Introdução
O fenômeno denominado infodemia tem se destacado no contexto da pandemia da COVID-19 devido às suas consequências sobre a saúde pública, sendo considerado um grave problema a ser enfrentado em todo os países.1) A infodemia é definida como o aumento do volume de informações verdadeiras ou não, que se espalharam como uma epidemia, através dos meios digitais e físicos, dificultando a obtenção de fontes confiáveis, uma vez que qualquer usuário com acesso à internet pode publicar qualquer tipo de informação na rede.2 Termos como “explosão de informação”, “sobrecarga informativa” e “infopoluição” podem elucidar o fenômeno da infodemia neste período da história da humanidade.3
Sabe-se que a infodemia tem o potencial de afetar a qualidade de vida das pessoas, diante das disseminações de propagandas, vídeos e notícias inconsistentes podendo causar pânico, medo, ansiedade, fobia e depressão, entre outros.4,5 Além disso, o ato de compartilhar informaçãoes de forma exarcebada e incorreta, aumenta a desinformação, podendo gerar consequências graves, como mortes, racismo, negacionismo, teorias conspiratórias e discriminação.6
Sendo assim, torna-se importante o desenvolvimento de estratégias de enfrentamento contra a infodemia no meio digital. A Organização Mundial da Saúde (OMS) está estabelecendo parcerias para combater a infodemia por meio da criação de recursos globais para verificar fatos e controlar a desinformação, além de medir, sintetizar evidências, traduzir conhecimentos, comunicar riscos, envolver a comunidade. Esforçando-se para desenvolver informações de saúde de forma mais acessíveis e de maior qualidade em diferentes meios digitais, projetados para serem compartilhados e para a rápida disseminação digital por meio de redes sociais.7
Portanto, é preciso entender quais estratégias as produções científicas propõem, e como elas são consolidadas e ressaltadas. Pois, não sabemos quais são as melhores ou o que os gestores e os profissionais de saúde podem fazer de estratégias, tornando assim uma lacuna do conhecimento. Diante disso, este estudo tem como objetivo mapear a produção científica sobre as estratégias propostas e/ou utilizadas para o enfrentamento a infodemias com foco à preservação da saúde adultos e idosos no contexto da pandemia de COVID-19.
Métodos
Trata-se de uma revisão de escopo, que tem como objetivo mapear os conceitos que sustentam um campo de pesquisa, além de esclarecer as definições de trabalho. Diante disso, a escolha dessa metodologia apresenta um grande potencial de explorar a literatura de forma ampla, além de mapear, descrever os resultados e informar pesquisas futuras.8,9
Para o desenvolvimento deste estudo, seguiram-se as nove etapas propostas pela metodologia do Joanna Briggs Institute (JBI), sendo elas: definição e alinhamento dos objetivos e questões; desenvolvimento e alinhamento dos critérios de inclusão com o objetivo e a pergunta; descrição da abordagem planejada para busca de evidências, seleção, extração de dados e apresentação das evidências; busca pelas evidências; seleção das evidências; extração das evidências; avaliação das evidências; apresentação dos resultados; resumo das evidências em relação ao propósito da revisão, estabelecendo conclusões e observando quaisquer implicações das descobertas.8
A questão norteadora elaborada para a revisão foi: “Quais são as produções científicas disponíveis sobre as estratégias propostas e/ou utilizadas para o enfrentamento a infodemias com foco à preservação da saúde de adultos e idosos no contexto da pandemia de COVID-19? Os estudos incluídos nesta revisão de escopo foram selecionados a partir da estratégia mnemônica PCC (População, Conceito e Contexto), conforme orientado pelo protocolo do JBI. Nesta revisão destacou-se como população (P), os adultos (≥ 18 anos); o conceito de interesse (C) são as estratégias de enfrentamento e o contexto (C) a infodemia durante a pandemia de COVID-19.
