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versão On-line ISSN 2411-9970

ARCIC vol.10 no.25 La Habana ene.-abr. 2021  Epub 01-Abr-2021

 

Dossier Monográfico

Los elementos constitutivos de los álbumes de fotos escolares y las potencialidades de la relación con las Humanidades Digitales: primeras interlocuciones

The constituent elements of school photo albums and the potentialities from the relationship with the Digital Humanities: first interlocutions

Os elementos constitutivos de álbuns fotográficos escolares e as potencialidades a partir da relação com as Humanidades Digitais: primeiras interlocuções

0000-0003-3506-0479Ana Cristina de Albuquerque1  *  , 0000-0003-4266-2806Cristina Ribeiro dos Santos2 

1Docente do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Estadual de Londrina (PPGCI UEL). Doutora em Ciência da Informação pela Universidade Estadual Paulista (UNESP)

² Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Estadual de Londrina (PPGCI UEL). Mestre em Ciência da Informação pela Universidade Estadual de Londrina (UEL)

RESUMEN

Este artículo propone una reflexión sobre las posibles edades de las Humanidades Digitales en cuanto a las formas de tratar, organizar y difundir los elementos que constituyen álbumes de fotos digitalizados. Para ello, elegimos el álbum fotográfico del Grupo Escolar Bratislava, una institución escolar del municipio de Cambé, que forma parte del Museo Histórico de Cambé, Paraná, Brasil. El estudio se presenta como exploratorio y bibliográfico. Se eligieron seis ejes que funcionaron como base para el análisis de las interlocuciones sugeridas: salvaguardar y preservar el patrimonio digital, la educación y la formación, la articulación con otras áreas científicas, acceso, difusión e intercambio de conocimientos, compromiso con la sociedad y organización de la información. A partir de la sistematización de la literatura en el área, fue posible establecer un paralelismo entre los elementos constitutivos de los álbumes fotográficos y aspectos de las Humanidades Digitales y señalar algunos factores potenciales, además de puntuar los procesos de Organización y Recuperación de Información como bases para la puesta a disposición recursos digitales para el acceso al conocimiento.

Palabras-clave: Organización de la información; Representación de la información; Humanidades Digitales; Álbumes

ABSTRACT

This article proposes a reflection on the potential of the Digital Humanities as to the ways to treat, organize and disseminate the elements that constitute digitalized photo albums. To this end, the Bratislava School group's photo album was chosen, a school institution in the municipality of Cambé, which is part of the Historical Museum of Cambé, Paraná, Brazil. The study presents itself as exploratory and bibliographic. Six axes worked as the basis for the analysis of the suggested interlocutions were chosen: safeguarding, preserving the digital heritage, education, training, articulation with other scientific areas, accessibility, dissemination, and sharing of knowledge, commitment to society and organization of information. Based on the systematization of the literature in the area, it was possible to establish a parallel between the constituent elements of the photographic albums and aspects of the Digital Humanities and point out some potential factors, in addition to punctuating the Organization and Information Retrieval processes as foundations for making digital resources for access to knowledge.

Key words: Organization of information; Information representation; Digital Humanities; Photo albums

RESUMO

O presente artigo propõe uma reflexão sobre as potencialidades das Humanidades Digitais quanto as formas de tratar, organizar e disseminar os elementos que constituem álbuns fotográficos digitalizados. Para tanto, escolheu-se o álbum fotográfico do Grupo Escolar Bratislava, instituição escolar do município de Cambé, que faz parte do Museu Histórico de Cambé, Paraná, Brasil. O estudo se apresenta como exploratório e bibliográfico. Foram escolhidos seis eixos trabalhados como base para a análise das interlocuções sugeridas: salvaguarda e preservação do patrimônio digital, educação e formação, articulação com outras áreas científicas, acessibilidade, disseminação e partilha do conhecimento, compromisso com a sociedade e organização da informação. A partir da sistematização da literatura da área, foi possível estabelecer um paralelo dos elementos constitutivos dos álbuns fotográficos com aspectos das Humanidades Digitais e pontuar alguns fatores de potencialidades, além de pontuar também os processos da Organização e Recuperação da Informação enquanto fundamentos para a disponibilização de recursos digitais para acesso ao conhecimento.

Palavras-Chave: Organização da informação; Representação da informação; Humanidades Digitais; Álbuns fotográficos

INTRODUÇÃO

Álbuns fotográficos, compreendidos como recursos informacionais, são objetos de relevância tanto para o conhecimento e estudo da história e da memória como também para a percepção das características imbricadas em sua construção, como os materiais do próprio álbum, os materiais que são acrescentados a ele e a narrativa que se constrói a partir de intervenções, escolhas e ordenação que geram significados explícitos e implícitos e ajudam a arquitetar singularidades referentes a contextos e temáticas específicas.

Os álbuns, ao serem materializados em sua construção, demonstram eternizações de momentos importantes que se consolidam também a partir de seus elementos constitutivos que são entendidos neste artigo como legendas, materiais adicionados, composição, capa ou seja, toda a fase de produção dada a estes objetos conta uma história.

Em observância a estas especificidades e na tarefa de tratar e dar acesso a quaisquer informações contidas nos documentos, a Organização e Representação da Informação conta com processos estruturados na catalogação, classificação, indexação e resumos para descrever e representar recursos informacionais para sua organização intelectual e no espaço físico dando, assim, a possiblidade de uma unidade informacional ter, ao alcance de seus usuários, formas de recuperar os dados de seu acervo. Devido a estes processos, a contextualização da informação quanto a produção, acesso e apropriação são desenvolvidos de forma a dar uma dimensão agregadora, que, de maneira contínua, gera novas informações à medida que são recuperadas e utilizadas pelos usuários.

