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Revista Cubana de Plantas Medicinales
versión On-line ISSN 1028-4796
Rev Cubana Plant Med vol.18 no.1 Ciudad de la Habana ene.-mar. 2013
ARTÍCULO ORIGINAL
Aspectos etnobotânicos, fitoquímicos e farmacológicos de espécies de Rubiaceae no Brasil
Ethnobotanical, phytochemical and pharmacological aspects Rubiaceae species in Brazil
Aspectos etnobotánicos, fitoquímicos y farmacológicos de especies de Rubiaceae en Brasil
MSc. Renata Kelly Dias Souza, MSc. Ana Cleide Alcantara Morais Mendonça, Dra. Maria Arlene Pessoa da Silva
Universidade Regional do Cariri. Crato, CE, Brasil.
RESUMO
Introdução: no Brasil, é crescente o estudo das plantas medicinais em resposta a tendência mundial de preservação da biodiversidade, pautada na ideia de desenvolvimento sustentável.
Objetivo: o trabalho visou o registro e resgate de informações etnobotânicas, farmacológicas e fitoquímicas de espécies da família Rubiaceae.
Métodos: o compilamento bibliográfico contemplou publicações contemplando o uso, fitoquímica e farmacologia de espécies de Rubiaceae no Brasil.
Resultados: foram compiladas um total de 104 espécies alocadas em 43 gêneros, sendo a maioria utilizadas como medicinal. Registrou-se uma gama diferenciada de alcalóides, flavonóides, iridóides e terpenóides e atividades farmacológicas anti-sifilíticas, antiasmática, antianêmica, antiangiogênica, antiinflamatória, antitumoral e antioxidante.
Conclusão: há uma carência de estudos etnobotânicos específicos para a família Rubiaceae havendo uma prevalência de estudos químicos e farmacológicos nas regiões Sudeste e Sul do país.
Palavras-chaves: etnobotânica, usos, farmacologia, fitoquímica, Rubiaceae, Brasil.
ABSTRACT
Introduction: in Brazil, there has been growing interest in the study of medicinal plants in response to recent global trend of concern for biodiversity, based on the idea of sustainable development.
Objective: to register and to rescue ethnobotanical, pharmacological and phytochemical species of Rubiaceae family.
Methods: the compiled literature covered publications that addressed the use, phytochemistry, and pharmacology of Rubiaceae species in Brazil.
Results: a total number of 104 species distributed into 43 genera, mostly used as medicines, has been compiled. A varied range of alkaloids, flavonoids, terpenoids and iridoids, as well as various pharmacological anti-syphilitic, antiasthma, antianemic, antiangiogenic, antiinflammatory, antitumor, and antioxidant properties were registered.
Conclusions: there is a lack of specific ethnobotanical studies on the Rubiaceae family and there is a prevalence of chemical and pharmacological studies in the Southeast and the Southern regions of the country.
Key words: ethnobotanical, uses, pharmacology, phytochemistry, Rubiaceae, Brazil.
RESUMEN
Introducción: en Brasil, es cada vez mayor el estudio de plantas medicinales en respuesta a la tendencia mundial de conservación de la biodiversidad, basada en la idea del desarrollo sostenible.
Objetivo: registrar y rescatar informaciones etnobotánicas, farmacológicas y fitoquímicas de especies de la familia Rubiaceae.
Métodos: la compilación bibliográfica incluye publicaciones teniendo en cuenta el uso, la fitoquímica y la farmacología de especies de Rubiaceae en Brasil.
Resultados: se han recopilado un total de 104 especies distribuidas en 43 géneros, la mayoría utilizada principalmente como medicina. Se registró un gran número de alcaloides, flavonoides, iridoides y terpenoides, y actividades farmacológicas contra la sífilis, el asma, antianémico, antiangiogénico, antiinflamatorio, antitumoral y antioxidante.
Conclusión: hay una carencia de estudios etnobotánicos específicos para la familia Rubiaceae que tiene una prevalencia de estudios químicos y farmacológicos en el sudeste y sur del país.
Palabras clave: etnobotánica, usos, farmacología, fitoquímica, Rubiaceae, Brasil.