Foram selecionados artigos nos idiomas inglês, espanhol e português, entre o ano de 2017, quando o termo aparece pela primeira vez, até o dia 3 de janeiro de 2022, devido à necessidade de planejamento para análise crítica dos dados. Foram incluídos estudos observacionais descritivos (séries de casos, relatos de casos individuais e estudos transversais descritivos); estudos experimentais e quase experimentais (estudos controlados randomizados e não randomizados, estudos tipo antes e depois e estudos de séries temporais interrompidos); estudos observacionais analíticos (estudos de coorte prospectivos e retrospectivos, estudos caso-controle e estudos analíticos transversais); estudos qualitativos e revisões sistemáticas.
Foram excluídos os artigos duplicados, estudos que não estão disponíveis na íntegra e publicações que abordam outro tema que não o de interesse deste trabalho. O processo de busca e seleção dos artigos foi realizado nas bases de dados: Web of Science, Scopus, PubMed e Biblioteca Virtual de Saúde (BVS). Ressalta-se que não foi possível incluir a literatura cinzenta devido à grande atualidade do tema pesquisado.
A busca seguiu três etapas distintas, conforme metodologia do JBI: 1) foi realizada uma pesquisa inicial limitada às bases de dados PubMed e Scopus, para identificar a relevância do assunto e a existência de algum estudo relacionado ao tema e, a partir disso, selecionamos palavras chaves e termos que são frequentemente utilizadas; 2) em seguida, montamos nossas estratégia de busca com palavras-chave e termos e depois aplicamos em todas as bases de dados fazendo as adequações para cada uma delas; 3) a terceira etapa consistiu na identificação e seleção dos artigos. As estratégias de busca foram desenvolvidas nos três idiomas propostos e foram adaptadas de acordo com as especificidades das bases de dados e estão descritas no Quadro 1.
Bases de dados | Estratégia de busca | Data de busca |
---|---|---|
PubMed, Web of Science, Scopus, e Biblioteca Virtual de Saúde (BVS) | ((“Confrotetion” AND “Coping”));((“ Infodemic” AND “Disinformation”)); ((“Infodemic AND Misinformation”)); ((“Infodemic” AND “Coping”)); ((“Disinformation” AND “Misinformation”)); ((”Disinformation” AND “Coping”)); ((“Misinformation” AND “Coping”)); (( “Confrotetion” AND “Disinformation”)); (( “Confrotetion” AND Misinformation”)); ((“Confrotetion” AND Infodemic”)). | 03/01/2022 á 11/01/2022 |
Fonte: Elaborado pelos autores, 2022.
Todos os artigos identificados foram enviados para a plataforma Rayyan, desenvolvido pelo Qatar Computing Research Institute (QCRI), na qual foram removidos os artigos duplicados. Após a exclusão dos textos duplicados, uma lista dos títulos foi disponibilizada para dois revisores independentes. A análise dos títulos e resumos foi baseada nos critérios de inclusão. Os títulos selecionados foram recuperados na íntegra.
A extração dos dados teve como base o formulário desenvolvido pelos autores e baseado no formulário sugerido pelo manual JBI.8 Os dados extraídos incluíram título, autores, ano de publicação, tipo de estudo, estratégias de enfrentamento utilizadas, idioma, principais resultados e limitações dos estudos. Além disso, os artigos selecionados foram classificados de acordo com o nível de evidência e o grau de recomendação dos estudos, conforme a classificação do JBI8) e descrito no quadro 2.