O ato de organizar e representar necessita de elementos que são analisados durante os processos relativos ao tratamento dos recursos informacionais e, estes, por sua vez, devem ser identificados coerentemente com a função, objetivo e necessidade expostos pela unidade informacional e principalmente pelos usuários que buscarão aquelas informações. Dentre muitos, um primeiro desafio para o tratamento informacional de álbuns fotográficos, é a identificação dos elementos que fazem parte de sua narrativa e disponibilização destes elementos tanto aos profissionais da informação quanto aos usuários. Dessa forma, salienta-se a observância do tema das Humanidades Digitais no sentido de refletir e considerar possibilidades sobre o acesso à narrativa ali representados, do meio visual de registro, do arquivo que se relaciona com a técnica de registro, do contexto histórico e social da montagem do álbum, entre outros fatores.

No que lhe concernem, as Humanidades Digitais se caracterizam como diferentes práticas que convergem interdisciplinarmente no âmbito das aplicações das tecnologias computacionais nas Ciências Humanas e Sociais, Artes e Letras, movimentando instrumentos e perspectivas referentes ao mundo digital e possibilitando a formação de comunidades de práticas que têm a finalidade de contribuir com o avanço, disseminação, compartilhamento do conhecimento, com foco na qualidade das pesquisas que podem ser realizadas e procurando enriquecer os saberes coletivos (Dacos, 2011). No entanto, de acordo com Almeida e Damian (2015), a finalidade das HDs não pode ser pensada apenas no sentido de otimizar a acessibilidade e a disseminação do conhecimento e sim, na perspectiva de vislumbrar novas formas de criação desse conhecimento.

Considerando o exposto, o presente artigo propõe uma reflexão sobre as potencialidades das Humanidades Digitais quanto as formas de tratar, organizar e disseminar os elementos que constituem álbuns fotográficos digitalizados. Para tanto, escolheu-se o álbum fotográfico do Grupo Escolar Bratislava, instituição escolar do município de Cambé, localizado no Estado do Paraná, Brasil. Este álbum foi produzido a pedido do prefeito para aniversário da cidade na década de 1960. Atualmente o álbum se encontra no Museu Histórico de Cambé e foi escolhido pelas características específicas que contém como materiais diferentes, narrativa linear, importância no período histórico e principalmente por fazer parte de um acontecimento que a percepção histórica de uma cidade, num determinado contexto histórico o que proporciona na perspectiva da Organização e Representação da Informação um reconhecimento e compreensão dos fatores que envolvem sua produção.

O estudo se apresenta como exploratório e bibliográfico. A partir da sistematização da literatura da área, foi possível estabelecer um paralelo dos elementos constitutivos dos álbuns fotográficos com aspectos das Humanidades Digitais e pontuar alguns fatores de potencialidades, além de pontuar também os processos da Organização e Recuperação da Informação enquanto fundamentos para a disponibilização de recursos digitais para acesso ao conhecimento. Baseados em Rollo (2020), elegeram-se seis eixos trabalhados pela autora que se adequaram como base para a análise das interlocuções sugeridas. Os eixos são: salvaguarda e preservação do patrimônio digital, educação e formação, articulação com outras áreas científicas, acessibilidade, disseminação e partilha do conhecimento, compromisso com a sociedade e organização da informação. A escolha se deu por entendimento de que esses eixos vão ao encontro da perspectiva de tratamento informacional e potencialidades das áreas envolvidas.

A relação entre Humanidades Digitais e Ciência da Informação vêm sendo trabalhadas por autores brasileiros como Pimenta (2016, 2020), Castro e Pimenta (2018) e Paletta (2018), que propõe especificidades de cada área, mas que sugerem uma aproximação ou possibilidades de interesses que sejam comuns, tendo como mediador o uso das tecnologias. No entanto, no âmbito da Organização e Representação da Informação, essa relação ainda carece de estudos que problematizem como o aumento dos espaços informacionais e de acervos digitais podem otimizar a relação do usuário com o acesso à informações que correspondam ao seu universo e como as questões referentes aos domínios do conhecimento e das comunidades discursivas serão representadas a partir da interrelação dos produtos resultantes das Humanidades Digitais com os processos de tratamento informacional que garantam as dimensões social, histórica e cultural da informação (Hjørland, & Albrechtsen, 1995).

O artigo se estrutura a partir da contextualização das Humanidades Digitais, definição e principais objetivos. Em seguida apresenta-se os elementos constitutivos de álbuns fotográficos e em especial os elementos do álbum do Grupo Escolar Bratisvala, elementos estes que podem servir à Organização e Representação da Informação. A partir daí faz-se uma relação destacando-se pontos de interlocução e potencialidades baseados nos referidos eixos.

Conforme o encaminhamento do estudo, foi possível perceber que as questões aqui tratadas, encontram uma interlocução com as Humanidades Digitais em diversos momentos e que abarcam projetos e perspectivas interdisciplinares que vão ao encontro da necessidade de reflexão mais profunda em torno dos aspectos como a produção de registros digitais para a recuperação e disseminação do conhecimento, indexação, classificação e representação de forma coerente desses recursos.

Espera-se contribuir com o debate sobre a identificação dos elementos de álbuns fotográficos que servem de auxílio aos processos da Organização e Recuperação da Informação e consequentemente discutir o papel das Humanidades Digitais no campo referente às potencialidades exibidas.

As humanidades digitais

O novo campo, intitulado Humanidades Digitais, vem se desenvolvendo a partir do encontro entre as Humanidades e as Ciências Computacionais em um movimento que percebe o processamento e a transformação de materiais digitais e digitalizados em direção a uma reconfiguração de unidades de informação, redes e comunidades de pesquisadores visando o desenvolvimento e transformação social.

Podem ser compreendidas como uma comunidade de práticas ou práticas mediadas pelas tecnologias de informação. De acordo com Hockey (2004), as Humanidades Digitais se caracterizam como uma nova área académica fortemente interdisciplinar que é capaz de oferecer metodologias específicas oriundas das tecnologias digitais que podem ser trabalhadas nos mais variados aspectos de investigação nas Humanidades. Moura (2019), explica que as Humanidades Digitais, enquanto campo, se tornou viável por conta da excessiva carga de digitalização de dados que favoreceu uma expansão da produção científica, no sentido de maior relacionamento colaborativo e a distância, fato que altera significativamente as relações e as mídias antes utilizadas de forma analógica.

