Introdução
Os óleos essenciais contidos nas plantas aromáticas, foram incluídos na alimentação desde o início das civilizações e muitas dessas plantas eram usadas como fontes de produtos farmacêuticos, para combater as enfermidades que assombravam o homem. Portanto, os óleos essenciais figuram entre os primeiros medicamentos utilizados pelo homem primitivo, atendendo às suas propriedades bioactivas.1 No uso de plantas aromáticas, na alimentação e na produção de odores agradáveis para a intensificação de sabores, o homem apercebeu-se dos benefícios que estas plantas traziam para a sua saúde e bem-estar.2
As sementes são portadores de diversos nutrientes; muitos dos quais estão associados à sua parte lipídica e participam em muitas funções vitais, tais como:processos de sistema reprodutivo, manutenção de membranas celulares, redução de níveis decolesterol no sangue, regulação da tensão arterial, produção de prostaglandinas, desenvolvimento do sistema nervoso e sensorial, eliminação de toxinas, parasitas e mais.Por conseguinte, as sementes jogam um papel no combate às várias enfermidades (câncros, diabetes, enfarto, incidências cardiovasculares, etc).3
Num passado muito recente, o HIV/SIDA foi conotado como doença do século. Actuamente, os câncros e doenças de natureza cardíaca ocuparam o espaço. Câncros como da prostata, mama, útero, cólon etc; tensão arterial, enfarte e outras enfermidades são muito faladas no nosso tempo e com uma taxa elevada de mortalidade na sociedadde. Existem terapias, geralmente muito agressivas, ora resultam positivamente ou negativamente em certos casos. Tem se apelado para algumas medidas de prevenção desde os hábitos e consumo, a dieta alimentar, exercício físico, etc. As causas da sua origem são diversas, apontando mais os hábitos e consumo; a dieta não equilibrada e mais.
Asociedade angolanaregista uma elevada taxa de incidências cardiovascularese câncrosno seio da sua população. O povo, na sua maioria está muito pouco informado dos factos: seja das suas causas e muito menos das medidas de prevenção contra tais. Por outro, o nosso território é dententor de uma flora muito rica de espécies vegetais nutritivas e terapêuticas, que tanto podem contribuir para contornar o quadroactual de saúde pública .A preocupação sobre uma vida saudável, gira em torno dos costumes e da dieta alimentar. Daí, à luz da ciência, procuramos apurar o que é benéfíco em diferentes sementes que entram na cozinha angolana, nomeadamente nos óleos essencias que emanam.
A inquestionável riqueza da nossa flora e a crescente procura de produtos naturais para fins medicinais e/ou alimentar datadesde os nossos antepassados, motivou o estudo sobre a estabilidade química de óleos de seis sementes de cultivo angolano, de maior aplicação na dieta alimentar e na fitoterapia tradicional e muito comuns para muitas etnias angolanas.
- gergelim (Sesamun indicum L)
- pevides de abóbora (Curcubita) e (Cucumeropsis edulis)
- pimenta preta (Piper nigrum)
- gipepe (Monodora myristica)
- missange (Xylopia aethiopica)
Todas elas são conhecidas como detentoras de valor nutritivo, terapêutco e cosmético (nutricosmecêuticos). Preventivamente podem afastar muitos maleficios à saúde humana.Dentre os constuintes dos óleos vegetais, destacam-se os conpostos fenólicos, triterpénicos e outros com propriedades antioxidante e antimicrobiana que lhes conferem o papel de conservantes e não só. Como também, apresentam alguns benefícios à saúde humana 3-5 nomeadamente:
Fortalecer o sistema nervoso; reduzir a possibilidade da formação de câncro do colo rectal, colón e outros; ajudar na diminução de dores inflamatórias; participar na elasticidade e suavisar a pêle; fortalecer os óssosprevenindo o estereoporose; coadjuvar no processo de coagulação sanguinea equilibrando o sistema cardiovascular, evitando ataques cardiácos, efartos e derrames, contribuindono controlode níveis de colesterol no sangue; facilitar a fixação de cálcio nos óssos; inibir o crescimento de caroços no organismo; participar no combate contra radicais livres que estão na base de muitas doenças como os câncros, contribuindo na regeneração das células. Também combatem contra a invasão de parasitas/microrganismos.6-9
Uma das qualidades de muitos óleos essencias é a sua estabilidade química que pode serverificadaa partir dos seus parâmetros tanto físicos como químicos. A sua interpretaçãoé entendida como possível ocorrência ou não de certas reacções químicas, nomeadamente: hidrólise, esterificação e por fim, a oxidação. Estes processos resultam na rancificação dosóleos e gordura. Existem vários métodos para o efeito, desde aanálise sensorial e deíndice de peróxidos; determinação de dienos conjugados evalor de carbonilo; análise de componentesvoláteis e outros.6,10
Os factores: tempo de armazenamento e temperatura têm sido promotores da degradação de produtos.10-12) Este trabalho tem por objectivo, avaliar a estabilidade química dos óleos extraídos em seissementes do cultivo angolano.
