SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.32 número2Eficacia de intervención educativa en conocimientos de cuidadores para prevenir el maltrato del adulto mayorLa prueba tuberculínica y el trabajo "invisible" de enfermería índice de autoresíndice de materiabúsqueda de artículos
Home Pagelista alfabética de revistas  

Servicios Personalizados

Revista

Articulo

Indicadores

  • No hay articulos citadosCitado por SciELO

Links relacionados

  • No hay articulos similaresSimilares en SciELO

Compartir


Revista Cubana de Enfermería

versión impresa ISSN 0864-0319versión On-line ISSN 1561-2961

Rev Cubana Enfermer vol.32 no.2 Ciudad de la Habana abr.-jun. 2016

 

ARTÍCULO DE REVISIÓN

 

Produção de subjetividade dos sujeitos envolvidos na entrevista para doação de órgãos: olhar da enfermagem

 

Producción de subjetividad de los sujetos involucrados en la entrevista de la donación de órganos: mirada de la enfermería

 

Production of subjectivity of persons involved in the interview of organs donation: a view from nursing

 

 

Paula Isabella Marujo Nunes da Fonseca; Aline Schultz Balistieri; Cláudia Mara de Melo Tavares

Universidade Federal Fluminense - UFF/ Niterói. Rio de Janeiro, Brazil.

 

 


SUMÁRIO

Introdução:
sabe-se ainda que nos últimos anos houve aumento de pouco mais de 35 % em transplantes de órgãos e de mais de 160 % em transplantes de tecidos realizados no país. Com o crescimento posto da área, entende-se ser de grande relevância conhecer a produção de subjetividades dos sujeitos envolvidos neste processo, identificando-as para que subsidiem estudos posteriores dadas as lacunas de conhecimento concernentes a este cenário..
Objetivos: investigar a produção de subjetividade das pessoas envolvidas no processo de doação de órgãos com base nas ideias de Vygotsky.
Métodos: revisão integrativa que coleta dados de MEDLINE, SciELO e LILACS, e também nas bibliotecas virtuais de universidades nas regiões sul e sudeste do Brasil, com destaque nas regiões transplantes.
Conclusão: devido à fragilidade do processo de doação e a carga emocional dos profissionais envolvidos neste processo, as grandes demandas subjetivas que devem ser conhecidos para que ele possa promover a saúde mental são gerados.

Palavras-chave:
emoção; pessoal de saúde; entrevista; doação de órgãos.


RESUMEN

Introducción: en los últimos años ha aumentado un poco más de 35 % los trasplantes de órganos y más de 160 % los trasplantes de tejidos realizados en el país. Con área de crecimiento conjunto está destinado a ser de gran importancia para conocer la producción de la subjetividad de los sujetos implicados en este proceso, la identificación de ellos para subvencionar estudios adicionales, dadas las lagunas respecto a este escenario.
Objetivos: investigar la producción de literatura sobre la subjetividad de las personas involucradas en el proceso de la donación de órganos sobre la base de las ideas de Vygotsky.
Métodos: revisión integradora que recoge los datos de MEDLINE, SciELO y LILACS, y también en las bibliotecas virtuales de las universidades en el sur y sureste del Brazil, regiones destacadas en trasplantes.
Conclusión: debido a la fragilidad del proceso de donación, y la carga emocional de los profesionales que intervienen en este proceso, se generan grandes demandas subjetivas que deben ser conocidas para que se pueda promover su salud mental.

Palabras clave: emoción; personal de salud; entrevista; donación de órganos.


ABSTRACT

Introduction: in recent years, organ and tissue transplantations performed in the country have increased respectively by just over 35% of more than 160%. This area of joint increase is intended to be of great importance to know the production of subjectivity of the subjects involved in this process, identifying them to fund additional studies, given the gaps on this scenario.
Objectives: to investigate the literature production about the subjectivity of people involved in the process of organs donation on the base of Vygotsky's ideas.
Methods: integrative review that collects data from MEDLINE, SciELO and LILACS, and also in virtual libraries of universities in the south and southeast of Brazil, outstanding regions in the transplantation sphere.
Conclusion: due to the fragility of the donation process and the emotional burden of the professionals involved in this process, huge subjective demands are produced which must be known, so that it can promote mental health.