Nível de evidência | Grau de recomendação |
---|---|
Nível 1: Estudos experimentais | 1.a -
Revisão sistemática de ensaios clínicos randomizados controlados |
1.b -
Revisão sistemática de ensaios clínicos randomizados controlados e outros desenhos de estudo | |
1.c -
Ensaio clínico randomizado controlado | |
1.d -
Pseudo ensaio clínico randomizado controlado | |
Nível 2: Estudos quase experimentais | 2.a -
Revisão sistemática de estudos quase experimentais |
2.b -
Revisão sistemática de estudos quase experimentais e outros desenhos de menor evidência | |
2.c -
Estudo prospectivo controlado quase experimental | |
2.d -
Pré-teste e pós-teste ou estudo de grupo controle histórico/retrospectivo | |
Nível 3: Estudos analíticos observacionais | 3.a -
Revisão sistemática de estudos de coortes comparáveis |
3.b -
Revisão sistemática de coortes comparáveis a outros estudos de menor evidência | |
3.c -
Estudo de coorte com grupo controle | |
3.d -
Estudo caso controle | |
3.e -
Estudos observacionais sem um grupo controle | |
Nível 4: Estudos descritivos observacionais | 4.a -
Revisão sistemática de estudos descritivos |
4.b -
Estudo transversal | |
4.c -
Séries de casos | |
4.d -
Estudo de caso | |
Nível 5: Opinião de especialista e pesquisas de bancada | 5.a -
Revisão sistemática de opinião de especialistas |
5.b -
Consenso de especialistas | |
5.c -
Pesquisa de bancada/opinião de um especialista |
Fonte: Elaborado pelo JBI, 2014.
Com base nos dados coletados, foi realizada uma análise e uma síntese das principais estratégias de enfrentamento contra a infodemia utilizadas pelos adultos e idosos e proposições de estratégias feitas por pesquisadores para enfrentar esse fenômeno representada através de um quadro.
Além disso, criamos uma nuvem de palavras pelo site Word Art (https://wordart.com/nwl5dq0aletg/nuvem-de-palavras), nos quais selecionamos as estratégias relatadas nas publicações e classificamos com base na incidência que elas aparecem.
Para apresentação dos resultados das etapas de busca utilizamos o diagrama de fluxo do Prisma Extension for Scoping Reviews (Primas-ScR), a qual contribuiu para organização das partes constituintes desta revisão.10 O mapeamento das informações ocorreu através de um banco de dados próprio, investiu-se na leitura em profundidade e análise crítica, com objetivo de observar a relação entre o conteúdo e a questão de pesquisa. Diante dos dados extraídos, foram realizados uma exposição e discussão dos resultados obtidos.
Resultados
Durante a seleção e inclusão dos artigos utilizando o PRISMA, foram detectados 7,353 artigos potencialmente elegíveis (PubMed = 4,741; Scopus = 967; WOS = 786; BVS = 859). Destes, foram excluídos 465 artigos duplicados, detectados pela plataforma Rayyan. Permanecendo-se com 6,886 artigos selecionados para leitura de títulos e resumos, deste total foram elegíveis 266 artigos para leitura na íntegra. Destes foram excluídos 7 artigos pela impossibilidade de acesso ao texto na íntegra, 130 não abordavam estratégias de enfrentamento, 95 tinham como população crianças. Sendo assim, foram selecionados 27 artigos que foram lidos na íntegra, como descrito na figura 1 e extraídos para mapeamento e análise das informações juntamente com a classificação do nível de evidência, como apresentado no quadro 3.