Material e métodos
Sementes
As sementes foram adquiridas no mercado nacional de Kwanza, sendo provenientes da zona norte do país, província do Uige, situada ao extremo Norte do país, à altitude de 883 m, latitude/longitude de 7º6’26” S/15º26’262 E. O clima é tropical, semi-húmico, temperatura anual de 22-25 ºC, chuvoso quase durante todo o ano.
Foram seleccionadas seis tipos de sementes:
gergelim (Sesamun indicum L), um pequeno arbustro da familia botânica de Pedaliaceae, a sua semente é semi-oval de cor variada (fig.1a). Uso como prato principal acompanhado com puré de mandioca, batata, banana pão, arroz , ect.
2 e 3. pevides de abóbora (Curcubita moschata) e (Cucumeropsis edulis) ambas são trepadeira e suas sementes são ovais esverdeado e branco (fig.1b e 1c) respectivamente.4 Uso como prato principal acompanhado com puré de mandioca, batata, banana pão, arroz , ect.
4. gipepe (Monodora myristica), uma árvore, sementes ovais e castanhas. (fig.1d). Uso como temperoe na fitoterapia tradicional.7
5. pimenta preta (Piper nigrum) trepadeira, as sementes são redondas de cores variadas. (fig.1e)Uso como tempero e na fitoterapia tradicional.8
6. missange (Xylopia aethiopica) as sementes são redondas mantidas no vagem de cor negra. Estabilidad química de aceites en semillas.(fig.1f). Uso como tempero e na fitoterapia tradicional.9
Extração de óleos
As sementes mais oleosas, gergelim e pevides foram submetidas a uma acção mecânica, num pilão, foma tradicional de extrair os seus óleoss (fig.2a), trata-se de uma prensa a frio resultando os respectivos óleos extra virgem e, as menos oleosas: pimenta preta, gipepe e missange foram moidas numa trituradora coffee grinder, marca EiCON, model nº EC-828 de 50 Hz, 100W. Estes últimas, foram extraidas separadamente à refluxo em hexano num Soxhlet (fig.2b) durante 150 min, resultando os respectivos óleos bruto.4 Para as três amostras: gergelim e os dois pevides, realizou-se além da extração, o processo de confeccionamento de cada material, consistindo em colocar 200 g material triturado num tacho, juntou-se água, deixando cozer por 20 min. Adicionou-se tomate madura triturada, deixou cozer mais 20 min. Por último, segue a filtração da fase líquida em funil de decantação para isolar o óleo cozido. Este processo teve por finalidade, analisar o que acontece com o óleo desses sementes com o aumento da temperatura durante o cozimento do material consumido nos pratos tradicionais (fig.2c).
Características físicas dos óleos
Os valores de pH, foram definidos com auxilio de papel indicador universal.As densidades dos óleos foram determinadas a base da razão massa/volume com auxilio de uma balança digital de marca Nahita, de 0,01 g de desvio e uma provetade 10 mL de capacidade.
A Cor e a aparênciaforam determinaas pela técnica de observação visual.