Key words: emotion; health staff; interview; organs donation.


 

 

INTRODUÇÃO

O presente estudo nasceu da necessidade de ser construído o estado da arte para dissertação de mestrado que trata sobre emoções vividas no momento da entrevista familiar para doação de órgãos. A partir daí, julgou-se relevante realizar o levantamento do que se tem publicado a respeito da produção de subjetividade dos sujeitos envolvidos no processo da doação de órgãos.

Para fins de contextualização entendemos ser importante esclarecer que o processo de doação de órgãos é complexo, e é composto por diferentes etapas essenciais, que constam na íntegra: na Lei nº 9.434 de 4 de fevereiro de 1994 que dispõe sobre a Remoção de Órgãos, Tecidos e Partes do Corpo Humano para fins de Transplante e Tratamento; e na Resolução nº 1480 de 1997 do Conselho Federal de Medicina que trata da caracterização da morte encefálica, as quais pode-se enumerar: identificação e manutenção de possível doador; realização de testes para avaliação do quadro de morte encefálica através de exame clínico, neurológico e gráfico; comunicação aos familiares sobre o fechamento do diagnóstico e entrevista familiar para doação; e, com obtenção de autorização da família realiza-se a captação e a distribuição dos órgãos.1

Tendo tais etapas em vista, não se pode negar que o processo de doação de órgãos carrega por si só grande carga emocional. Estudo afirma, por exemplo, que a entrevista familiar - definida como reunião entre familiares do potencial doador e um ou mais profissionais da equipe de captação, ou outro profissional treinado, afim de obter consentimento à doação - comporta grande complexidade emocional/subjetiva.2

Ressalta-se ainda que o trabalho em saúde impõe aos profissionais enfermeiros e os demais que compõe a equipe de saúde, a concepção psicodinâmica da afetividade e da subjetividade, levando muitas vezes à instabilidade física e emocional. A rotina, principalmente relacionada ao cenário posto em transplantes, circunscreve elevado grau de tensão e conflito perpassando por toda a equipe, o que resulta em inúmeras situações desencadeadas pelo processo de trabalho, favorecendo efeitos ansiogênicos diante das demandas diárias.3

Sabe-se ainda que nos últimos anos (2007 à 2010) houve aumento de pouco mais de 35 % em transplantes de órgãos e de mais de 160 % em transplantes de tecidos realizados no país.4 Com o crescimento posto da área, entende-se ser de grande relevância conhecer a produção de subjetividades dos sujeitos envolvidos neste processo, identificando-as para que subsidiem estudos posteriores dadas as lacunas de conhecimento concernentes a este cenário.

Assim os objetivos foram: conhecer estudos científicos sobre a produção de subjetividade de profissionais de saúde e familiares no processo da doação de órgãos e identificar tais produções subjetivas.

Desta maneira faz-se mister trazer o conceito de subjetividade "[...] é o caráter de todos os fenômenos psíquicos, porquanto fenômenos de consciência(v.), ou seja, os que o sujeito relaciona consigo mesmo e chama de 'meus'"5.

Em Vygotsky, que também trabalha a questão do sujeito, da emoção e subjetividade, a análise do sujeito não se localiza na ordem do abstrato e nem se limita a ordem do biológico, sendo sujeito e subjetividade constituídos e constituintes nas e pelas relações sociais. Indicando assim que o homem sintetiza o conjunto das relações sociais e as constrói.6

Desta maneira, o sujeito não é um signo, ele requer que o outro o reconheça para assim se constituir enquanto sujeito num processo de relação dialética. É, portanto um ser significante, um ser que tem o que fazer, dizer, pensar, sentir, que tem consciência do que está acontecendo, refletindo todos os eventos da vida humana.7