Autores | Título | Bases de dados | Ano | Nível de evidência |
---|---|---|---|---|
Topf JM, Williams PN | COVID-19, Social Media, and the Role of the Public Physician | PubMed | 2021 | 3.c |
Zou W, Tag L | What do we believe in? Rumors and processing strategies during the COVID-19 outbreak in China | PubMed | 2021 | 3.c |
Monastero AA | Science, misinformation and digital technology during the COVID-19 pandemic | PubMed | 2021 | 5.c |
Ahmed N |
The COVID-19 Infodemic: A Quantitative Analysis Through Facebook. | PubMed | 2020 | 4.d |
Ahmed W |
COVID-19 and the 5G conspiracy theory: Social network analysis of twitter data | Scopus | 2020 | 4.d |
Xiang D, Soleymani LL | Confronting the misinformation pandemic | PubMed | 2021 | 2.b |
Bin Naeem S, Kamel BMN | COVID-19 Misinformation Online and Health Literacy: A Brief Overview | PubMed | 2021 | 2.b |
Alonso GP, Alemañy CC | Curbing misinformation and disinformation in the COVID 19 era: A view from Cuba | PubMed | 2020 | 5.a |
Alvarez RA |
The Peru Approach against the COVID-19 Infodemic: Insights and Strategies | PubMed | 2020 | 5.a |
Banerjee D, Meena KS | COVID-19 as an "Infodemic" in Public Health: Critical Role of the Social Media | Scopus | 2021 | 5.a |
Cacciatore MA | Misinformation and public opinion of science and health: Approaches, findings, and future directions | PubMed | 2021 | 5.a |
Caled D, Silva MJ | Digital media and misinformation: An outlook on Multidisciplinary strategies against manipulation | PubMed | 2021 | 5.a |
Dash S, |
Combating the COVID-19 infodemic: a three-level approach for low and middle-income countries | PubMed | 2021 | 5.a |
Eysenbach G | How to fight an infodemic: The four pillars of infodemic management | PubMed | 2020 | 5.a |
Gabarron E, Oyeyemi SO, Wynn R | COVID-19-related misinformation on social media: a systematic review | PubMed | 2021 | 5.a |
Geetha DB | Let Us Flatten the Infodemic Curve… | PubMed | 2021 | 5.c |
Massaran L, Valsa E, Leal T | COVID-19 no Brasil: uma análise sobre o consumo de informações nas redes sociais | Scopus | 2021 | 3.c |
Marcoux T, |
A public online resource to track COVID-19 misinfodemic | PubMed | 2021 | 5.a |
Mheidly N, Fares J. | Leveraging media and health communication strategies to overcome the COVID-19 infodemic. | PubMed | 2020 | 5.a |
Neely S, Eldredge C, Sanders R | Health Information Seeking Behaviors on Social Media During the COVID-19 Pandemic Among American Social Networking Site Users: Survey Study | PubMed | 2021; | 2.c |
Zhu Y, Jiang Y, Emily KV | The Four-Stages Strategies on Social Media to Cope with "Infodemic" and Repair Public Trust: COVID-19 Disinformation and Effectiveness of Government Intervention in China | Scopus | 2020 | 3.c |
Nikhil LK, |
CoVerifi: A COVID-19 news verification system | PubMed | 2021 | 5.a |
Alvarez GJ, Suarez LV, Rojas GA | Determinants of Infodemics During Disease Outbreaks: A Systematic Review | PubMed | 2021 | 5.a |
Guan T, Liu T, Yuan R | Facing Disinformation: Five Methods to Counter Conspiracy Theories amid the COVID-19 Pandemic. | BVS | 2021 | 1.c |
Agley J, |
Intervening on Trust in Science to Reduce Belief in COVID-19 Misinformation and Increase COVID-19 Preventive Behavioral Intentions: Randomized Controlled Trial | PubMed | 2021 | 1.c |
Delgado CE, et al. | Infodemia de COVID-19 e saúde mental de adultos e idosos: uma revisão de escopo | BVS | 2021 | 1.b |
Melissa T, Letícia B | Empowering Users to Respond to Misinformation about COVID-19 | PubMed | 2020 | 5.a |
Fonte: Elaborado pelos autores, 2022.
Grande parte das pesquisas foram publicadas no ano de 2021 (n = 14) na língua inglesa (n = 22), sendo dividida de acordo com a metodologia, em pesquisas empíricas (n = 9), pesquisas teóricas (n = 18). No quadro 4 apresentamos as principais estratégias de enfrentamento contra a infodemia, sendo dividida entre estratégias de enfrentamento utilizadas pelos adultos e idosos e sugestões de estratégia de autores contra a infodemia.