INTRODUÇÃO
A maioria dos povos ou etnias globais usam plantas medicinais ou seus derivados, no tratamento dos males que afetam a saúde. Nos países em desenvolvimento, é uma prática comum com um contingente de 80 % da população dependente da medicina popular.1
O conhecimento tradicional dos recursos biológicos configura-se culturalmente importante uma vez que subsidia a sustentabilidade dos mesmos. Nesse sentido, percebe-se uma intensificação de estudos etnobiológicos, sendo a etnobotânica, a ciência que mais progrediu na análise do saber local.2
O saber tradicional, construído a partir das experiências e interações das populações locais ou indígenas com o ambiente, é passível às mudanças em resposta a inovações, experimentações e pressões ambientais externas,3 podendo desaparecer com o tempo, sendo assim, as populações locais atuam como um elo de união entre o saber científico e o saber tradicional, visando o registro desse conhecimento e contribuindo com o planejamento de estratégias de desenvolvimento e conservação.4
No Brasil, tem crescido o interesse pelo estudo das plantas medicinais em resposta a recente tendência mundial de preocupação com a biodiversidade, pautada na ideia de desenvolvimento sustentável.5 É comum, no comércio brasileiro a venda de uma quantidade expressiva de espécies vegetais que se destinam ao tratamento de diversas enfermidades, e, recentemente aparecem como componentes de muitos produtos industrializados, comercializados como drogas vegetais e/ou fitoterápicos.1
O uso de plantas medicinais e da fitoterapia, encontram-se em ascensão mundial e endossam um mercado promissor,6 com cerca de 50 % de plantas utilizadas na alimentação, 25 % na indústria cosmética, 20 % na indústria farmacêutica e 5 % em outras atividades, estimando-se em 10.000 o número de espécies vegetais medicinais.1
As pessoas se utilizam de uma diversidade de espécies vegetais procedentes de vários sítios ecológicos naturais ou antropizados, no entanto, sabe-se que a maioria das plantas medicinais nativas são adquiridas em áreas silvestres e, que as mesmas, estão sujeitas a ameaças que podem levá-las à extinção, isso por que nem todas as pessoas envolvidas no processo de aquisição desses recursos, conhecem ou estão comprometidas com formas adequadas de sua obtenção,4 nestas circunstâncias estudos que fomentem informações acerca dessas espécies tornam-se relevantes.
A família Rubiaceae é a maior da ordem Gentianales, com cerca de 650 gêneros e 13 000 espécies7 que corresponde a 66 % do total das Gentianales.8 Estudos filogenéticos mais recentes propõem a divisão de Rubiaceae em três subfamílias: Rubioideae, Cinchonoideae e Ixoroideae.9,10
Diversas espécies de Rubiaceae detém importância econômica, sendo utilizadas como alimentícias, ornamentais, na indústria farmacêutica, como medicinais e/ou tóxicas.11
No intuito de amenizar a escassez de estudos relativos à etnobotânica de espécies de Rubiaceae, objetivou-se registrar, e reaver informações etnobotânicas, assim como farmacológicas e fitoquímicas, quando existentes, através de referencial bibliográfico para o país de Rubiaceae, uma vez que, a abordagem etnomedicinal e farmacológica para a família revela que diversas propriedades têm sido evidenciadas para algumas espécies e, apesar de comprovações acerca de suas variadas propriedades químicas e farmacológicas, é negligenciada em estudos etnobotânicos específicos
MÉTODOS
O compilamento bibliográfico contemplou publicações abrangendo o uso, fitoquímica e farmacologia de espécies de Rubiaceae no Brasil. As ferramentas de busca utilizadas foram: Googleacademico (http://www.googleacademico.com), Scopus (http://www.scopus.com), ScienceDirect (http://www.sciencedirect), Scirus (http://www.scirus.com), Webscience (http://www.webscience.org). Além de revistas especializadas como Journal of Ethnofarmacology, Revista Brasileira de Farmacognosia, e Química Nova, utilizando-se como indexadoras as palavras: plantas medicinais, etnobotânica, Rubiaceae, fitoquímca, farmacologia e prospecção fitoquímica e suas correspondentes em inglês. As pesquisas compiladas foram desenvolvidas no período compreendido entre 1991 a 2010.
Para revisão dos nomes científicos, sinonímias e hábitos das espécies foram consultados o Angiosperm Phylogen Group (APG III), Missouri Botanical Garden (Mobot), Lista de Espécies da Flora do Brasil e The International Plants Names Index (IPNI).