Estudo traz que na análise do sujeito e subjetividade, Vygotski defende que:

O sujeito é constituído pelas conexões, relações inter-funcionais, interconexões funcionais que acontecem na consciência e que conferem as diferenças entre os sujeitos. Não é a presença das funções psicológicas superiores que determinam a especificidade do sujeito, mas as interconexões que se realizam na consciência pelas mediações semióticas que manifestam diferentes dimensões do sujeito, entre elas: a afetividade, o inconsciente, a cognição, o semiótico, o simbólico, a vontade, a estética, a imaginação, e etc.7

Assim como mencionado, Vygostsky traz ainda que o sujeito é constituído e constituinte nas e pelas relações sociais, sendo ele mesmo (sujeito) que se relaciona na e pela linguagem no campo das intersubjetividades.7

Frente a isso, a ideia de subjetividade como experiências únicas, pessoais, particulares não se sustentou, pois se fundamentou em bases que identificavam o sujeito como desconectado de sua cultura, à parte da história.

Nesta direção, em concordância com a proposta deste estudo, Vygotsky aborda o tema das emoções, ao tentar entender o sujeito, problematizando as desvantagens do tradicional antagonismo entre razão e afeto. Dentre tais desvantagens estaria a impossibilidade de explicação sobre a gênese do pensamento, seus motivos e suas necessidades. O autor trata também da questão do psiquismo como sendo constituído por um bloco integrado, sendo a emoção peça constituinte de suas partes, que se conecta com todas as outras.

O autor defende ainda ideia de que todos os pensamentos que antecedem as falas têm uma tendência afetivo-volitiva, ou seja, são gerados por emoções.8

Para Vygotsky o sentimento, o pensamento e a vontade denominadas funções psicológicas superiores, estão inter-relacionadas, não existindo por sua vez, um pensamento sem sentimento ou vice-versa. Estes se constituem produtos das relações sociais e de atividades psicológicas construtivas no mecanismo de potencialização e de realização da condição do ser humano.8

Portanto, inseridos no contexto das emoções vislumbrado por Vygotsky consideraremos a dimensão da subjetividade neste estudo.

 

MÉTODOS

Trata-se de revisão integrativa de literatura, que [...] "consiste na construção de uma análise ampla da literatura, contribuindo para discussões sobre métodos e resultados de pesquisas, assim como reflexões sobre a realização de futuros estudos".9

Foram percorridas as seguintes etapas: estabelecimento da hipótese e objetivos da revisão integrativa; estabelecimento de critérios de inclusão e exclusão de artigos (seleção da amostra); definição das informações a serem extraídas dos artigos selecionados; análise dos resultados; discussão e apresentação dos resultados e a última etapa consistiu na apresentação da revisão.9

Para guiar o estudo foi formulada a questão: quais os elementos subjetivos produzidos pelos sujeitos envolvidos no processo da doação de órgãos?

Para a seleção dos artigos foram consultadas: a Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) nas bases Lilacs, Medline e Scielo ; as bibliotecas virtuais das universidades federais da região Sul do país - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), LUME; Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), PERGAMUM ; Universidade Federal do Paraná (UFPR), ACERVO; Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), BIBWEB; Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), Biblioteca Paulo Lacerda de Azevedo; e as bibliotecas virtuais das universidades federais do estado de São Paulo - Universidade de São Paulo (USP), DEDALUS - Banco de Dados Bibliográficos; Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), Biblioteca Central; Universidade Federal de Campinas (UNICAMP), ACERVUS (Livros e Teses); e Universidade Federal de São Carlos (USFCAR), Sistema de Publicação Eletrônica de Teses e Dissertações. Configurando-se, portanto nove universidades federais, das quais quatro paulistas e cinco sulistas. A inclusão das universidades objetivou ampliar o âmbito da pesquisa, minimizando possíveis vieses nessa etapa do processo de elaboração da revisão integrativa.