Estratégias de enfrentamento utilizadas pelos adultos e idosos | Sugestões de estratégia de enfrentamento de autores |
---|---|
-Programas educativos para transmitir conteúdos de confiança -Discussão com a família, amigos e profissionais da saúde, sobre as informações recebidas -Usando a intuição e o bom senso, para avaliar as notícias recebidas -Avaliação das fontes de informação e examinando as características linguísticas e visuais de uma mensagem -Verificação de fatos nas redes sociais; orientações dadas pela OMS | -Aplicar medidas de requisitos de impacto para avaliar a qualidade da própria ciência -Repensar o modelo de comunicação e divulgação da ciência para o público em geral -Agências de saúde combatendo a disseminação de notícias falsas, através das mídias sociais -Afirmação de fatos -Alfabetização midiática e informacional -Ações governamentais para lidar com a desinformação -Incentivar o pensamento crítico diante das informações recebidas -Sites -Educação em saúde -Limitar o número de artigos publicados pelos autores -Inoculação |
Fonte: Elaborado pelos autores, 2022.
Além disso, criamos uma nuvem de palavras nos quais selecionamos as estratégias mais relatadas nas publicações e as classificamos com base na incidência que elas aparecem, apresentadas na figura 2. Diante disso, foi possível observar que entre as estratégias utilizadas pelos adultos e idosos, a verificação de fatos nas redes sociais (22,22 %) foi a mais mencionada pelos estudos; seguida da busca de informações em fontes confiáveis e por orientações da OMS (11,11 %); mídias sociais (7,4 %) como UOL, Grupo Folha, Record; e o bom senso, intuição e discussão com outras pessoas, tiveram 3,7 % em cada uma.
Já entre as estratégias sugeridas pelos autores, as ações governamentais e alfabetização midiática (22,22 %) foram as mais relatadas; seguida de mídia social (11,11%); rede social e avaliação de fontes (7,4 %). Diante disso, podemos concluir que muitas estratégias utilizadas entre adultos e idosos contra a infodemia, também são semelhantes às sugeridas pelos autores.
Através desta revisão de escopo, foi possível identificar que há poucos artigos específicos que mencionam as estratégias utilizadas pelos adultos e idosos no enfrentamento contra a infodemia no meio digital (n = 6), sendo que a maioria dos estudos retratam as estratégias disponíveis contra a infodemia (n = 14), como por exemplo sites, redes sociais e a OMS e 7 estudos mencionam as sugestões de estratégias dos autores diante desse evento, entre elas, ações governamentais. Esta revisão de escopo contribuiu para o mapeamento das principais estratégias de enfrentamento utilizadas pelos adultos e idosos e sugestões de autores contra a infodemia. Além disso, as estratégias encontradas se referem às informações falsas sobre a COVID-19.