RESULTADOS
A bibliografia consultada revelou um total de 102 estudos etnobotânicos (80,9 %), 20 estudos fitoquímicos (15,87 %) e oito estudos farmacológicos (6,34 %) perfazendo um total de 126 trabalhos, observando-se uma maior concentração dos mesmos, nas regiões Sul e Sudeste do Brasil.
Nesse estudo foi inventariado um total de 103 espécies alocadas em 43 gêneros cujos nomes populares, usos, hábitos, indicações, fitoquímica e farmacologia estão explicitados na tabela.
Tabela. Partes utilizadas para 36 espécies de Rubiaceae
Espécie/vernáculo | Parte | Uso | Indicação | Hábito | Fitoquímica | Farmacologia |
Alibertia verrucosa S. Moore | fruto | alimentícia | | arbusto | | |
Amaioua guianensis Aublet | raízes | medicinal, construção | constipação, espasmo menstrual e verminoses; subsistência | arbóreo | alcalóides | |
Augusta longifolia (Spreng.) Rehder | flavonóides, cumarinas e triterpenos | |||||
Bathysa cuspidata (St. Hil.) Hook. f. ex K. Schum. | casca | medicinal | febre, tônico, eupéptico substituto da quina contra malária | |||
Borreria cf. galianthes (Aubl.) Schum. | raíz | medicinal | desinteria | herbáceo | antidessentérica | |
Borreria latifolia (Aubl.) Schum. poaia-do-campo | medicinal | expectorante e vomitativa | herbáceo | |||
Borreria verticillata (L.) G. Meyer | folha, raíz | medicinal | cólica menstrual, tosse, hemorróida, vermes, corrimento vaginal, impotência, mágico-religiosa, coceira, lesões de pele | herbáceo | ||
Canthium sp. | contra S. aureus, B. subtilis e Mycobacterphlei | |||||
Chimarrhis turbinata DC. | alcalóides indólicos monoterpênicos | |||||
China sp. | medicinal | gastrite, depurativo, casca | arbóreo | |||
Chiococca alba (L.) Hitchc. | raíz, casca da raíz | medicinal | auxilia crianças a andar, doenças venéreas, indigestão, reumatismo, diurético, purgativo, hidragoga, emenagoga, febrífuga, mordedura de cobra, cicatrizante, abortivo, leucorréia, micoses e linfantismo | glicosídeos cardiotônicos, saponinas, taninos, flavanóides, alcaloides e um triterpeno, alcalóides, iridóides e ácidos fenólicos, antraquinonas, fenilpropanóides e ácido ursólico | antiasmática, anti-hidrópica, analgésico | |
Chiococca brachiata Ruiz & Pav. | raíz | medicinal | emética, diurética | |||
Chomelia obtusa Cham. & Schltdl. | 1-O-metil-inositol (bornesitol), 3,5- e 4,5-O-dicafeoilquínico, cafeoíla, olefínicos, glicosilados do ácido quinóvico e de ácidos clorogênicos | |||||
Cinchona calisaya Wedd. | casca | medicinal | debilidade física, anemia, estimulante do apetite, distúrbios gastrointestinais, febres malária e fadiga geral | arvoreta | quinino e quinidina | antiarrítmico, doenças infecciosas e parasitárias |
Coffea arabica L. | semente | medicinal, alimentícia | má circulação, estimulante, tónico, relaxante, alimentícia, abortivo, vertigem, doenças do aparelho respiratório | arbusto | cafeína, teofilina e teobromina | |
Coffea canephora Pierre ex. Frehn | folhas | acaricida | ||||
Coffea liberica W. Bull ex Hiern | folhas | acaricida | ||||
Coffea racemosaLour | folhas | acaricida | ||||
Coffea salvatrix Sw. & Philipso | folhas | acaricida | ||||
Coffea stenophylla G. Don. | folhas | acaricida | ||||
Cordiera concolor (Cham.) Kuntze | caule | madeireira | arbóreo | |||
Cordiera edulis (Rich.) Kuntze | medicinal | arbusto | ||||
Cordiera myrciifolia (K. Schum.) C.H.Perss. & Delprete | corimbosina, letedocina, apometzgerina, acacetina, apigenina | |||||