A escolha de tais localidades, em específico, é justificada por estas se destacarem no cenário de transplantes no Brasil, segundo o Registro Brasileiro de Transplantes representado pela Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos, a ABTO.4

Os critérios de inclusão do material encontrado foram: textos que possuam no título ou resumo aderência a temática voltada para doação de órgão(s) e tecidos que contenham aspectos relacionados às subjetividades dos profissionais; textos completos; textos produzidos no recorte temporal de 2000 à 2010; idiomas inglês, espanhol e português; limites humanos. O critério de inclusão específico foi utilizado para as nove universidades federais pesquisadas, tendo sido investigado a temática somente em teses e dissertações defendidas/armazenadas nas bibliotecas virtuais das respectivas instituições de ensino e pesquisa. Não houve restrições quanto ao tipo de documento investigado na Biblioteca Virtual em Saúde - BVS.

Optou-se pela busca por descritores em associação com operadores booleanos, que foram: "emoção" OR/AND "doação de órgãos"; "doação de órgão" OR/AND "pessoal de saúde"; e, "doação de órgão" OR/AND "entrevista".

O período de coleta dos dados foi de 11 a 25 de fevereiro de 2013, seguido do período de análise dos textos que foram de 25 de fevereiro a 10 março de 2013.

Foram encontrados um total de 4.544 textos na BVS nas bases de dados pesquisadas (LILACS, MEDLINE E SCIELO), sendo que destes, 1.304 possuíam textos completos e somente 13 textos possuíam aderência ao objetivo desta revisão. Em relação às universidades foram encontrados com as buscas 4.082 textos, sendo 3.780 textos completos e possuindo aproximação com o objetivo da busca foram somente 11 textos. Totalizando-se 24 textos a serem analisados.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Dos textos aderentes ao tema, 37,5 % (9) foram artigos originais, 8 % (2) foram artigos de revisão, 33,3 % (8) foram dissertações de mestrado, 17 % (4) foram teses de doutorado e 4,2 % (1) foi carta ao editor.

Em relação ao ano de publicação sobre o tema em questão, os anos de 2001, 2002, 2004, 2007, 2012 apresentaram 4,2 % (1) das produções cada um. Em seguida vem o crescente de produções com 2006 e 2011 com 8 % (2) cada, e 2008, 2009 e 2010 com 21 % (5) cada. Na base de dados LILACS foram identificados pouco mais de 30 % (8) dos textos aderentes a temática, logo em seguida a base MEDLINE apareceu com 17 %(4). Nas universidades destacou-se a USP com 17 % (4) textos, seguida da UNICAMP e UFRGS com 12,5 % (3) produções cada uma.

Os dados mostram que as pesquisas - sejam artigos, dissertações e teses - sobre a produção de subjetividade na doação, mais particularmente no processo da entrevista familiar, se destacaram nos últimos três anos, com ênfase em 2008, um ano após a Lei nº 9434 de 4 de fevereiro de 1997- que dispõe sobre a remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante e tratamento, que rege a política de transplantes no país - completar dez anos.10

Ainda neste período (2008 - 2010) houve um aumento de 16 % no número total de transplantes executados no país, número que traduz a realização de pouco mais de mil implantes de enxertos advindos de indivíduos vivos e falecidos.4,11

Embora tenha havido crescimento, este se deu de forma discreta, onde se destacaram os estados de São Paulo e Santa Catarina, que contam com estruturas bem definidas e organizadas para o funcionamento do processo de gerência e coordenação de transplantes como: a Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos (CNCDO), Organização de Procura de Órgãos (OPO), e Coordenações Intra Hospitalares de Distribuição de Órgãos e Tecidos para Transplantes (CIHDOTT).11 A respeito da organização e delimitação das áreas de trabalho, é sabido que ao trabalharem em ambientes organizados e estruturados com recursos materiais e humanos, os profissionais encontram qualidade de vida integrada ao ambiente de trabalho, esta que abrange aspectos como bem-estar, segurança física, mental e social, e capacitação para realizar tarefas com segurança e bom uso da energia pessoal.12 Aspectos estes, que contribuem diretamente para a prevenção e/ou manutenção da saúde mental dos trabalhadores envolvidos neste contexto.