Discussão
Ao considerar os estudos empíricos encontrados nesta revisão, foi possível observar que as estratégias como avaliação e comparação das fontes das informações, foram as mais utilizadas em pesquisa realizada na China.11,12 O contrário ocorreu nos Estados Unidos, já que os adultos e idosos demonstraram mais interesse em conversar com os familiares e amigos sobre as informações recebidas sobre a COVID-19, do que realizar pesquisas sobre o tema.13 Esse mesmo resultado se repetiu no Brasil, em que as mídias sociais como UOL, Grupo Folha, Record e Globo foram as mais utilizadas comparadas aos sites institucionais.14
Além disso, foi possível identificar as estratégias disponíveis para combater as notícias falsas através de sites responsáveis pela verificação e detecção dessas informações, como por exemplo iHealthFacts, Infecciones por Coronavirus, entre outros.15,16,17 Outras ferramentas da web existentes são o Botometer, um sistema para avaliar bots sociais, e o ClaimBuster que monitora discursos ao vivo, mídia social e notícias falsas através de uma verificação de fatos e entrega instantaneamente o resultado ao público.18
Há também um site chamado Cosmos, que tem como objetivo alcançar a população mais vulnerável à desinformação, como idosos ou usuários desinformados da Internet, com um recurso que permite que os usuários enviem narrativas suspeitas para o site, para que ocorra uma análise.19 Tornando-se um meio muito importante, já que foi observado que indivíduos mais velhos detêm a menor alfabetização em mídia digital e são menos capazes de discernir a veracidade das informações, podendo se concentrar na consequência dos boatos.12
As redes sociais também tiveram um papel importante contra infodemia, como Twitter, Instagram e Facebook que anunciaram a implementação de mais restrições ao conteúdo publicado relacionado à pandemia da COVID-19, como por exemplo, o Twitter propôs conter a disseminação de notícias falsas do COVID-19, excluindo contas que espalham fake News.20,21 Porém, ela apresenta limitações, pois só é permitido as informações compartilhadas pelos governos e meios de comunicação selecionados, mas não autoriza a divulgação de organizações científicas ou editores científicos.22
Há também limitações no método de checagem do Facebook, que por mais que seja a mais eficaz comparado às outras mídias sociais23) ela não é suficiente, já que o tempo e o esforço necessários para preparar e divulgar uma desinformação específica, são normalmente menores do que o tempo e o esforço gastos para desmascará-la.24
Além dessas redes sociais, o YouTube e o Podcaster foram campos de atuações de profissionais da área da saúde para transmitir informações confiáveis sobre a pandemia da COVID-19, com a criação de conteúdos para tirar dúvidas e abordar temas relevantes.25 Estudos mostram que as mídias sociais podem ser um canal para o compartilhamento de informações, já que o alcance é rápido e os efeitos são significativos. E somado com um maior controle do uso compulsivo, identificação dos vetores de desinformação e educação para diferenciar as notícias falsas, podem ajudar a combater o surto das informações.21
A Organização Mundial da Saúde (OMS), também contribuiu para combater as notícias falsas, realizando uma nova parceria com a Wikipedia, com intuito de fornecer acesso a informações de saúde iguais e confiáveis.26 Também foram criadas os 4 pilares para enfrentar a infodemia, sendo o primeiro pilar voltado para facilitar a tradução precisa do conhecimento, o segundo se refere ao refinamento do conhecimento, filtragem e verificação de fatos, o terceiro pilar é a construção da alfabetização em eSaúde e o último se refere ao monitoramento, infodemiologia, infovigilância e escuta social.3,19
O Google também criou um “Alerta SOS”, sobre COVID-19 em vários idiomas e esforçou-se para que a OMS e suas contas de mídia social fossem as primeiras fontes de informação que o público veria ao usar o mecanismo de pesquisa.20
Através de uma revisão de escopo realizada pelo Alvarez,27 foram destacadas as principais medidas para combater a desinformação em saúde. Como por exemplo, desenvolvimento de programas informativos, para intervenção profissional e melhor transferência de conhecimento; melhorar os conteúdos relacionados à saúde, promovendo o desenvolvimento de produtos multimídia contendo fontes confiáveis como instituições acadêmicas e organizações de saúde.