Cordierabrigida K. Schum. | medicinal | arbóreo | ||||
Cordiera sessilis (Vell.) Kuntze | folhas e ramos | medicinal | afecções da pele | |||
Coussarea hydrangeifolia (Benth.) Müll. Arg. | medicinal | arbóreo | ||||
Coutarea hexandra (Jacq.) K. Schum. | folha, casca | medicinal, ornamental | bronquite, tosse,febre, seborréia, caspa, diabetes, inflamação em geral, influenza malária, hepatite, afinar o sangue e sinusite, febre dor de cabeça, fraqueza, estômago, malária, febres intermitentes, paludismo, feridas e inflamações, cálculos biliares e dores de vesícula | arbóreo | vitaminas, flavonóides, cumarinas | |
Deianirae rubescens Cham. & Schltdl. | flavonóides e taninos | |||||
Diodella radula (Willd. ex Roem. & Schult.) Delprete | medicinal | |||||
Duroia hirsuta (Poepp.) K. Schum. | flavonóide: metoxiflavona, hiridóide: duroína | |||||
Duroia saccifera (Schult. & Schult.f.) K.Schum. | triterpenóides alcalóides, esteróides, fenóis simples, flavanonas e flavanonóis | |||||
Emmeorhiza umbellata (Spreng) K. Schum. vassourinha-de-botão | flor | medicinal | febre, intoxicação alimentar e digestão | herbáceo | ||
Faramea cyanea Müll.Arg. cafezeiro, | caule | madeireira construção civil | arbóreo | |||
Ferdinandusa sp. | triterpenóides alcalóides, esteróides, fenóis simples, flavanonas e flavanonóis | |||||
Genipa americana L. | folhas, cascas e fruto, raízes | medicinal, construção, marcenaria, alimentícia, oleaginosa, tinturaria, ornamental, madeireira, apícola e forrageira | tosse, anemia, contusões, luxações; depurativo, catártica, faringites; purgativas,febrifuga, afrodisíaco, tônico, diurético, afecções do baço, fígado, icterícia, ferimentos, curar a ruptura do umbigo dos recém-nascidos, construção civil, carpintaria | arbóreo | iridóide, taninos, ácido geniposídico, geniposídeo, gardenosídeo, genipina-gentiobiosídeo, genipacetal, genipaol, iridóides: genipina, gardendiol | antiulcerogênica, antidiarréica, antigonorréica, anti-sifilíticas, antiasmático, antianêmico, antiangiogênica, antiinflamatória e antioxidante |
Gonzalagunia rosea Standl | apresentaram atividade moderada contra Candida albicans e forte contra Fusariumsolani | |||||
Guettarda angelica Mull. Arg. | raíz | medicinal | cólica menstrual, constipação, febre | arbóreo | ||
Guettarda platypoda D.C. | raíz | medicinal | febre, cólica menstrual | arbusto | iridóides, triterpenos, glocosídios | |
Guettarda rhabdocalyx Müll. Arg. | raíz | |||||
Guettarda viburnoides Cham. & Schltdl. | caule | madeireira | construção de casas | arbóreo | ||
Hamelia patens Jacq. | planta inteira, folha, flor | ornamental, medicinal | brotoejas, acnes, queimaduras, coceiras, cortes, micoses, picadas de insetos, problemas menstruais, dores de parto | arbóreo | flavonóides e alcaloides oxindólicos | anti-inflamatório, antirreumático e antitérmico |
Ixora finlaysoniana Wall. | planta inteira | ornamental | arbusto | |||
Ixora macrothyrsaTeijsm. et. Binn. | planta inteira | ornamental | arbusto | |||
Ixora undulata Roxb. | planta inteira | ornamental | arbusto | |||
Ixora chinensis Lam. | planta inteira | ornamental | arbusto | |||
Ixorea coccínea L. | planta inteira | ornamental | subarbusto | |||
Ixorea coccinea L. var. compacta Hort. | planta inteira | ornamental | arbusto | |||
Mitracarpus frigidus (Willd. ex Roem. & Schult.) K.Schum. | medicinal | alcalóides, esteróides, saponinas, abtraquinonas, leucoantocianidinas, taninos, catequinas, flavonóides | antimicrobiana citotóxica, antioxidante e leishmanicida | |||