A ligação de diferentes disciplinas da área das Ciências Sociais e Humanas com as possibilidades oferecidas pela Computação e Informática amplia e estimula o potencial de investigações, ensino, produção, divulgação e aprendizagem através de ferramentas, fontes e métodos digitais.

O termo, segundo Rodríguez-Yunta (2014) e Galina Russel (2011), apresenta um crescimento de uso em todo o mundo, especialmente porque delimita o aspecto interdisciplinar que demonstra os processos relacionados ao uso de tecnologias digitais no âmbito das humanidades e, consequentemente, incide sob a demanda acadêmica, cultural e social de acessibilidade de fontes ligadas às humanidades que merecem reflexão, pois, permitem a discussão em torno da humanização das tecnologias por meio dos trabalhos críticos realizados a partir da disponibilização dessas fontes.

Também Almeida e Damian (2015), definem o termo Humanidades Digitais considerando que por vezes este tem a tendência de “ser encarado como mais um rótulo generalista, surge como um campo interdisciplinar disposto a dar guarida às reflexões e às práticas suscitadas pelas mudanças decorrentes da introdução das tecnologias digitais no universo da cultura e das Unidades de Informação e Cultura brevemente descritas acima” (p. 8).

Os estudos de Pimenta (2016) demonstram uma preocupação em definir aspectos teóricos e metodológicos das Humanidades Digitais. O autor explica que o campo se configura como espaço de estudo e pesquisa de ensino e de forma predominante como acesso à informação e inovação, se caracterizando assim como um campo híbrido.

De acordo com Kirschenbaum (2010) e Fitzpatrick (2012), humanidades digitais em seu termo original, digital humanities, foi empregada pela primeira vez em 2004 na obra intitulada “A companion to digital humanities”, onde os autores Schreibman, Siemens e Unsworth (2004), a definiam com uma nova prática.

Um marco no ano de 2011, em Paris, é o lançamento do Manifesto das Humanidades Digitais onde é possível encontrar as bases e valores que relacionam o campo do digital ao das humanidades. O Manifesto (Dacos, 2011), traz a definição de Humanidades Digitais ligada a um conceito interdisciplinar que se relacionam metodologicamente com as Ciências Humanas e Sociais e Computacionais.

As três definições a seguir se apresentam no Manifesto:

A primeira trata da opção da sociedade pelo digital altera e questiona as condições de produção e divulgação do conhecimento (Dacos, 2011). Essa definição implica principalmente na busca e na mudança do modo de trabalho pois a partir da alteração das condições de divulgação do conhecimento também se mudam os objetivos de como chegar a esse conhecimento.

A segunda coloca que as Humanidades Digitais se referem ao conjunto das Ciências Humanas e Sociais, às Artes e às Letras. As Humanidades Digitais não negam o passado; apoiam-se, pelo contrário, no conjunto dos paradigmas, saber fazer e conhecimentos próprios dessas disciplinas, mobilizando simultaneamente os instrumentos e as perspectivas singulares do mundo digital (Dacos, 2011).

A conciliação de conhecimentos no universo digital e no universo das ciências sociais e humanas é elemento de conciliação quando observada a centralidade na digitalização e disponibilização de fontes, mas também a procura de sistematização e análise dessas fontes para a recuperação e compreensão de formas adequadas aos usuários e seus contextos.

A terceira explica que as Humanidades Digitais designam uma transdisciplina, portadora dos métodos, dos dispositivos e das perspectivas heurísticas ligadas ao digital no domínio das Ciências Humanas e Sociais (Dacos, 2011). A ligação metodológica enfim, conforme citado pelos autores anteriores, entre as Ciências Humanas e Sociais e o digital, na emergência de uma transdisciplina com métodos e epistemologias embora especificas, com potencial integrador.

Considerando as Humanidades Digitais não como algo apartado, mas sim com uma continuidade dos processos de desenvolvimento de unidades informacionais, Almeida e Damian (2015), expõe que provavelmente pesquisadores, especialmente no contexto brasileiro, trabalham com as Humanidades Digitais, mas que não utilizam a denominação de tal. Os projetos, bancos de dados, bibliotecas digitais, repositórios, curadoria digital incidem em um terreno que as Humanidades digitais se colocam e o esforço da percepção de que a transferência de suportes e ambiências vão além na direção de métodos articulados.

Neste sentido, Paletta (2018), define Humanidades Digitais como:

uma área de atividade acadêmica na interseção da computação ou tecnologias digitais e as disciplinas das humanidades. Inclui o uso sistemático de recursos digitais nas humanidades, bem como a reflexão sobre sua aplicação. Humanidades Digitais pode ser definida como novas formas computacionais de estudos acadêmicos transdisciplinar, que envolvem pesquisa, ensino e publicação colaborativa. Apresenta ferramentas e métodos digitais para o estudo das humanidades com o reconhecimento de que a palavra impressa não é mais o principal meio de produção e distribuição de conhecimento. Ao produzir e usar novas aplicações e técnicas, a Humanidades Digitais possibilita novos tipos de ensino e pesquisa, ao mesmo tempo que estuda e crítica como elas afetam o patrimônio cultural e a cultura digital. Assim, uma característica distintiva da Humanidades Digitais é o cultivo de uma relação bidirecional entre as humanidades e o digital: o campo emprega tecnologia na pesquisa e no questionamento de temas humanísticos (p. 148).

Dessa forma, é possível pontuar que as Humanidades Digitais são percebidas como uma nova área, que em sua delimitação tem como objetivo congregar as áreas de Humanidades e Computacionais não só para melhor oferecer acesso às informações e documentos, mas principalmente para possibilitar novas formas de disseminação e até de produção do conhecimento e que há um espaço para discussões acerca de aspectos sociais, culturais e de tratamento das informações contidas nos documentos disponibilizados.