Análise espectroscopico na região IV.
Os espectros foram obtidos por ATR(Attenuated Total Reflectance) num espectrofotometro Thermo Fisher Scientific Nicolet usando Omnic 8.2 software na região entre 4 000 cm-1 à 600 cm-1 com a resolução de 4 cm-1. As intensidades em percentagem (%) deTransmitância das bandas fundamentais foram calculadas mediante o método da linha base.
Resultadose discussão
Os parâmetros físicos observados figuram na tabela1 e na figura 3.
Óleo | Cor | Aparência | Cheiro | Densidade(g/ml) | pH |
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Verde-vermelha | límpida | Característico | ~0,85 | 5 |
|
Vermelha alaranjada | límpida | --- | ~0,84 | 5 |
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Amarela | límpida | Característico | ~ 0,85 | 5 |
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Laranja | límpida | --- | ~0,81 | 5 |
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Amarela | límpida | Característico | ~ 0,85 | 5 |
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Laranja | límpida | --- | ~0,79 | 5 |
Castanha | límpida | Aroma muito intenso | ~ 0,87 | 6 | |
castanha escura | Límpida | Aroma muito intenso | ~ 0,87 | 5 | |
castanha esverdeado | Límpida | Aroma muito intenso | - | - |
Os valores das densidades obtidos são aproximados, dada a menor precisão do equipamento usado. Todavia, a imagem dos seis óleos numa proveta (fig. 3 à direita) das densidades entreos seis óleos estudados, pela sua ordem de posicionamento na proveta.
Os três óleos cozidos são menos densos que os correspondentes em estado crú. Também verificou-se uma diferença no tom das cores entre os óleos crús e os cozidos, facto que se justifica com a influência dos ingredientes adicionados durante o confeccionamento. Cada semente revelou um aroma característico, sendo os três últimos de aroma mais intenso. Todos os óleos apresentaram carácter ácido.
A posição e intensidade das diferentes bandas de absorção detectadas na região Infra-vermelha, permitiram a análise sobre o comportamento da estabilidade dos óloes em diferentes condições de variação de temperatura e tempo. A tabela 2 apresenta os principais bandas de absorção dos oleos estudados.13,14,15,16
Todos os óleos mostraram bandas de absorção na região de 3 100 - 2 800cm-1 atribuídas aos estiramentos C-H, destacando as bandas para as insaturações na região maior dos 3 000 cm-1. As bandas de 1 750-1 729 cm-1 são atribuídas aos estiramentos C=O para todos os óleos. A banda perto do 1 460 cm-1 corresponde a deformação angular dos grupos -CH3 e-CH2 ea banda de 721 é atribuida à deformação angular,balanço, do grupo -CH2.Para oóleo Piper negrum. as bandas nas regiões dos 1 600-1 450 cm-1 e 860-680 cm1, evidênciam possuir aníes aromáticos, assim, como para o óleo de Xylopia aetiopica. Este último, ainda apresenta a banda de 3 278 cm-1 que pode ser atribuida ao estiramento N-H de amina secundária com o estiramento C-N na região de 1 271 cm-1.
Verificou-se que os óleos em causa conseguem manter as suas característas espectroscópicas de posição e intensidade mesmo depois de passar pelo cozimento à temperatura de 98 ºC. Deste feito, se pode confirmar que os óleos revelaram uma estabilidade química a temperatura elevada. Da mesma forma, as bandas de absorção obtidas no intervalode um ano para cada amostra dos mesmos óleos, mantiveram os mesmos valores. Facto que confirma também a estabilidade química dos mesmos durante esse intervalo de tempo.