No que diz respeito aos textos identificados em espanhol, estes foram produzidos no Chile e Espanha, sendo este último, país de destaque mundial no cenário dos transplantes há quase vinte anos, apresentando taxas de doadores maiores que União Européia, Estados Unidos e outras regiões do mundo.13

As dissertações de mestrado e teses de doutorado que versavam sobre subjetividade e transplantes, foram encontradas em sua maioria nas bibliotecas virtuais das universidades públicas paulistas, e representaram pouco mais de 35 % dos estudos analisados. Percentual que parece caminhar lado a lado com o ritmo de crescimento da área naquela região.

Os dados nos mostram ainda que a maioria dos textos evidenciou logo em seus objetivos a necessidade de entenderem mais sobre representações e percepções sejam dos familiares ou dos profissionais sobre temas embutidos no processo de doação/transplantes. Diante disso estudo revela que:

Muitas atividades têm hoje em dia um componente cognitivo intenso e complexo. Assim, deve ser realizada uma análise precisa das atividades mentais no trabalho (percepção, identificação, decisão, memória de curta duração, programa de ação). Esta análise deve ser vinculada, não ao que os trabalhadores supostamente fazem, e sim ao que eles realmente fazem para responderem às exigências do sistema.14

Em relação aos achados de produção subjetiva foram identificadas qualidades interpessoais e transpessoais como a congruência (compartilhamento da mesma visão sobre o mesmo assunto - familiares e profissionais), empatia (profissionais que compreendem o sofrimento da família, abordagem de forma humana) e emoção (segurança, clareza, atenção, carisma, cautela). Em relação ao cuidado transpessoal, este é componente essencial do cuidado, manifestando-se no encontro daqueles que estão envolvidos no ato de cuidar. 15

Ainda no contexto das subjetividades, destacamos estudos que afirmam que a dimensão emocional pode contribuir para o contato do homem com a realidade. 8,16,17 Realidade esta que aqui, pode ser a do profissional em ambiente de trabalho ou de um familiar que atravessa o momento da doação de órgãos de alguém próximo. Tais autores, compartilham a ideia de que o ser humano compreende, também se emocionando e sentindo afetivamente, os fenômenos da realidade.8

Identificou-se também produções subjetivas geradas pelas representações e percepções dos profissionais para com as temáticas que emergiram: morte, doação, ambiente de trabalho e aprendizagem envolvendo a emoção. A respeito de tais subjetivações, estudo declara que, ser humano é sentir e a maior parte das vezes as pessoas permitem-se pensar nos seus sentimentos, mas não senti-los. E, quem não é sensível aos seus próprios sentimentos dificilmente será sensível aos sentimentos dos outros.18 Com isso podemos observar a relevância de trabalhar a subjetividade dos sujeitos, uma vez que a externalizando através de diferentes meios, temos maiores chances de nos conhecermos melhor, o que facilita o contato com o próximo, e o entendimento das suas reações frente a diferentes tipos de situações.

Portanto, cientes do valor que as produções subjetivas possuem na vida dos sujeitos (incluem-se todos os âmbitos - social, profissional, pessoal...) e se o "sentir", o "se afetar com" as emoções fazem parte do processo de construção das representações, significações e percepções constituintes dos sujeitos, então concordamos com estudo que diz que é inaceitável querer viver sem emoções e sentimentos, pois eles são inerentes à condição humana.17

Evidenciou-se ainda resultados que tratavam de outros aspectos inseridos no processo da doação, foram eles: o ambiente de trabalho dos profissionais de saúde que lidam com o óbito agrega os principais fatores de adoecimento [21 % (5)]; que a educação não imposta pode modificar a opinião de familiares quanto a doação, e também pode promover efeitos positivos sobre a prática profissional [17 % (4)]; e que profissionais que trabalham com captação e doação de órgãos precisam de cuidados por vivenciarem conflitos existenciais e dilemas morais freqüentemente [12,5 % (3)].