A descoberta e visualização de documentos que contam, narram e demonstram aspectos importantes da história, cultura e arte têm um novo espaço de discussão entre os pesquisadores como é o caso de álbuns fotográficos analógicos que podem ser devidamente disponibilizados, a partir da digitalização, para uma parcela maior de usuários.

Os álbuns fotográficos escolares e seus elementos constitutivos: o caso do grupo escolar bratislava

Ao escrever sobre a genealogia do álbum fotográfico, Abdala (2010) analisa a palavra “álbum” e afirma que “Originalmente, álbum é um termo latino que denominava as tábuas nas quais eram impressas as decisões dos pretores, a lista dos senadores, etc.” (p. 5).

O álbum apresenta, então, na visão da referida autora, “tábulas brancas” em que os produtores registram e arquivam memórias, impressões, objetos, imagens, de acordo com os seus olhares e com base em suas percepções. Trata-se de uma produção elencada e concretizada a partir de uma organização e uma intenção de arquivar.

Em Santos e Albuquerque (2019), os pressupostos para a existência de um álbum fotográfico enquanto recurso informacional, foram definidos sendo observados as diferentes características que possibilitam emergir os termos para uma maior confluência para a organização e representação da informação. Estes pressupostos são: o sujeito representado, meio visual de registro, condições de existência/técnica de arquivo, condição narrativa, produtores e colaboradores, que se mostram como informações embrionárias para a compreensão e possibilidade de tratamento destes recursos.

Eles podem ser observados no álbum fotográfico do Grupo Escolar Bratislava. É pertinente pontuar que o município de Cambé, no Estado do Paraná, Brasil, advém de um empreendimento inglês, por meio da Companhia de Terras Norte do Paraná (CTNP). A ocupação do Norte do Estado tem seu início com fundação do município de Londrina no ano de 1929. Para Oberdiek (1989), a CTNP organizou a ocupação urbana com a intenção de criar um complexo comercial, no qual quatro cidades seriam os núcleos urbanos centralizadores do processo: Maringá, Cianorte e Umuarama, Londrina, que foi a sede da Companhia. Entre esses municípios haveria distritos e vilas, como a Villa Nova Dantzig, que, em 1947, torna-se Cambé. A Escola Bratislava foi fundada em 1936 para atender filhos de imigrantes de origem tcheco-eslovaca que habitavam a região. Após 8 anos de funcionamento, a escola teve suas atividades incorporadas pela Secretaria Municipal de Educação, no ano de 1944, mas foi no ano de 1948 que a escola teve seu nome alterado para Escola Manoel Ribas, por meio da Lei Municipal nº 8, de 5 de julho de 1948. No ano de 1949 foi construído o Grupo Escolar Rural Manoel Ribas. Essa designação esteve em vigor até o ano 2000, quando a escola passou a ser chamada de Escola Municipal Rural Ana Zifchack Mazzei, pela Lei Municipal nº 1322/99, que entrou em vigor em quinze de março do mesmo ano.

Fig. 1 Inauguração da Escola da Colônia Bratislava (acervo do Museu Histórico de Cambé). 

O álbum fotográfico da Grupo Escolar se constitui na década de 1960 afim de cumprir os requisitos para o aniversário da cidade a pedido do prefeito da época. O álbum não só é constituído de fotografias, assim como de narrativas, espaços e objetos que o tornam um documento peculiar, chamando a atenção para os detalhes e para a narrativa imposta a partir de diferentes materiais.

Fig. 2 Capa do álbum Bratislava (acervo do Museu Histórico de Cambé). 

Em um exercício baseado na identificação dos pressupostos do álbum fotográfico é possível realizar, de forma precisa, uma caracterização desse álbum, bem como foi percebida por meio da análise desses pressupostos, a existência da narrativa, a qual é elementar na compreensão das informações de documentos que têm características tão singulares.

Quadro 1 Pressupostos para a existência do álbum fotográfico do Grupo Escolar Bratislava 

Sujeito representado Para representar o Grupo Escolar Bratislava, instituição escolar do município de Cambé, foram descritos e registrados em imagens o prédio, o prefeito, o padre, os ex-inspetores regionais, os pais, os ex-professores, os alunos e ex-alunos de destaque, os engenheiros, os funcionários do Estado, os membros da associação de pais, os diplomados, os desfiles de aniversário do município, o hasteamento da bandeira, as autoridades religiosas etc.
Meio visual de registro Fotografias, dobraduras, recortes de jornal.
Condições de existência/ Técnica de arquivo Álbum misto, com elementos de produção artesanal e elementos de produção industrial. Possui a possibilidade de acréscimo de folhas.
Condição narrativa Narrativa sequencial não cronológica, visando criar a memória institucional do Grupo Escolar Bratislava, a partir do mosaico com elementos informacionais: imagens, legendas, decalque (cópia de uma imagem, nesse caso logo e slogan da Prefeitura Municipal de Cambé transferidos ao papel) e dobraduras.
Produtores Percebe-se por meio da narrativa que os produtores do álbum foram as professoras, em conjunto com a diretora Ana Mazzei, por conta de uma sugestão do então prefeito Jacídio Correia. Há a condição de ampliação do álbum, devido à adição de páginas ser possível.

Fonte: Elaborado pelas autoras, com base em Santos e Albuquerque (2019).

Com base no Quadro 1, pode-se inferir que, por possuir informações selecionadas - mas de grande valia -, a respeito do ambiente, das memórias e da sociedade, o álbum serve como fonte de informação para os mais diferentes fins dando lugar ao conhecimento e compreensão de uma parte da história da cidade e de seu sistema educacional.

Fig. 3 Páginas 41 e 45/52 do álbum do Grupo Escolar Bratislava: narrativa que assinala a finalidade do álbum (acervo do Museu Histórico de Cambé). 

