoal e abertura do ser-aí para o discurso, viabilizando o atendimento de suas necessidades emergentes.12
Os artigos que abordam o cuidado paliativo na terminalidade demonstram que
o cuidado paliativo é vivenciando no mundo-da-vida profissional como ações de conforto ao paciente terminal e como um encontro de intersubjetividades, ou seja, acredita-se que a excelência assistencial a este publico seja o conforto e um cuidado humanizado pautado na qualidade de vida do paciente, no respeito, dignidade, humanização e escuta qualificada, apesar de existirem programas e protocolos que direcionam a assistência.13
Deste modo, evidencia-se que as necessidades de assistência devem ser centradas nas experiências vivenciadas pelo ser assistido no contexto da hospitalização. Logo, quando o enfermeiro prestar uma assistência ao ser que se encontra fora da possibilidade de cura, ele presta um cuidado pautado no conforto, tendo assim a assistência seu desenvolver pautado no cuidado prescritivo, pautado no alívio dos sintomas.14
O atendimento prestado por enfermeiros a crianças com câncer que se encontram frente à finitude da vida tão precocemente faz com que estes profissionais passem por momentos dolorosos e de difícil compreensão consequência do paradoxo, da interrupção da linha natural da vida.14
Quando esta finitude é vislumbrada por familiares, que são importantes atores sociais no cuidado,15 gera se sentimentos de angústias, medos e ansiedades, levando estes a serem afetados em seus aspectos biopsicossociais. Deste modo, ao ser informado da condição terminal o familiar é levado a experienciar a dor e sofrimento, compartilhando com o ente doente experiências e dividindo confidências e emoções, levando-o a apreensões, cansaço e sobrecarga.16
Frente ao exposto, os autores do estudo16 relatam ser necessário prestar a assistência de modo humanizado e de acordo com o que é vivenciado pelo familiar, seguindo os preceitos relativos aos cuidados paliativos. Os autores apontam ainda que a compreensão do significado da morte a partir das concepções dos familiares possibilita a oferta de outros modos de assisti-los e ajudá-los a vivenciar este processo.16 Deste modo, o cuidado assistencial deve ser prestado aos familiares e pacientes sob cuidados paliativos por intermédio de apoio ao cuidador, apoio emocional, espiritual, esclarecimento de valores relacionados à finitude, qualificação específica nos serviços para promoverem a redução da ansiedade e proteção dos direitos dos pacientes.13
O artigo que aborda a temática dos transplantes aponta que a vivência dos enfermeiros no processo de doação de órgãos e tecidos para transplante é cercada por obstáculos vivenciados no processo de doação relacionada à escassez de recursos humanos e materiais; desconhecimento do processo pelos profissionais o que interferem desde a identificação do possível doador até a liberação do corpo do doador para sepultamento.17
Os autores do artigo apontam a educação como um ponto chave para que o enfermeiro supere os obstáculos vivenciados e mude paradigmas relacionados à doação de órgãos e tecidos, humanizando o processo, oferecendo assistência digna aos familiares do potencial doador e consequentemente aumentando as doações.17
Com base nos materiais analisados, foi possível tecer considerações importantes a serem relatadas com relação aos estudos desenvolvidos pela enfermagem, sobre a temática tanatologia. Deste modo, a discussão será apresentada através de 03 (três) categorias, sendo estas: “vivenciando o processo morte/morrer por acadêmicos de enfermagem e enfermeiros”, “o cuidado paliativo na terminalidade” e “a doação de órgãos após a finitude da vida”.