Sobre este último achado, urge levantarmos evidências que levem à criação de dispositivos que busquem a promoção da saúde mental destes profissionais que tanto lidam e vivenciam a comunicação de más notícias, e que por conta disso tanto são afetados emocionalmente.

Sobre a questão da educação e a aprendizagem emocional que também apareceram nos resultados, estudo evidencia que um currículo direcionado para o cuidar/cuidado, o qual é fundado nos princípios de uma educação emancipatória ou libertadora, é um compromisso político, filosófico, ético e moral, reforçando portanto, a necessidade de ambos elementos na realidade de profissionais e familiares.18

 

CONCLUSÕES

O estudo permitiu observarmos produções de subjetividades geradas por profissionais e familiares na entrevista para doação. Tais formas são explicitadas como representações ou percepções da morte, da doação, da organização do trabalho, da abordagem familiar com mais qualidade, e através da proposição de aprendizagem emocional para emancipação do sujeito.

Trabalhar com estas formas de externalizações dos aspectos subjetivos é extremamente relevante neste cenário, visto que a prática no campo de transplantes envolve grandes cargas emocionais por diferentes fatores, como a dificuldade de compreensão por grande parte de familiares em entender a morte encefálica, e pelo momento em si de entrevistar parentes no momento em que ainda estão assimilando a perda de alguém próximo.

Pudemos destacar as produções subjetivas por representações sobre diferentes temas como: a morte que pode ser positiva (sono, natural) ou negativa (tristeza, perda, fim); a doação, sendo positiva (cura, solidariedade, continuidade) ou negativa (fragmentação do corpo, momento muito difícil); a entrevista familiar, que ainda não necessariamente real, deve englobar aspectos como segurança profissional, oferta de orientações claras, objetivas, contar com profissional ser humano, solidário, atencioso e que principalmente entenda o sofrimento da família.

Em suma, a identificação destas produções geradas no processo da doação possibilita a profissionais (e porque não também a familiares?) maior (auto)conhecimento para melhor lidarem com suas próprias emoções nesta atividade/situação.

Diante do exposto, compreendemos por fim, que a fragilidade do processo da doação somada às solicitações familiares e ainda às cargas emocionais dos profissionais que trabalham neste processo, principalmente aqueles que realizam entrevistas familiares, geram grandes demandas subjetivas para quem vive este momento. Tais produções precisam ser conhecidas, debatidas e estudas. Entretanto para que isto aconteça, é fundamental o incremento de pesquisas centradas no enfoque subjetivo, principalmente destes trabalhadores em questão, visando além da promoção de sua saúde mental, um cuidado mais humano e direcionado para quem cuida.

 

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Peron AL, Rodrigues AB, Leite DA, Lopes JL, Ceschim PC, Alitr R, et al. Organ donation and transplantation in Brazil: university students' awareness and opinions. Transplant Proc. [on line] 2004 [citado 13 Out 2012];36(4):811-3. Disponível em http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/15194279

2. Secretaria do Estado de São Paulo (BR). Coordenação do Sistema Estadual de Transplante. Doação de Órgão e Tecidos. In: Santos MJ. A entrevista familiar no processo de doação de órgãos e tecidos para transplante [tese na internet]. Ribeirão Preto (SP): Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo; 2010 [citado 20 Jun 2011]. Disponível em: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/7/7136/tde-20052010-105423/pt-br.php

3. Alves SGS, Vasconcelos TC, Miranda FAN, Costa TS, Sobreira MVS. Aproximação à subjetividade de enfermeiros com a vida: afetividade e satisfação em foco. Esc Anna Nery 2011 [citado 24 Nov 2012];15(3):511-7. Disponível em: http://www.scielo.br

4. Associação Brasileira de Transplantes De Órgãos (ABTO). Registro Brasileiro de Transplantes. Jan/Dez 2010 Ano XIII(2):13-9.