O álbum está imerso nas relações socio comunicacionais e tecnológicas, intercambiando e processando informações com seu leitor e com os usuários. Contudo, não é fácil analisar as informações desses recursos, pois podem ser encontradas desde informações imprecisas até afirmações que não têm procedência.

Fig. 4 Páginas 03 e 06/52 do álbum do Grupo Escolar Bratislava (acervo do Museu Histórico de Cambé). 

Destaca-se nos elementos que compõe o álbum, que o físico e a coerência/integração organizacional dos suportes, a união dessas características com a parte interna e sua forma de narrativa se articulam. Dito em outras palavras, há de se pensar nas formas que a informação fora registrada nesse álbum, de forma interna: suas intenções, temas, discurso; e de forma externa: como se apresenta o físico, sua composição de materiais e estrutura. Como é possível perceber na Figura 3, que narra a finalidade do álbum e na Figura 4, com a fotografia do prefeito que solicitou a montagem do álbum e um texto de homenagem às mães, assim com um poema sobre a libertação de escravos.

Na estrutura física, característica como a encadernação; costura, que pode ser manual ou industrial e pode ser produzida por diversos tipos de materiais; capas de materiais diversos como madeira, papel, acrílico, metal, tecidos, são aspectos importantes da constituição que ajudam a compreender o contexto. Os ornamentos são um caso à parte, pois se pode encontrar várias simbologias ali registradas, entalhadas, pintadas, aplicadas ou mesmo desenhadas ou ainda uma imagem fotográfica que remeta a seu conteúdo. Internamente, as folhas são produzidas por papéis dos mais diversos produtos, tais como a seda, o papel-manteiga, o cartonado, o laminado, as molduras e os plásticos. Todos esses elementos podem variar de acordo com a funcionalidade do álbum e o poder aquisitivo e criativo do seu produtor ou comprador ou, ainda, pela sua composição, pois um álbum pode possuir a estrutura adquirida em lojas especializadas ou por processos artesanais. Silva (2008) ressalta que o álbum fotográfico não é somente um arquivo de fotos: “Nele incluem-se outros objetos, também visuais, mas nem sempre de natureza fotográfica” (p. 64). Tais elementos, segundo o autor, intervêm nos sentidos do álbum, são acréscimos e “expressões acrescentadas ao valor primário da foto e de seus relatos” (Silva, 2008, p. 64).

Na estrutura interna, ou seja, na narrativa, percebe-se a guarda de momentos familiares, memórias particulares, institucionais ou ainda paisagens que se alinham prontamente com esse novo produto e o seu ideal de progresso e de modernidade.

Uma narrativa que tem como base, principalmente, a ordenação cronológica das fotografias e a relação delas com os outros elementos presentes no enredo - legendas, convites de baile, bilhetes, recados, postais, mensagem de boas festas, molduras, selos, cartões de visita, passagens, convites de casamento, recortes de revistas, jornais, mechas de cabelos, ingressos, pulseira de identificação de maternidade, entre outros -, faz parte do campo de visão e dos recursos cognitivos que se alinham.

O álbum explora, em seu contexto interno e externo, recursos visuais e possui características particulares, acrescidas, por vezes, do recurso verbal.

Ao analisar os elementos intrínsecos e extrínsecos referentes a objetividade das informações que devem compor e auxiliar os processos de Organização e Representação da Informação verifica-se a existência de possibilidades ligadas à interdisciplinaridade, com diferentes abordagens em campos científicos diversos, podendo-se utilizar tal recurso mesmo com suas limitações. Existem ações ligadas à organização da informação e à sua proposta de apoio a necessidades informacionais que podem contar com o potencial das Humanidades Digitais não só para disponibilização, mas também para compreensão e dimensão histórico-social desses recursos frente às necessidades de seus usuários. Estão presentes nesses álbuns seleções, análises, julgamentos e contextualizações das informações vividas ou adquiridas por terceiros. Há, também, as percepções retiradas do meio, de documentos, mobilizadas de maneira a atingir o objetivo de serem registradas por meio de diferentes linguagens.

Primeiras interlocuções: alguns pontos para a análise

As interlocuções partem dos eixos apontados para refletir sobre as potencialidades das Humanidades Digitais especificamente referentes aos elementos constitutivos dos álbuns fotográficos. Os álbuns fotográficos possuem características que contextualizam sua existência e seus elementos constitutivos podem fornecer subsídios para um diálogo com vistas estas interlocuções.

Quanto ao eixo salvaguarda e preservação do patrimônio digital, Rollo (2020), aponta a Carta sobre a conservação do patrimônio digital que a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), passou a utilizar a partir de 17 de outubro de 2003. Nela se encontram as bases para a compreensão de que patrimônio digital:

Consiste en recursos únicos que son fruto del saber o la expresión de los seres humanos. Comprende recursos de carácter cultural, educativo, científico o administrativo e información técnica, jurídica, médica y de otras clases, que se generan directamente en formato digital o se convierten a éste a partir de material analógico ya existente. Los productos “de origen digital” no existen en otro formato que el electrónico.

Los objetos digitales pueden ser textos, bases de datos, imágenes fijas o en movimiento, grabaciones sonoras, material gráfico, programas informáticos o páginas Web, entre otros muchos formatos posibles dentro de un vasto repertorio de diversidad creciente. A menudo son efímeros, y su conservación requiere un trabajo específico en este sentido en los procesos de producción, mantenimiento y gestión.

Muchos de esos recursos revisten valor e importancia duraderos, y constituyen por ello un patrimonio digno de protección y conservación en beneficio de las generaciones actuales y futuras. Este legado en constante aumento puede existir en cualquier lengua, cualquier lugar del mundo y cualquier campo de la expresión o el saber humanos (UNESCO, 2003).