Vivenciando o processo morte/morrer por acadêmicos de enfermagem e enfermeiros
Ao vivenciar a terminalidade e a morte, os acadêmicos de enfermagem manifestam as seguintes questões: despreparo, enfrentamento ineficaz, medos, crenças e valores.18 Estes sentimentos são suscitados no decorrer da graduação, como possíveis, contribuintes para o despreparo em vivenciar o processo morte-morrer dos futuros clientes,19 sendo estes corroborados por desamparo, temor, insegurança20 despreparo, medo, estranhamento e sofrimento dos docentes, bem como pelos demais profissionais de saúde em lidar com o fenômeno morte/morrer.21
Ao cuidar da pessoa que vivencia a terminalidade da vida, os acadêmicos preocupam-se com a terapêutica e a atitude obstinada dos enfermeiros em salvar o paciente terminal, o que demonstra elevada obstinação da enfermagem.18
Neste sentido, evidencia-se elevado envolvimento emocional do enfermeiro que vivencia o morrer/morte, o que caracteriza interesse e preocupação pela excelência do exercer profissional nesta etapa da vida. Frente ao exposto, os autores apontam ser fundamental a adoção de estratégias que auxiliem a redução da ansiedade e do medo inerente aos cuidados paliativos, visto que estas questões podem afetar a qualidade dos cuidados prestados aos doentes terminais.18
Os cursos de graduação atribuem pouca ou nenhuma importância à temática da terminalidade da vida, o que promove preocupação visto que na rotina de serviço o encontro do profissional com a morte é inevitável.21 Deste modo, os cursos complementares são estratégias a serem utilizadas no enfrentamento dos sentimentos inerentes aos acadêmicos/ enfermeiros que enfrentarem a finitude da vida de seus pacientes.22
A utilização de cursos on-line que enfoquem a temática da morte, perda e luto são estratégias positivas a serem adotadas com alunos, mas o suporte online deve estar sempre disponível e devem apresentar como princípios incentivo de comunicação entre alunos e professores com atenção pessoal aos alunos, colaboração entre os alunos, aprendizagem ativa, respeito pelos diversos talentos e formas de aprendizagem, comunicação de grandes expectativas, feedback imediato e tempo na tarefa.22
A realização de pesquisas destinadas a compreender a representação social dos docentes e profissionais facilitadores da educação, a cerca do fenômeno morrer/morte, também é vislumbrada como uma estratégia inicial no processo de transformação do ensino-aprendizagem sobre esta temática, pois a compreensão permite a desconstrução, construção e reconstrução dos pilares formativos na academia, refletidos na vida pessoal e profissional dos atores envolvidos na assistência,21 deste modo, as pesquisas fundamentadas na metodologia fenomenológica auxiliam os pesquisadores a vislumbrar seu objeto de estudo.
O cuidado paliativo na terminalidade
O cuidado paliativo na terminalidade perpassa por preocupações éticas no que tange ao fenômeno morte, estando esta atenção relacionada à informação ao cliente, ao acompanhamento em fim de vida e à responsabilidade profissional em intervenções interdependentes.23 Logo, para que haja sucesso na gestão das condutas éticas, a equipe de saúde deve apresentar suporte de liderança, diálogo entre os diferentes profissionais na equipe, adequação física e técnica dos locais de prestação de cuidados, conhecimento do histórico da pessoa assistida, a autoconfiança e a autoestima profissionais.23
Ao prestar o atendimento, o enfermeiro deve atentar-se para as questões éticas, sendo estas: consentimento e recusa da proposta terapêutica, dilemas na informação, atuação diante dos processos de morrer e decisão de não reanimação e respeito pelos direitos humanos em contextos desfavoráveis.23
O cuidado paliativo deve promover conforto o qual pode ser resultante de práticas de cuidar em saúde e em enfermagem, conciliando racionalidade, sensibilidade, dignidade do paciente e sua família.24 Deste modo, a prestação de cuidados não deve ser focada apenas a pessoa que vivência a terminalidade da vida, mas deve ser também focada na família.25
A investigação das relações familiares pode favorecer a compreensão e a ajuda aos pacientes quando o cuidado paliativo é prestado em domicílio25 e a identificação do momento ideal para encaminhar o paciente para receber os cuidados paliativos em domicílio é associado pela família como qualidade de morte e morrer.26