Foi possível identificar sugestões de estratégias de autores para combater a infodemia, como limitar o número de artigos publicados por pesquisadores e avaliar a qualidade da própria ciência. Além disso, a televisão, jornais e estações de rádio também poderiam ser usadas para combater as notícias falsas através de programas.28
A figura de uma autoridade com um número considerável de seguidores, também poderia ter uma forte influência sobre os usuários, através de orientações diante das notícias falsas.26 Outras ações governamentais como a aplicação de multas e até a prisão de líderes ou propagadores de desinformação, são também mencionadas.15
Alguns autores também defendem a entrega de alertas no momento da exposição inicial à desinformação, correção de um mito de forma mais detalhada, investigar a origem da fonte, alfabetização midiática.29,30,31,3,27
Outra abordagem mencionada é a prebunking, por exemplo, inoculação, pois observa-se que as intervenções prebunking ativas (jogos online) e passivas (infográficos) visando desinformação e notícias falsas melhoraram a capacidade dos indivíduos a identificarem informações falsas sobre o COVID-19, e também reduzem a vontade de compartilhá-las.24
Algumas outras estratégias incluem medidas preventivas, imediatas e a longo prazo. Como por exemplo, educar a população diante das definições dos termos relevantes como infodemia, notícias falsas e desinformação de forma clara e sem jargões, promoção de pesquisas científicas, checagem de fatos nas redes sociais, alfabetização e literacia em saúde. Outra medida de longo prazo é incorporar a educação em infodemiologia nos currículos escolares e universitários.33,34
Alguns autores sugerem que as informações recebidas sejam analisadas criticamente, como avaliar a fonte, a informação como todo, os autores e as instituições vinculadas, data, hora, referências e verificadores de fatos como a Organização Mundial da Saúde e sites governamentais.35
Há também recomendações para combater a infodemia de COVID-19 direcionadas para a população, como denunciar os rumores e notícias falsas; para os profissionais de saúde, que consiste em disseminar informações para a população durante as visitas domiciliares e promover a educação em saúde; para os produtores de conteúdo, transmitindo mensagem de ajuda, orientações e além de combater a divulgação de imagens perturbadoras; e para os gestores cabe desenvolver e disponibilizar fontes de informação confiável e desenvolver políticas para o incremento da literacia digital em saúde, entre outras medidas.32,36,37
Sendo assim, para combater a desinformação é importante que a “verdade” seja mais interessante do que notícias falsas. É através do incentivo da ciência, com investimentos públicos e privados, além de medidas de modelo de comunicação e divulgação da ciência para o público, que se torna possível o enfrentamento contra a infodemia.28
É importante entender como acontece a disseminação e compartilhamento de informações, para identificar a origem, como se espalham, quem as compartilha e, assim, incentivar os indivíduos a terem um comportamento informacional adequado e promover intervenções específicas. A partir disso, é essencial que o indivíduo tenha um pensamento crítico diante das informações encontradas e em caso de dúvidas, não compartilhá-la, optando por fontes de órgãos governamentais.1,2
Durante esta revisão de escopo foi possível observar que as estratégias de enfrentamento encontradas foram utilizadas contra a infodemia da COVID-19, mas isso não impede que essas mesmas estratégias sejam utilizadas para enfrentar outras infodemias.
Algumas limitações devem ser consideradas neste estudo. Durante a busca não obtivemos muitos estudos de metodologia empírica especificando as estratégias de enfrentamento utilizadas pelos idosos e adultos. As estratégias encontradas eram contra as notícias falsas, e não com a infodemia de forma geral. Grande parte dos estudos encontrados apresentou viés durante a seleção, no qual a população idosa foi menos frequente, sendo assim, são necessários estudos mais específicos com essa faixa etária. Sugerindo o desenvolvimento de novas pesquisas que preenchem as lacunas citadas e com desenhos metodológicos mais robustos.
Conclusão
A necessidade de conhecer as estratégias de enfrentamento utilizadas pelos adultos e idosos são essenciais para o desenvolvimento de novas estratégias e aprimoramento das que já estão disponíveis. Entre elas, o meio digital, que por sua vez pode trazer informações falsas, como verdadeiras. Para que esse método seja eficaz é necessário investir em ferramentas que façam com que as informações sejam acessadas de forma clara, direta e objetiva, sem que haja fake News. Promovendo assim, a comunicação e não a desinformação. Os estudos incluídos nesta revisão apoiam a realização de pesquisas futuras e esperamos que as lacunas aqui apresentadas possam contribuir para o desenvolvimento de novas pesquisas.