Compreende-se que o álbum fotográfico analisado é um recurso digitalizado, e que, por conta de entraves institucionais não se encontra disponível para a consulta dos usuários. No entanto, autores como Flores e Hedlund (2014), apontam que a preservação do patrimônio documental via preservação digital é um resultado do rápido desenvolvimento tecnológico, e que a ausência de preocupações ou ações que permita o acesso a estes documentos pode desencadear, a longo prazo, limitações que desfavorecem a pesquisa e o uso destes documentos. Os autores indicam os repositórios digitais confiáveis como importante espaço para a guarda de documentos digitais. Alertam para o fato de que estes repositórios devem se submeter a regras específicas das instituições, no caso, regras museológicas e, que o acesso deve obedecer a princípios sólidos de descrição e de tratamento de suas informações com base nos preceitos das unidades informacionais, sejam elas uma biblioteca, um arquivo ou um museu (Flores, & Hedlund, 2014).

Nesse sentido, Paletta (2018) explica que a inserção das tecnologias se apresenta como inovação, mas devem estar vinculadas às tradições e missão das bibliotecas e repositórios, que, aqui, compreende-se que podem se estender a todos os tipos de unidades de informação, preservando a dinâmica que o usuário carrega em interagir com o ambiente e exercendo seu papel de produção de novos conhecimentos justamente por conta dessa interação.

Quanto ao eixo educação e formação, Rollo (2020), entende que as humanidades, com sua estreita associação com diferentes áreas disciplinares tem também o dever de estudo do e para o conhecimento do patrimônio cultural, incidindo na vida dos usuários a valoração por sua história e memória, portanto, para a autora, as Humanidades Digitais terão um papel participativo na “construção e no desenvolvimento dos diversos contextos de sensibilização, consciencialização e formação nesses domínios” (p. 26). Ainda de acordo com a autora esse desenvolvimento deve começar da educação básica inserindo competências digitais, a fim de transmitir os preceitos da valorização dos documentos e informações disponíveis.

Contextualizando a partir dos elementos constitutivos do álbum em questão, este eixo pode se relacionar com o que Dias-Trindade e Mill (2019) chamam de “estudante, nômade digital” (p. 10), que: “vive de tal forma cercado de tecnologia, imerso em plataformas e mundos diversificados que se sente confortável no uso constante de diferentes tecnologias digitais, mas por vezes tem dificuldades em orientar esses conhecimentos em favor das suas próprias aprendizagens” (p. 10). Infere-se que cabe às escolas, e também às unidades de informação, a orientação sobre os contextos históricos que podem aproximar os documentos, no caso, álbuns fotográficos em ambiente digital, ao interesse e conhecimentos transmitidos.

Nesse sentido Almeida e Damian (2015), afirmam que as Humanidades Digitais não são apenas um campo de pesquisa, mas também, e os autores frisam que cada vez com mais frequência, se mostram com o potencial no ensino de graduação e pós-graduação e de espaço da Universidade trabalhar mais atentamente com os processos sociais por meios de parcerias com movimentos sociais, setores populares e projetos de pesquisa-ação.

O eixo articulação com outras áreas científicas é explicitado por Rollo (2020) de forma bem específica no sentido de que é preciso singularizar a dimensão de organização do patrimônio digital a partir das Humanidades Digitais. A autora explica que as Humanidades Digitais desempenham um papel essencial na reflexão intelectual da concepção de uma condição de organização da informação que contribua com os princípios Findable, Accessible, Interoperable e Reusable (FAIR); estes, por sua vez, debatem a melhora: “no reúso de dados de pesquisa, propondo de forma destacada a necessidade desses objetos [de pesquisa] manterem uma contextualização precisa para transmitirem informação e conhecimento ao longo do tempo” (Ribeiro, Santos, & Moreira, 2020, p. 31). Neste sentido, Rollo (2020) destaca que sem inteligibilidade na organização das informações dos recursos, estes pouco servirão à sociedade e as Humanidades Digitais deverão abranger essa vertente junto a áreas como a Ciência da Informação e Organização e Representação da Informação.

Ainda quanto ao relacionamento das Humanidades Digitais, Pimenta (2020), explica que as Humanidades Digitais estão presentes no campo de estudos brasileiros desde os anos 2000 mas que nos últimos cinco anos tem sido trabalhada com mais ênfase pelos pesquisadores da Ciência da Informação. O autor, parte da hipótese que de “Humanidades Digitais (HD) e a Ciência da Informação (CI) são campos conexos no tocante à atuação metodológica e à familiaridade com que pesquisadores compartilham do discurso interdisciplinar, apesar de terem a priori produzido seus respectivos discursos para comunidades distintas” (p. 2).

Na discussão específica sobre álbuns fotográficos, há ainda a interdisciplinaridade entre os campos da Fotografia, História e Museologia que representam os espaços onde transitam os saberes e onde as referências para melhor compreensão de seus elementos constitutivos devem ser buscadas.

Quanto ao eixo acessibilidade, Rollo (2020) defende que é demasiado importante chamar a atenção para o fato de que a preservação do patrimônio digital está totalmente ligada à acessibilidade que imputará valor a estes documentos. A compreensão da informação remete a diferentes fatores e o dar acesso e tratamento é permitir que estes documentos sejam acessados e interpretados pelos usuários com vistas a gerar novos conhecimentos.

Referente a este ponto, Castro e Pimenta (2018) explicam que a opção pela digitalização de documentos pelas instituições pode permitir que esta seja levada a usuários que nunca tiveram acesso a tipos de documentos - tipos como os álbuns fotográficos por exemplo, que muitas vezes nem são considerados documentos - e que isso permite o contato direto com as fontes primárias. A acessibilidade não é apenas do objeto, mas também da qualidade de informação oferecida. “Dessa forma, por exemplo, um site que trata de uma temática específica sobre a história do país pode ser substituído nos resultados de buscas de internet por um documento histórico. Assim, eleva-se, em termos de acessibilidade, o patamar da qualidade da informação ao mesmo nível do conteúdo predominante na web” (p. 539).