Morinda citrifolia L. | fruto, exsudado do caule, folhas | tingimento de tecidos; medicinal, alimentícia | alergia, artrite, asma, infecções bacterianas, câncer, diabetes, hipertensão, distúrbios menstruais, musculares, obesidade, úlceras gástricas, dores de cabeça, inibição sexual, insônia, depressão, estresse, problemas respiratórios | atividade anti-inflamatória, antiviral, antibacteriana, antitumoral, analgésica, imunomoduladora, anti-angiogênica e antioxidante | ||
Mussaenda alicia Hort. | planta inteira | ornamental | arbusto | |||
Mussaenda erythrophylla Sch. et Thon. | Planta | ornamental | arbusto | |||
Mussaenda frondosa L. | Planta inteira | ornamental | arbusto | |||
Mussaenda incana Wall. | Planta inteira | ornamental | arbusto | |||
Mussaenda philippica A. Rich. | planta inteira | ornamental | arbusto | |||
Palicourea coriacea (Cham.) K. Schum. | medicinal | obesidade, rins, calmante, subsistência | ||||
Palicourea corymbifera (Müll. Arg.) Standl. | leucoantocianidinas alcalóides, esteróides, fenóis simples, flavanonas e flavanonóis | |||||
Palicourea crocea (Sw.) Roem & Schult. | folhas | veneno | rato | |||
Palicourea longiflora DC. | contra Bacillus sp., B. subtilis, Staphylococcus aureus e Escherichia coli | |||||
Palicourea marcgravii St. Hil | frutos e folhas | veneno | triturados com azeite para envenenamento de ratos | saponina ácida e ácido monofluoracético | ||
Palicourea rigida H. B. K. | raíz, casca e folhas | medicinal | depurativo, doenças renais, inflamações do aparelho, feminino, hepatite, malária | arbusto | iridóides | |
Pentas lanceolata Schum. | planta inteira | ornamental | herbáceo | |||
Posoqueira acutifolia Mart. | antimicrobiano, cicatrizante e anti-inflamatório | |||||
Posoqueria bahiensis L. Macias & L.S. Kinoshita | alimentícia | |||||
Posoqueria longiflora Aubl. | alimentícia | |||||
Posoqueria macropus Mart. | alimentícia | |||||
Psychotria brachyceras Müll. Arg. | brachycerina | |||||
Psychotria bracteocardia (DC.) | entrecasca | veneno | matar rato | |||
Psychotria carthagenensis Jacq. | folhas | rituais religiosos | ayahuasca | arbusto | antifúngica, antibacteriana | |
Psychotria coccinea Poit. ex. DC | toda a planta | medicinal | inchações, dores no fígado e nos rins | arbusto | ||
Psychotria colorata (Willd. ex R. & S.) Müll. Arg. | folhas | medicinal | combate a dor | arbusto | ||
Psychotria ipecacuanha (Brot.) Stokes | raízes e rizomas | medicinal | malária, doenças respiratórias, gastrite, disenteria, verme, câncer, dentição, vomitivo | herbáceo | emetina, cefelina, psicotrina | anti-inflamatório |
Psychotria leiocarpa Cham. & Schltdl. | N-β-d- glucopiranosilavincosamida e iridóidesasperulosídeo e acetilasperulosídeo | |||||
Psychotria microlabrasta L. (Sphalm) | atividade antimicrobiana | |||||
Psychotria myriantha Mull. Arg. | myrianthoisinas A e B, e ácido estrictosidínico | |||||
Psychotria nuda (Cham. & Schltdl.) Wawra | estrictosamida | |||||
Psychotria prunifolia (Kunth) Steyer | estrictosamina, prunifolina, prunifoliona, EPP26.2 e EPP28.1 | atividade citotóxica e antitumoral; razoável atividade antifúngica | ||||
Psychotria rigida H.B.K. | toda a planta | veneno | matar rato | herbáceo | ||
Psychotria suterella Müll. Arg. | lialosídio e estrictosamida | |||||
Psychotria umbellata Thonn. | umbelatina e psicolatina- | atividade ansiolítica e anticonvulsivante | ||||