5. Abbagnano N. Subjetividade. Em: Dicionário de filosofia. Trad. Da 1ª edição brasileira coordenada e revista por Alfredo Bossi; revisão da tradução e tradução dos novos textos Ivone Castilho Benedetti. 5ª Ed. São Paulo: Martins Fontes; 2007. p. 1089.

6. Rossetto E, Brabo G. A constituição do sujeito e a subjetividade a partir de Vygotsky: algumas reflexões. Rev Travessias [periódico na internet]. 2009. [citado 25 Nov 2012];3(1):1-11. Disponível em: http://e-revista.unioeste.br/index.php/travessias/article/view/3238

7. Molon SI. Subjetividade e constituição do sujeito em Vygotsky. São Paulo: Educ; 1999.

8. Pinheiro GR, Bonfim ZAC. Afetividade na relação paciente e ambiente hospitalar.Revista Mal-estar e Subjetividade. Fortaleza 2009 [citado 2012 Out 23];IX(1):45-74. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/malestar/v9n1/03.pdf

9. Mendes KDS, Silveira RCCP, Galvão CM. Revisão integrativa: método de pesquisa para a incorporação de evidências na saúde e na enfermagem. Texto Contexto Enferm. 2008 [citado 25 Nov 2012];7(4):758-64. Disponível em: http://www.scielo.br

10. Lei 9434 de 4 de fevereiro de 1997 (BR). Dispõe sobre a remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante e tratamento e dá outras providências. 1997 [citado 16 Ago 2011]. Disponível em: http://www.in.gov.br/imprensa/visualiza/index.jsp?jornal=1&pagina=49&data=05/02/1997

11. Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO). Registro Brasileiro de Transplantes. 2008;Ano XIV(2):53-8.

12. Limongi-França ACE, Arellano EB. As pessoas na organização. Qualidade vida no trabalho: o comportamento das pessoas na organização. 2da ed. São Paulo: Editora Gente; 2002.

13. Ministério da Saúde (BR). Transplantes de Órgãos crescem 24,3 %. 2009 [citado 2011 Ago 22]. Disponível em: http://portal.saude.gov.br/portal/aplicacoes/noticias/default.cfm?pg=dspDetalheNoticia&id_area=124&CO_NOTICIA=10592

14. Wisner A. A inteligência no trabalho. In: Bouyer GC. Percepção e trabalho na fenomenologia de Merleau-Ponty. Ciênc Cognição [periódico na internet]. 2009 Jul[citado 2012 nov 25];14(2):59-73. Disponível em: http://www.cienciasecognicao.org

15. Watson J. Nursing: human science and human care. East Norwalk, CT: Appleton-Cen- Tury - Grofts, 1985.

16. Vygotsky LS. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes;1991.

17. Espinosa B. Ética demostrada según el orden geométrico. México, DF: Fundo de Cultura Económica; 1996.

18. Watson J. Nursing: human science and human care: a Theory of nursing. New York: National League for Nursing Press; 1988.

 

 

Recibido: 2013-07-04.
Aprobado: 2014-01-14.

 

 

Correspondencia:

Paula Isabella Marujo Nunes da Fonseca. Mestranda do Programa de Mestrado Acadêmico em Ciências do Cuidado em Saúde (MACCS) da Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa, da Universidade Federal Fluminense. Departamento de Enfermagem Materno-Infantil e Psiquiátrica. Bolsista CAPES. Niterói, Rio de Janeiro, Brasil. Dirección: Av. Ten. Cel. Muniz de Aragão, 892 Bloco 3 Apto 804, Anil, Rio de Janeiro/Brazil. CEP: 22765-005. Teléf: (+5521) 3439-2297.
Email: paulaisabellafonseca@yahoo.com

Creative Commons License Todo el contenido de esta revista, excepto dónde está identificado, está bajo una Licencia Creative Commons