Além da qualidade e da diversificação de fontes, a partir dos elementos dos documentos, junto aos processos de organização e representação da informação, é possível render esforços em acervos de humanidades que possam ter dados compartilhados, favorecendo o cruzamento e a facilidade em relacionar documentos e informações.

O eixo disseminação e partilha do conhecimento é trabalhado por Rollo (2020) a partir das considerações sobre a ciência aberta. A autora se refere a ciência aberta em seu sentido amplo, ou seja, recursos digitais permitem o relacionamento e as parcerias em âmbito mundial, com o aporte das tecnologias para ampliar os debates e trocas, nas humanidades, quanto a acesso aberto, ciência aberta, ciência cidadã (Rollo, 2020). A autora explica que há aí um enorme desafio justamente quanto a preservação, curadoria dos dados, arquivos digitais, armazenamento do patrimônio digital. Isso, há muito é trabalhado, principalmente pela perspectiva da Ciência da Informação, mas, nas palavras da autora isso tudo está acentuado pela velocidade das mudanças tecnológicas, fazendo com que as áreas se dediquem a olhares contextuais, responsáveis e éticos para cumprir a tarefa de tratar dessas informações (Rollo, 2020). A compreensão da ciência aberta como forma colaborativa com a sociedade permite que as Humanidades Digitais expressem seu caráter interdisciplinar e contemple a disseminação e partilha do conhecimento em humanidades.

O eixo anterior se interliga diretamente ao compromisso com a sociedade. Esse compromisso é o cerne dos estudos em Humanidades Digitais, afinal é um campo que já nasce com a responsabilidade em melhorar as formas de apreensão do conhecimento. Assim, Rollo (2020) explica que essa é a dimensão essencial que ocupa lugar central nas Humanidades Digitais reportando-se aos processos de inovação ao longo do século XX e consequentemente à necessidade de democratização do acesso ao conhecimento, passando, portanto, pelos conceitos de responsabilidade social e pela emergência da agenda 2030, onde, de acordo com a autora, as Humanidades Digitais têm um papel fundamental no debate do desenvolvimento sustentável.

Para a presente análise, esse eixo é fundamental na percepção do compromisso de unidades de informação com o esforço de manter ao máximo seus acervos próximos à população de forma geral, permitindo o conhecimento local e relacionando esses contextos com a historicidade. Especificamente sobre os museus, onde o referido álbum se encontra:

São espaços de negociação da diferença ao seleccionarem o que é representado, o que se inclui, o que se exclui. Têm, por sua vez, a potencialidade de se afirmarem como espaços de promoção do diálogo intercultural, debatendo os temas da sociedade e a pluralidade de perspectivas, de trazerem para a arena as vozes ausentes ou negligenciadas, com a criação de ambientes construtivos e propícios à reflexão conjunta (Carvalho, 2016, p. 9).

Ou seja, o museu está a serviço da sociedade no sentido de possuir os elementos para contribuir com o diálogo e compreensão do processo histórico e as Humanidades Digitais têm plena condição de participar desse processo. O trabalho de Almeida eDamian (2015), fornece um panorama de experiências com políticas culturais na perspectiva das Humanidades Digitais em unidades de informação brasileiras e mapeiam ações em museus que demonstram a disseminação e o acesso à cultura por meio das tecnologias digitais.

O último eixo trabalhado é o de organização da informação, que se liga diretamente ao tema deste artigo. Rollo (2020) desenvolve o tema da organização da informação em toda a sua exposição se referindo ao desafio do tratamento do patrimônio digital enquanto grande volume de documentos e de informações e a necessidade de celeridade nos processos. A autora enfatiza que é de responsabilidade de arquivos e bibliotecas, ou seja, das unidades de informação, operar no sentido de contribuir com no plano científico e tecnológico, especialmente quanto a reflexão cultural e intelectual, já que são estas instituições que verão seus acervos, cada vez mais intensamente, passarem ao meio digital. A autora explica que “Deve-se salientar que essa contribuição é indispensável no plano da organização da informação, e que essa missão transcende, cresce e amplia-se para tudo o que tem a ver com a produção do conhecimento” (p. 24).

Em diversos estudos da área de Ciência da Informação o caráter imediato da relação das Humanidades Digitais com a organização da informação é ressaltado. Pimenta (2020), apresenta, a partir de um estudo com bases teóricas e epistemológicas sobre as ligações da Ciência da Informação e as Humanidades Digitais, a hipótese de que que a partir das Tecnologias de Informação e Comunicação as “fronteiras entre a CI e as HD têm se tornado mais permeáveis” (p. 2). Assim, explica que:

Se mantivermos em perspectiva a hipótese segunda deste artigo, e também que os sistemas e demais estruturas criadas ambas nas HD ou na computação social - essa discutida por Manovich - são mediadas pelas TIC, como não sugerir a você leitor que à CI lhe cabe um papel de alguma relevância em tal “receita”? Nesse ínterim é preciso frisar: o uso, a classificação, a recuperação e o acesso à informação se apresentam como condição sine qua non para quaisquer um desses campos. A CI é estrutura conectiva e de interseção entre a computação social, a qual Manovich tanto faz menção, e as Humanidade Digitais (Pimenta, 2020, p. 8).

O autor deixa clara a conectividade da Ciência da Informação com as Humanidades Digitais a partir de seus processos de organização da informação, tão necessários para definir os elementos dos recursos informacionais que serão compartilhados, trabalhados e recuperados pelos diferentes usuários. Assim, algumas questões são pontuadas sobre os elementos constitutivos do álbum fotográfico analisado.

Os profissionais da informação necessitam ter uma bagagem mínima de conhecimento, mas, mais do que isso, devem estar atentos e procurar o que nem sempre está dito de forma clara no álbum. Assim sendo, é preciso buscar os pressupostos que identifiquem o conjunto de imagens e seus elementos. Para tanto, é necessário que se estabeleçam pressupostos que permitam mais que uma leitura, ou seja, que forneçam elementos identificatórios do álbum fotográfico.