Os profissionais de enfermagem que atuam junto a pacientes que vivenciam a morte sofrem exaustão emocional e o sentimento de sofrimento passa por exarcebação. Desta forma, torna-se relevante o suporte emocional para estes profissionais, auxiliando-os no reparo emocional e capacitando-os para a execução do cuidado paliativo.27
A doação de órgãos após a finitude da vida
A doação de órgãos após a finitude da vida ainda é escassa e este fato se deve a ausência de conhecimento, consciência e atitude frente à tomada de decisão de doar. Logo, para que ocorram mudanças referentes a esta escassez, se faz necessária à compreensão da doação de órgãos e seus conceitos por enfermeiros, médicos, legisladores, religiosos e meios de comunicação, visto que estes atores são fundamentais para que ocorra a mudanças relacionadas a comportamentos e crenças sociais que limitam a doação e transplantes.28
Deste modo, os programas educativos direcionados à população são estratégias fundamentais para reduzir a recusa dos familiares em doar os órgãos viáveis do ente que foi a óbito,29 mas a estratégia educacional deve também ser adotada também junto aos profissionais de saúde, principalmente os enfermeiros que apresentam falta de conhecimento teórico e prático sobre a temática. Frente o exposto, medidas como formação continuada e cursos de reciclagem para os enfermeiros, e campanhas educativas em saúde para a população são atitudes que promovem o conhecimento, sensibilizam e enfatizam a importância da doação.30
CONCLUSÕES
Os resultados advindos do estado da arte permitiram vislumbrar a preocupação acerca do fenômeno morte/ morrer pela enfermagem e demonstraram que por intermédio dos referenciais fenomenológicos os pesquisadores buscam a compreensão “do” fenômeno estudado, pautando suas discussões na fenomenologia social de Alfred Schütz, na existencial de Martin Heidegger e da percepção de Maurice Merleau-Ponty.
O levantamento das publicações demonstrou que as temáticas mais estudadas e que contribuem para a discussão da tanatologia pela enfermagem, abordavam cuidados paliativos, transplantes, ensino e musicoterapia; e que a abordagem fenomenológica buscou a compreensão do sujeito permeado por suas vivências, experiências e significados.
Evidenciamos que a preocupação por esta temática permeia o cenário acadêmico e hospitalar, mas em ambos a preocupação mais latente está ligada a humanização assistencial.
A questão da humanização deve ser trabalhada e instaurada nos acadêmicos que ingressam no curso de enfermagem para que estes possam desenvolver suas habilidades e carrear o que for apreendido por toda a trajetória profissional.
O estudo evidenciou que as produções científicas desenvolvidas pela enfermagem que abordam a temática da tanatologia presam pelo cuidado não apenas durante o processo morte/morrer, mas estende-se ao pós-morte com a temática da doação de órgãos. Foi notório também que os profissionais preocupam-se não apenas com a pessoa que vivencia o fenômeno, mas também com a família envolvida com o cuidado. Esta preocupação demonstra um olhar holístico ao exercer o cuidar, tornando este efetivo e com repercussões positivas sobre a memória dos que recebem os cuidados.
A principal contribuição que este estudo trouxe foi vislumbrar a importância da enfermagem no planejamento, construção e implementação do cuidado paliativo pautado em seu sentido fenomenológico, ou seja, o cuidado é consolidado no modo de ser, atuante no comportamento humano, permitindo que o profissional preste a assistência à pessoa que vivência a morte/morrer sem perder a alteridade.
O estudo apresentou como limitação a ausência de publicações em revistas internacionais, bem como o número reduzido de publicações mesmo que no idioma dos autores indexados em bases internacionais que contribuíssem com a temática e discussão do objetivo.
Deste modo, sugerimos o desenvolvimento de mais estudos de abordagem fenomenológica voltados a questão da tanatologia. Recomendamos que estes estejam relacionados à percepção dos acadêmicos nos últimos períodos de estudo para poder realizar a correlação dos que ingressam no ensino superior e os que estão por ingressar na vida profissional, e estudos voltados a compreender, apreender e desvelar os significados do morte/morrer para os profissionais de enfermagem que prestam o cuidado paliativo nas redes hospitalares/domiciliares.