Psychotria viridis Ruiz et Pavon | folha | rituais religiosos | cerimônias e ayahuasca | subarbusto | N,N-dimetiltriptamina | |
Randia formosa K. Schum. | planta inteira | ornamental | herbáceo | |||
Randia nitida (Kunth) DC. | caule | madeira | fabrico de carro-de-boi | arbóreo | ||
Relbunium hirtum Schum | ramos com folhas | Subsistência, medicinal | problemas no estômago, vassoura | herbáceo | ||
Richardia grandiflora (Cham. & Schl.) Schult. & Schult | raíz | medicinal | bronquite, catarro, diarreia e dentição, vermicida | herbáceo | ||
Richardia brasiliensis Gomes | raízes | medicinal | expectorante, emética, diaforética, vermífuga e para o tratamento de hemorróidas | herbáceo | heterosídeosantraquinônicos, esteróides e triterpenóides, flavonóides, saponinas, taninos, alcalóides, cumarinas e resinas | antimicrobiana (S. aureus, M. luteus, M. roseus, sporogenes, |
Rudgea viburnoides (Cham.) Benth. | folha, raíz | medicinal | rins, regimes para emagrecimento; decocção, garrafada | arbusto | taninos, flavonóides, triterpenos e saponinas. | moderada atividade antifúngica diuréticas, hipotensoras, antirreumáticas e depurativas |
Salzmannia nitida DC. | medicinal | dor de dente | ||||
Serissa foetida Lam. | planta inteira | ornamental | arbusto | |||
Simira sampaioana (Standl.) Steyer | caule | construção civil, madeireira | ||||
Simira sp. | tintorial, madeireiro, artesanal e ornamental | |||||
Spermacoce tenella Kunth | medicinal | herbáceo | ||||
Spermacocea verticillata L. | ramos | medicinal | dor de barriga; cólica menstrual, disenteria, abortivo emplastro para queimaduras | herbáceo | borrerina, barrerina, iridóidesdafilosídico, esperulosídico e ácido asperulosídico | inibição de bactérias |
Tocoyena brasiliensis Mart. | folha | medicinal, alimentícia | queimadura, reumatismo | |||
Tocoyena bullata (Vell.) Mart. | planta inteira | ornamental | arbusto | |||
Tocoyena formosa (Cham. & Schltdl.) K. Schum. | entrecasca, folhas, flor e fruto | medicinal | tosse, torção, cistite, reumatismo, problemas renais, cardíacos, fígado, cistite | arbusto | ||
Tocoyena guianensis K. Schum. | casca | medicianal | contusões, luxações | arbóreo | ||
Tocoyena sellowiana (Cham. & Schltdl.) K. Schum. | casca | medicianal | contusões, luxações | arbóreo | ||
Uncaria tomentosa (Willd. ex Roem. & Schult) DC. | caule, folha, flor, raíz | medicinal | câncer, gastrite, reumatismo, afecções epidérmicas | herbáceo | alcaloides indólicos, triterpenos e diterpenos, alcaloides oxindólicos | |
Uncaria guianensis (Aubl.) J.F.Gmel. | alcaloides indólicos |
Os estudos etnobotânicos compreenderam um número de 102 artigos e abrangem os diferenciados usos empregados para espécies da família Rubiaceae, tais como: medicinal (40 espécies), ornamental (39 espécies), alimentícia (19 espécies); madeireira (8 espécies); construção civil (6 espécies), acaricida (5 espécies), veneno (5 espécies); tinturas (4 espécies); rituais mágicos e/ou religiosos (3 espécies), forrageira (3 espécies); apícola e artesanal (1 espécie), não houve o relato de uso para 21 espécies. Para as espécies tidas como medicinais as partes utilizadas mais referidas foram: folhas (21), planta inteira (18), raiz/rizoma (16); casca (8), fruto (6); caule (6); flor (4); ramos/parte aérea (3); exsudado do caule (3); entrecasca (2) e semente (1), para 36 espécies não foram mencionadas as partes utilizadas (tabela).