Oleo | Comprimento de onda em cm-1 (% Transmitância)* | Ano | |||
Crú | 3007.86 (5), 2922.19 (82), 2852.85 (61), 1750.00 (88), 1500.00 (22), 1319.00 (24), 1160.04 (38), 721.79 (38) | 2014 | |||
Crú | 2922.19 (86), 2852.73 (65), 1750.00 (87), 1500.00 (19), 1319.00 (3), 1238.14 (3), 1160.00 (30), 1099.20 (5), 721.79 (31) | 2015 | |||
Cozido | 3000.86 (6), 2922.17 (7), 2852.82 (58), 1750.00 (89), 1500.00 (20), 1319.00 (4), 1238.14 (4), 1159.93 (30), 1099.00 (6), 721 (31) | 2015 | |||
Crú | 3007.74 (7), 2921.01 (79), 2852.70 (59), 1738.57 (88), 1463.94 (22), 1377.40 (4), 1238.43 (4), 1159.59 (36), 1118.42 (3), 1097.37 (5), 721.66 (31) | 2014 | |||
Crú | 3007.74 (6), 2921.93 (83), 2852.61(62), 1738.57 (89), 1463.94 (32), 1377.40 (4), 1228.57 (3), 1159.38 (34), 1118.42 (3), 1097.37 (5), 721.66 (31) | 2015 | |||
Cozido | 3007.96 (5), 2921.06 (79), 2852.71 (58), 1742.80 (90), 1463.85 (21), 1377.27 (3), 1236.76 (3), 1236.76 (36), 1159.45 (3), 1097.48 (5), 721.63 (28) | 2015 | |||
Crú | 3008.69 (6), 2922.33 (76), 2852.89 (55), 1750.57 (87), 1442.90 (20), 1341.11 (2), 1238.43 (5), 1160.18 (19), 1100.19 (6), 721.37 (26) | 2014 | |||
Crú | 3007.96 (9), 2922.06 (77), 2852.71 (57), 1736.11 (91), 1463.85 (21), 1377.27(4), 1236.76, 1159.45 (28), 1097.48, 721.63(27) | 2015 | |||
Cozido | 3008.69 (8), 2922.26 (76), 2852.88 (56), 1728.87 (89), 1464.06 (21), 1377.32 (4), 1228.57 (3), 1159.21 (34), 1098.25 (7), 721.39 (28) | 2015 | |||
Crú | 2980.47 (46), 2957.51 (43), 2922.54 (85), 2853.31 (55), 2360.70 (4), 1743.44 (91), 1711.53 (48), 1464.08 (26), 1378.78 (24), 1241.05 (8), 1161.24 (45), 1094.44 (8), 953.08 (18), 815.24 (4), 721.76 (42) | 2015 | |||
Crú | 2920.61 (79), 2851.62 (70) , 2360.26 (6), 1732.62 (22) ,1633.37 (52), 1611.63 (42) ,1581.95 (59) , 1504.69 (7), 1490.60(40), 1445.07 (69). 1366.66 (12), 1251.29 (78), 1193.66 (20), 1152.29 (5), 1134.07 (20), 1031.32 (3), 996.46 (37), 944.50 (8), 928.80 (21), 886.71 (13), 846.69 (25), 830.36 (20), 804.43 (26), 787.01 (14), 718.71 (28), 701.32 (19), 627.98 (8), 607.85 (13) | 2015 | |||
crú | 3278.38 (14), 2980.66(63), 2926.00(93), 2851.85(54), 1723.28(95), 1701.81(97), 1461.12(45), 1377.52(43), 1271.24(67), 1164.79(51), 1137.95 (38), 1043.15(35), 964.37(27), 879.18(39), 806.53(36), 626.87(25) |
*(% Transmitância calculada mediante o método da linha base)
Conclusões
Os óleos das sementes conservados durante um ano apresentaram as mesmas bandas de absorção em infravermelho. Pelo que se conclui terem mantido os seus grupos funcionais inalterados. Os óleos de gergelim e de pevides são químicamente estáveis à temperatura de cozimento (98 ºC) e durante o periodo de um ano de armazenamento. Uma vez a estatabilidade química aqui confirmada e tendo em conta que são portadores de antioxidantes e antimicrobianos, podem ser uma alternativa para conservantes naturais. O gergelim e os dois tipos de pevides confeccionados tradicionalmente também, mantêm as suas propriedades quimicas pelo que se pode afirmar que são pratos com componetes ricamente nutritivos e saudáveis, recomenda-se o seu consumo.