Partindo do Quadro 1 e dos elementos expostos no segundo tópico deste artigo, elencou-se, com base em estudos anteriores alguns elementos constitutivos que podem contribuir com o momento do tratamento, organização e representação das informações de álbuns fotográficos. Lembrando que este recurso, peculiar por natureza, demanda um tratamento como qualquer outro material, porém necessita de um cortejo a estas particularidades para que haja um tratamento informacional coerente. A Figura 5 condensa tal raciocínio e a postura do momento do tratamento das informações.

Fig. 5 Atributos do álbum fotográfico para fins de Organização e Representação da Informação (Santos, & Albuquerque, 2018, p. 839

Em uma perspectiva dos elementos do álbum, a figura acima demonstra claramente os aspectos que podem contribuir com a compreensão deste para que, a partir daí, elementos sejam analisados à luz da organização e representação da informação. A narrativa do álbum utiliza um conjunto de linguagens combinadas que possuem relação entre si de natureza afirmativa, com o intuito de direcionar as leituras, retirando as ambiguidades e transferindo informações ao seu leitor. O álbum se caracteriza como uma rede de interações que tem como base o imaginário das práticas cotidianas que circundam os Grupos Escolares, no caso específico. Em muitos casos, são parte da nova visão a respeito do ensino e do seu novo papel: cívico, civilizatório, patriota, higienista, entre outros, alinhando ao contexto que a escola, nesse período, deveria se enquadrar, pela perspectiva social e governamental.

Destaca-se que o físico e a coerência/integração organizacional dos suportes, a união dessas características com a parte interna e sua forma de narrativa se articulam para compor o álbum fotográfico. Dito em outras palavras, há de se pensar nas formas que a informação fora registrada no álbum, de forma interna: suas intenções, temas, discurso; e de forma externa: como se apresenta o físico, sua composição de materiais e estrutura.

A partir da análise do eixo organização da informação juntamente aos outros eixos e dos apontamentos relativos a seus atributos, percebe-se que as Humanidades Digitais podem possibilitar uma interrelação dos domínios do conhecimento contribuindo para a comunidade científica e geral. No tocante que se deve olhar com cuidado e crítica essa interrelação para que a adoção das ferramentas digitais não sejam um componente alienado e sim colaborativo entre as áreas do saber, levando em consideração os atributos dos documentos que serão disponibilizados.

Considerações

É razoável afirmar que os álbuns fotográficos trazem consigo - implícita e explicitamente - uma carga ideológica, política e emocional de seus produtores que procuram sempre transmitir as concepções e visões de mundo por meio de escolhas de materiais ou de imagens, sua disposição, entre outros elementos. Contudo, tais rudimentos nem sempre são aparentes ou de fácil visualização. Na maioria das vezes, encontram-se ocultos por meio de expedientes que não permitem identificá-lo de imediato como um álbum fotográfico. O álbum explora, em seu contexto interno e externo, recursos visuais e possui características particulares, acrescidas, por vezes, do recurso verbal.

O álbum do Grupo Escolar Bratislava exerce, no Museu Histórico de Cambé, a função de recurso informacional para uma sociedade, um grupo extenso e definido como parte de um conjunto de relações. Trata-se de uma fonte de informação indispensável no que se refere à orientação, à pesquisa e à contextualização e conhecimento da história. Sua função principal é realocada, porém a sua vocação como suporte da memória, atendendo a uma demanda informacional que se multiplica, favorece uma mudança do uso desse recurso.

Desta forma, os elementos aqui descritos servem para refletir sobre as várias possibilidades que os álbuns fotográficos, de forma geral, têm de serem organizados e representados de acordo com a instituição, com sua função e com os usuários que irão recuperar suas informações e sua história potencializados pelo advento das Humanidades Digitais.

Os eixos trabalhados no artigo, salvaguarda e preservação do patrimônio digital, educação e formação, articulação com outras áreas científicas, acessibilidade, disseminação e partilha do conhecimento, compromisso com a sociedade e organização da informação, revelam que interlocuções são possíveis e necessárias, mas que também há de se cuidar do rigor metodológico, das normas, dos princípios e das fronteiras que possibilitam a grande vantagem das tecnologias digitais, mas também a atenção aos procedimentos executados.

Em relação à organização e representação das informações nota-se que a mudança está na significativa possibilidade de acesso e compartilhamento dos documentos como fontes primárias a um espectro maior de usuários. Os preceitos de cada campo devem ser respeitados e assim respeitada a potencialidade das Humanidades Digitais exercerem sua dimensão interdisciplinar no sentido de otimizar as formas de obtenção e acesso às informações.

Os processos de Organização e Representação da Informação devem não só escolher os elementos plausíveis e que darão acesso ao item tratado, como também reconhecer suas peculiaridades e incursões que, por vezes, levam à descobertas que auxiliarão a disponibilização dessas informações e chegará ao seu fim, os usuários, de forma mais completa e coerente e assim, correlacionar seus preceitos com as Humanidades Digitais para que transversalmente o objetivo colaborativo faça parte da dinâmica científica e interdisciplinar determinantes no relacionamento social e cultural dos povos.

Neste trabalho, foi possível tecer primeiras interlocuções sobre o potencial das Humanidades Digitais no desenvolvimento de novas formas de saber, no relacionamento dos elementos contidos nos álbuns e que podem qualificar pesquisas de diferentes naturezas assim como a possibilidade do conhecimento da história de acontecimentos que, por muitas razões, ficam acobertadas pela falta de acesso e de tratamento adequado.

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Recibido: 26 de Enero de 2021; Aprobado: 06 de Febrero de 2021

*Autora para la correspondencia: albuanati@uel.br

Os autores declaram que não existe conflito de interesses.

Os autores participaram igualmente da pesquisa: conceituação, desenho metodológico, redação, análise da pesquisa, interpretação dos resultados, conclusões, recomendações, etc.

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