DISCURSÃO
Apesar dos estudos etnobotânicos ter prevalecido em número, é válido ressaltar que nenhum é específico para Rubiaceae que sempre aparece como componente de estudos generalizados, sendo oportuno citar como estudo específico para uma dada espécie, o que avaliou os padrões de uso e conservação de Anadenathera columbrina (Vell.) Brenan., no agreste pernambucano.12
A Associação Brasileira da Indústria Fitoterápica (ABIFITO) registra que dos 206 fitoterápicos reconhecidos no Brasil, 89 % são oriundos de plantas européias e das 300 espécies utilizadas popularmente no Brasil, apenas 10 % são nativas.13
Esses dados refletem a relevância da realização de estudos etnobotânicos, que entre outras finalidades, indicam espécies com as quais se podem prosseguir uma investigação ao longo da biologia molecular, propiciando o isolamento de constituintes que impulsionam pesquisas químicas e farmacológicas, que legitimam a existência de princípios ativos, como a emetina, extraída de Cephaelies ipecacuanha, largamente empregadas no tratamento de disenterias e antiemético.14
Em contrapartida, pesquisas farmacologicas e fitoquímicas são essências para comprovação científica do conhecimento popular ou tradicional, como podemos ver na avaliação da atividade antimalárica de espécies conhecidas popularmente por quina tais como: Deianirae rubescens, Strychnos pseudoquinae Remijia ferruginea comumente mencionadas para o tratamento de febre e malária, constatando que das três espécies somente, R. ferruginea, demonstrou efetiva atividade em relação ao parasita reduzindo sua incidência e até mesmo levando-o à morte.15
Estudos fitoquímicos foram realizados em 35 espécies de Rubiaceae, sendo Psychotria sp. o gênero mais estudado provavelmente por sua utilização na obtenção da ayahusca, bebida alucinógena utilizada em rituais religiosos.
A maioria das pesquisas fitoquímicas e farmacológicas realizadas no Brasil são pautadas no isolamento de substâncias ativas, com a intensificação das mesmas a partir da década de 80, quando novos métodos de isolamento foram desenvolvidos, possibilitando a identificação de diverssa substâncias em amostras complexas como os extratos vegetais, ressurgindo o interesse por compostos vegetais que pudessem ser utilizados como protótipos na descoberta de novos fármacos.16
Pautadas na fitoquímica através da utilização de marcadores quimiotaxonômicos tem sido propostos reposicionamento de espécies vegetais dentro das famílias e/ou subfamílias botânicas, uma vez que os mesmos auxiliam na identificação dos constituintes químicos isolados, possibilitando a identificação das espécies como mostrado em.17,18
As espécies da família Rubiaceae apresentam grande plasticidade quanto a sua composição química, apresentando uma variedade de compostos químicos como: flavonódies, iridóides, alcalóides, terpenos, demonstrados em diversos.18-22
Estudos farmacológicos são relatados para 14 espécies, destacando-se atividades anti-sifilíticas, antiasmática, antianêmica, antiangiogênica, antiinflamatória, antitumoral e antioxidante. Pouco é conhecido a respeito das substâncias químicas responsáveis pelas ações farmacológicas, pois o conhecimento acerca da maioria das espécies restringe-se a dados empíricos e etnofarmacológicos.23
Essa afirmativa exprime a importância da investigação farmacológica das espécies que são mencionadas como medicinais, uma vez que, a maioria das espécies vegetais utilizadas na medicina popular, não tem sua eficácia e toxicidade esclarecidas.
Foram inventariadas um total de 104 espécies distribuídas em 43 gêneros, classificadas em 13 categorias onde a medicinal sobressaiu-se com 40 espécies citadas.
Espécies da família Rubiaceae apresentam um expressivo número de constituintes químicos com o descobrimento de substâncias inéditas para a ciência e potencial atividade farmacológica, sugerindo-se uma maior realização de estudos para as mesmas.
Apesar da predominância em número dos trabalhos etnobotânicos, o presente estudo demonstra a carência deste tipo de pesquisa para Rubiaceae, uma vez que dos 102 artigos analisados nenhum se referia exclusivamente á família e/ou espécie.
Quanto aos estudos farmacológicos e fitoquímicos há uma maior concentração destes nas regiões Sudeste e Sul do Brasil, os quais primam pelo isolamento dos constituintes químicos de espécies desta família.
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Recibido: 18 de noviembre de 2011.
Aprobado: 10 de octubre de 2012.
Renata Kelly Dias Souza. Universidade Regional do Cariri - URCA Rua Senador Pompeu, 52, Centro, CEP: 63100-000. Crato, CE, Brasil. E-mail: renatadiassouza@gmail.com